RICHARD JACKSON DIZ "APENAS CORTAR BENEFÍCIOS NÃO É SUFICIENTE"

Na edição de 16 de setembro de 2015, Patrícia Valle da revista EXAME, entrevistou Richard Jackson, Estudioso de assuntos políticas econômicas, especialista em aposentadoria, além de autor de livros sobre o assunto, Richard Jackson critica as mudanças que o atual governo brasileiro fez para amenizar os custos da presidência social. Segundo ele, estas não são medidas sustentáveis a longo prazo, tendo em vista que pode resultar em 'ter uma população de idosos pobres em 20 anos'. Os ajustes efetivos e benéficos seriam primeiramente, conscientizar a população que precisa 'trabalhar por mais tempo', e assim, garantir um futuro melhor após a aposentadoria. Este, é um dos temas pertinentes não somente para o Brasil, mas também países desenvolvidos como os da Europa, que a cada ano tem sua população idosa elevando-se ainda mais, enquanto a população ativa, ou seja, que trabalha, diminui no mesmo compasso. Sendo assim, é necessário mais do que 'Apenas cortar benefícios'. A entrevista completa você acompanha a seguir. O Conhecimento Cerebral respeita qualquer tipo de opinião e por isso, não é a favor de qualquer forma de plágio. Ainda incentivamos o apoio a qualquer veículo de comunicação, desde que trabalhe e priorize a elaboração de informações úteis e verdadeiras.


Por: Patrícia Valle

"O AMERICANO RICHARD JACKSON É UM ESTUDIOSOS DOS IMPACTOS SOCIAIS e econômicos provocados pelo envelhecimento da população. É autor de livros e pesquisas sobre o tema e criou um índice que mede como os países estão se preparando para lidar com os idosos. Associado do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington. Jackson virá a São Paulo em meados de setembro para dar uma palestra sobre o assunto.
Patrícia Valle (EXAME) "O senhor elaborou um índice para avaliar se os países estão preparados para o envelhecimento da população. Qual é a situação do Brasil?"
Richard Jackson: "O Brasil tem um sistema previdenciário adequado, cujo objetivo é garantir que a maior parte da população tenha uma renda na aposentadoria. Mas ele não é sustentável, porque é improvável que o Estado consiga arcar com seus custos no futuro, os quais só tendem a aumentar. Os idosos deverão representar quase um quarto da população total do Brasil em 2050. Em 2010, o percentual estava em apenas 7%. O governo precisa fazer ajustes quanto antes."
Patrícia Valle (EXAME) "Quais ajustes seriam os mais efetivos?"
Richard Jackson: "É necessário cortar benefícios, como o governo vem fazendo, mas só isso não é suficiente. Se os cortes forem muito profundos, o país corre o risco de ter uma população de idosos pobres e, 20 anos, o que geraria um problema social."

Patrícia Valle (EXAME) "Qual é a saída? Aumentar o valor que é pago à Previdência Social?"
Richard Jackson: "Não. Os impostos no Brasil são muito altos. Uma alternativa seria construir um sistema complementar de planos de previdência, com alguma ajuda pública. O governo poderia fazer como algumas empresas fazem: colocar 1 real no plano para cada real depositado pelo contribuinte. Essa poupança ajudaria a complementar a renda da aposentadoria pública. A Suécia está nessa situação."
Patrícia Valle (EXAME) "Como fazer uma mudança como essa num país com renda bem menor do que a Suécia?"
Richard Jackson: "O governo precisa fazer campanhas para conscientizar a classe média e também a população mais pobre de que é necessário economizar para o futuro. Às vezes, isso significa trabalhar durante mais tempo."
Patrícia Valle (EXAME) "Ainda há pessoas que se aposentam com menos de 60 anos no Brasil. Faz sentido?"
Richard Jackson: "Permitir que as pessoas se aposentem com menos de 60 anos pode fazer sentido quando um país tem muitos jovens, a economia está crescendo e é preciso dar espaço aos mais novos no mercado de trabalho. Mas não é o caso do Brasil."
Patrícia Valle (EXAME) "Nos países desenvolvidos, a renda per capita já era alta quando a população começou a envelhecer - o que não é o caso de países emergentes. Que consequências isso pode ter?"
Richard Jackson: "Em vez de pensar em países, devemos pensar em pessoas: é muito mais difícil ficar rico depois de envelhecer, certo? Se a pessoa não enriqueceu enquanto jovem, deve buscar uma maneira de viver sua velhice."
Patrícia Valle (EXAME) "Ou seja, o futuro será ainda mais complicado?"
Richard Jackson: "Depende. Para os países que têm sistemas sustentáveis, ainda dá tempo de fazer mudanças. A vantagem é poder aprender com os erros e acertos das nações desenvolvidas. Como as mudanças não foram feitas, há mais flexibilidade. O futuro será difícil para os que ficarem parados."


A entrevista acima foi retirada da revista EXAME, edição 1097, ano 49, nº 17, pág. 138. 16 de setembro de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista EXAME e a Editora Abril.

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