CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SAÚDE!
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A seguinte matéria é de autoria dos colunistas Marcela Buscato, Ana Helena Rodrigues e Ariane Freitas, publicada em 24 de agosto de 2015 pela revista Época. Todos os direitos autorais pertencem exclusivamente à revista e a seus autores, e não devem ser copiados sem a divulgação de seus nomes.
"Especialistas como Emily temem que a pílula rosa seja encarada como uma solução milagrosa, que desestimule as mulheres a se conhecer e conversas com os parceiros. 'Essa pílula pode trazer mais malefícios do que benefícios', afirma o sexólogo brasileiro João Borzino. 'Esse medicamento não atua nas causas reais do problema, que geralmente são repressão sexual, insegurança com o próprio corpo e falta de intimidade'.
Ainda há o risco de a propaganda do medicamento criar padrões ideais - e irreais - de desejo. 'Não existe nível normal de libido, isso é uma invenção da indústria', diz a médica americana Ariane Fugh-Beman, que estuda estratégias de marketing da indústria farmacêutica na Universidade Georgetown. Existe o temor de que as campanhas de conscientização levem mulheres até então satisfeitas a questionar sua frequência sexual. 'A propaganda da indústria é feita para incitar pessoas felizes a perguntar aos médicos se elas também precisam se tratar', diz Cindy Pearson, diretora da entidade americana Rede Nacional pela Saúde da Mulher. 'As mulheres ficarão inseguras'.
O caminho tortuoso do Addyi até sua aprovação é um termômetro da polêmica que cerca a nova droga. A flibanserina, seu princípio ativo, foi testada como antidepressivo pela primeira vez em 2009 por uma das grandes da indústria, a alemã Boehringer Ingelheim. O efeito antidepressivo não apareceu no teste, mas mulheres relataram aumento de libido. A empresa pediu à FDA para aprovar a droga como tratamento para a falta de desejo, mas os resultados não convenceram a agência. O aumento no número de relações sexuais satisfatórias das mulheres que tomaram a droga em relação às que ingeriram uma substância sem ação foi mínimo. Elas tiveram 0,8 relação sexual a mais, muito pouco, segundo a FDA, para compensar possíveis efeitos colaterais. A Boehringer desistiu da droga e a vendeu ao casal Cindy e Robert Whitehead - hoje os felizes bilionários ex-donos da Sprout. A pequena empresa fez outros testes, mais uma vez recusados pela FDA, que pediu estudos adicionais.
Enquanto eles eram realizados, em 2014, surgiu um movimento de organizações de mulheres americanas, financiado pela Sprout e por outras farmacêuticas, chamado Even the Score (algo como Empate o jogo). O grupo acusava a FDA de preconceito de gênero por nunca ter aprovado uma droga para problemas femininos. Os homens, por sua vez, contavam com 26 (algumas, como o Viagra, com efeitos colaterais graves, como interação perigosa com outros remédios). Coincidência ou não, meses após o barulho, a FDA aprovou a flibanserina. 'Criou-se um precedente perigoso que sugere que uma campanha agressiva de relações públicas é parte do processo de aprovação', diz Leonore Tiefer, líder do grupo The New View Campaign, que acusa a Even the Score de mudar os critérios de aprovação de drogas, de científicos para políticos. No Brasil, a venda do Addyi precisa ser autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Não há previsão, porque a Anvisa não informa se o processo está em andamento.
O mecanismo de ação do Addyi permanece desconhecido, sua eficácia polêmica e há efeitos colaterais importantes. Ele pode provocar quedas de pressão e desmaios e não deve ser combinado com álcool. Mas também é possível olhar pelo lado cor-de-rosa da questão. A repercussão pode despertar as mulheres para conhecer a própria sexualidade. 'É uma oportunidade para desmitificar a vida sexual feminina', diz a psiquiatra Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo. 'Que elas possam ter mais prazer, com ou sem medicamentos'."
A matéria acima foi retirada da revista ÉPOCA, edição 898, págs. 74 e 75. 24 de agosto de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista ÉPOCA e a Editora Globo.
A seguinte matéria é de autoria dos colunistas Marcela Buscato, Ana Helena Rodrigues e Ariane Freitas, publicada em 24 de agosto de 2015 pela revista Época. Todos os direitos autorais pertencem exclusivamente à revista e a seus autores, e não devem ser copiados sem a divulgação de seus nomes.
"ENFIM, A PÍLULA ROSA"
"Os Estados Unidos aprovaram a primeira droga para tratar a falta de desejo sexual feminino. Por que ela pode mais atrapalhar do que ajudar as mulheres"
"Foram seis anos, duas reprovações e mais de US$ 100 milhões até que o mundo conhecesse na semana passada a primeira droga para tratar a falta de desejo sexual feminino. Na terça-feira, dia 18, a agência americana que regula medicamentos, conhecida como FDA, liberou a comercialização nos Estados Unidos do Addyi. A aprovação da droga, que já ganhou o apelido de Viagra feminino, era aguardada com ansiedade por mulheres ao redor do mundo, insatisfeitas com suas vidas sexuais e pela indústria farmacêutica, de olho no mercado bilionário. Dois dias após o anúncio, a empresa que desenvolveu a droga, americana Sprout Pharmaceuticals, foi vendida para a canadense Valeant Pharmaceuticals por US$ 1 bilhão.
A conquista da cobiçada pílula rosa - uma referência à azul, do Viagra - chama a atenção para problemas sexuais femininos que, por muito tempo, permaneceram em segundo plano na pesquisa científica. Porém, para um grupo numeroso de especialistas, ainda é cedo para comemorar. Eles acreditam que o medicamento pode trazer mais sombras do que luz à sexualidade feminina. 'Há muitos perigos em potencial', afirma o australiano Ray Moynihan, que pesquisa o uso excessivo de medicamentos na Universidade Bond. 'A droga pode ser usada em excesso e de forma desnecessária por pessoas sem nenhum distúrbio', diz Moynihan, autor do livro Sex, lies and pharmaceuticals (algo como Sexo, mentiras e outras drogas, sem edição no Brasil).
Ao solicitar a aprovação à FDA, a agência reguladora que influencia as demais ao redor do mundo, a Sprout foi específica. Isso não impede que qualquer mulher queira usar o medicamento. A droga é destinada a tratar uma condição chamada transtorno do desejo sexual hipoativo, em mulheres na pré-menopausa. Ele é caracterizado pela ausência de desejos ou fantasias sexuais, desde que isso cause sofrimento. O problema é que essa condição não existe mais. Em 2013, o termo mudou de nome no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais dos Estados Unidos, a bíblia da psiquiatria mundial. Virou desordem de desejo/ excitação. A mudança revela a dificuldade de entender a libido feminina: não é que muitas mulheres não sintam desejo. Às vezes, ele aparece depois da excitação erótica, e não o contrário, como se pensava. 'Menos de 5% das mulheres não têm desejo sexual algum', diz a americana Emily Nagoski, especialista em comportamento sexual. 'Cerca de 30% têm o chamado desejo responsivo: precisam ser excitadas antes. Mas elas e os parceiros não criam clima'."
Ainda há o risco de a propaganda do medicamento criar padrões ideais - e irreais - de desejo. 'Não existe nível normal de libido, isso é uma invenção da indústria', diz a médica americana Ariane Fugh-Beman, que estuda estratégias de marketing da indústria farmacêutica na Universidade Georgetown. Existe o temor de que as campanhas de conscientização levem mulheres até então satisfeitas a questionar sua frequência sexual. 'A propaganda da indústria é feita para incitar pessoas felizes a perguntar aos médicos se elas também precisam se tratar', diz Cindy Pearson, diretora da entidade americana Rede Nacional pela Saúde da Mulher. 'As mulheres ficarão inseguras'.
O caminho tortuoso do Addyi até sua aprovação é um termômetro da polêmica que cerca a nova droga. A flibanserina, seu princípio ativo, foi testada como antidepressivo pela primeira vez em 2009 por uma das grandes da indústria, a alemã Boehringer Ingelheim. O efeito antidepressivo não apareceu no teste, mas mulheres relataram aumento de libido. A empresa pediu à FDA para aprovar a droga como tratamento para a falta de desejo, mas os resultados não convenceram a agência. O aumento no número de relações sexuais satisfatórias das mulheres que tomaram a droga em relação às que ingeriram uma substância sem ação foi mínimo. Elas tiveram 0,8 relação sexual a mais, muito pouco, segundo a FDA, para compensar possíveis efeitos colaterais. A Boehringer desistiu da droga e a vendeu ao casal Cindy e Robert Whitehead - hoje os felizes bilionários ex-donos da Sprout. A pequena empresa fez outros testes, mais uma vez recusados pela FDA, que pediu estudos adicionais.
Enquanto eles eram realizados, em 2014, surgiu um movimento de organizações de mulheres americanas, financiado pela Sprout e por outras farmacêuticas, chamado Even the Score (algo como Empate o jogo). O grupo acusava a FDA de preconceito de gênero por nunca ter aprovado uma droga para problemas femininos. Os homens, por sua vez, contavam com 26 (algumas, como o Viagra, com efeitos colaterais graves, como interação perigosa com outros remédios). Coincidência ou não, meses após o barulho, a FDA aprovou a flibanserina. 'Criou-se um precedente perigoso que sugere que uma campanha agressiva de relações públicas é parte do processo de aprovação', diz Leonore Tiefer, líder do grupo The New View Campaign, que acusa a Even the Score de mudar os critérios de aprovação de drogas, de científicos para políticos. No Brasil, a venda do Addyi precisa ser autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Não há previsão, porque a Anvisa não informa se o processo está em andamento.
O mecanismo de ação do Addyi permanece desconhecido, sua eficácia polêmica e há efeitos colaterais importantes. Ele pode provocar quedas de pressão e desmaios e não deve ser combinado com álcool. Mas também é possível olhar pelo lado cor-de-rosa da questão. A repercussão pode despertar as mulheres para conhecer a própria sexualidade. 'É uma oportunidade para desmitificar a vida sexual feminina', diz a psiquiatra Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo. 'Que elas possam ter mais prazer, com ou sem medicamentos'."
A matéria acima foi retirada da revista ÉPOCA, edição 898, págs. 74 e 75. 24 de agosto de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista ÉPOCA e a Editora Globo.
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