ATUALIDADES:
VESTIBULAR E ENEM


A GRÉCIA SE DOBRA AOS CREDORES
Altamente endividado, o país aceita adotar novas medidas de austeridade para receber mais um pacote de ajuda financeira e evitar sua saída da zona do euro




Em julho de 2015, o roteiro, novamente se repetiu na Grécia. Após tensas negociações com as principais lideranças da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Grécia irá receber mais um pacote de ajuda financeira, desta vez no valor de R$86 bilhões de euros. É a terceira vez que o país precisa recorrer a um plano de resgate para poder negociar sua imensa dívida, estimada em 320 bilhões de euros - o que corresponde a 176% do seu Produto Interno Bruto. O acordo permitiu à Grécia pagar os credores e evitou uma traumática saída da Grécia da zona do euro, mas está longe de significar um ponto final na mais grave crise econômica da história do país.

CICLO VICIOSO

A eclosão da crise financeira mundial em 2008 expôs a fragilidade da economia grega. Após omitir durante anos a verdadeira situação de suas contas públicas, o governo revelou que sua dívida estava nas alturas.

Desde então, a Grécia está presa em um perverso ciclo vicioso: seu alto endividamento leva o governo a pedir empréstimos a credores internacionais para pagar suas dívidas e evitar um calote. Os credores, por sua vez, exigem como contrapartida do governo grego a adoção de medidas de austeridade com o objetivo de equilibrar as contas públicas e sinalizar que o país será capaz de honrar suas dívidas. No entanto, essas ações implicam aumento de impostos e cortes nos benefícios dos trabalhadores, o que tem elevado o desemprego e provocado recessão. Consequentemente, o país não consegue crescer, e o governo não arrecada o suficiente para diminuir o endividamento. Com isso, ele é obrigado a pedir mais empréstimos, reiniciando o ciclo.

GOVERNO DE ESQUERDA

Insatisfeita com esse desastroso rumo que a economia tomou, a população grega foi às urnas em janeiro de 2015 e colocou no poder o partido Syriza. Durante a campanha eleitoral, a legenda da esquerda radical pregou o fim das políticas de austeridade e apresentou-se como uma alternativa aos governos anteriores que seguiram a cartilha imposta pelas autoridades europeias. No discurso de posse, o primeiro-ministro Alexis Tsipras afirmou que o país "deixou a austeridade para trás" e se dispõe a negociar com os credores uma solução mais justa para o povo grego.

No entanto, o novo governo esbarrou nas fortes exigências da chamada troika - formada pela Comissão Europeia (CE), pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo FMI. Além disso, a Alemanha, principal credora da Grécia, não aceitou fazer concessões.

CALOTE E PLEBISCITO

A prova de fogo para as pretensões do governo grego veio no final de junho. O país queria que a troika liberasse a última parcela de socorro de 7,2 bilhões de euros, referentes a um acordo firmado em 2010. Esse dinheiro seria destinado à quitação de uma dívida de 1,6 bilhão de euros dos gregos com o FMI, que venceria no dia 30 de junho. No entanto, Tsipras não aceitou as exigências de mais austeridade impostas pela troika para liberar o montante, e as negociações fracassaram.



Com a iminência do calote, o governo fechou os bancos e restringiu os saques para evitar um colapso no sistema financeiro. Numa tentativa de legitimar sua decisão e ganhar força política, Tsipras convocou um plebiscito para a população decidir se o governo deveria ou não aceitar as propostas de austeridade apresentadas pelos credores internacionais. A mensagem das urnas no dia 5 de julho foi clara: 61,3% dos eleitores rejeitaram as medidas exigidas pela troika.

O NOVO ACORDO

Respaldado pelo resultado nas urnas, Tsipras voltou a se reunir com os representantes da troika para discutir um novo acordo de resgate financeiro. As negociações foram tensas. A UE permaneceu firme com suas reivindicações, temendo que uma flexibilização das políticas de austeridade pudesse abir um precedente para outras nações do bloco que também enfrentam elevado endividamento, como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda.

Por sua vez, Tsipras mostrou-se mais cauteloso. Se não chegasse a um acordo, o país não teria como refinanciar sua dívida. E a permanência na UE ficaria insustentável - o país teria de abandonar o euro e voltar a adotar a própria moeda. Esse cenário jogaria o país num período de incertezas econômicas, com previsão de inflação e desabastecimento. Sob a ameaça dessa perspectiva, Tsipras se dobrou frente às exigências da troika.

Ao final das negociações, a troika aceitou liberar um empréstimo de 86 bilhões de euros divididos em três anos e reescalonar a dívida de 320 bilhões de euros. No entanto, foi imposto aos gregos mais um duro pacote de austeridade, que inclui:

  • reforma tributária para aumentar o imposto ao consumidor e ampliar a arrecadação;
  • reforma previdenciária que incidirá em cortes de gastos nos benefícios;
  • um plano de privatização para criar um fundo de 50 bilhões de euros que será usado para pagar a dívida e capitalizar os bancos do país. Esse fundo será gerenciado pelo governo grego, mas terá ampla supervisão internacional, afetando a soberania fiscal do país.

Grande parte da população grega considerou o acordo uma traição de Tsipras e uma submissão inaceitável de credores internacionais. No dia em que o Parlamento grego aprovou o pacote de austeridade, as ruas de Atenas voltaram a se inflamar, com uma revolta popular que já se tornou comum desde 2009. As medidas precisam ser aprovadas pelos parlamentos de todos os países da UE para que o socorro seja liberado à Grécia - até meados de julho, as votações ainda não haviam sido concluídas.

A questão que se coloca agora é se o sacrifício econômico ao qual o governo grego mais uma vez se submeteu conseguirá reerguer o país. Ou se, como afirmam os críticos do acordo, reiniciará mais ciclo de recessão, desemprego e descontrole fiscal.

RESUMO

UNIÃO EUROPEIA

CRISE ECONÔMICA: A eclosão da crise financeira mundial em 2008 expôs a fragilidade da economia grega. Após omitir durante anos a verdadeira situação de suas contas públicas, o governo revelou que sua dívida estava nas alturas: atualmente chega a 320 bilhões de euros (176% do valor de seu PIB).

AUSTERIDADE: Para honrar seus compromissos com os credores internacionais, a Grécia depende de ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia (UE). Em contrapartida, as instituições exigem que o país adote medidas de austeridade para equilibrar as contas públicas, como aumentar impostos e cortar benefícios dos trabalhadores. O desemprego atual na Grécia atinge 26% da população.

NOVO ACORDO: O Syriza assumiu o poder após as eleições de janeiro prometendo pôr fim às políticas de austeridade. Mas o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras aceitou as duras condições impostas pelos credores em julho para receber um resgate de 86 bilhões de euros. A medida evitou, por ora, a saída do país da zona do euro. Mas a população sentiu-se traída pelo Syriza, que aplicou medidas de austeridade da mesma forma como os governos anteriores.

SAIU NA IMPRENSA

A CRISE DA GRÉCIA PODERÁ AFETAR O BRASIL?
Bruno Calixto

Na década de 1990 e nos anos 2000, sempre que uma crise financeira atingia um país, havia o risco muito forte dessa crise se espalhar por várias países emergentes - e chegar ao Brasil (...)
"A situação da Grécia é ruim e gera instabilidade ampla no mercado internacional, mas não acredito que atingirá especificamente o Brasil', diz o professor da FGV Oliver Stuenkel. Segundo ele, a situação de hoje é bastante diferente de quando a crise começou, em 2010. Naquele momento, houve certa histeria no mercado causada pelo medo de que a União Europeia entrasse em colapso. As autoridades da UE fizeram o possível para evitar isso - incluindo empréstimos bilionários para a Grécia e outros países atingidos, como Irlanda e Portugal. O resultado é que, hoje, a situação está mais contida. "Os investidores tiveram tempo para se preparar, se adequar a um novo cenário." (...)

SITE DA REVISTA ÉPOCA, 3/7/2015


Informações retiradas do livro ATUALIDADES: VESTIBULAR E ENEM - 2º SEMESTRE DE 2015, págs. 42 e 43. 

SUGESTÃO

Após a leitura, sugerimos que você assista a este pequeno vídeo produzido pelo SBT, que explica sobre a crise financeira da Grécia. As imagens são do You Tube e o idioma, português.



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