CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA GEOGRAFIA!

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A seguinte matéria foi escrita por Raquel Beer, publicada pela revista Veja em 21 de outubro de 2015. Portanto, todos os direitos autorais pertencem exclusivamente à autora e à revista, e não devem ser copiados sem a divulgação de seus nomes.

"A NOBRE ARTE DE FAZER MAPAS"
"Criado há 100 anos, o departamento de cartografia da National Geographic já produziu trabalhos que tiveram papel decisivo durante as duas guerras mundiais. Para continuar relevante, a aposta agora é nos recursos da era digital"


"Quando a II Guerra Mundial chegou ao fim, em 1945, os líderes vitoriosos dos Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética debruçaram-se sobre um mapa da Europa com o objetivo de redesenhá-la, a partir da derrota que haviam imposto à Alemanha nazista. Tal mapa, base para a reorganização do mundo pós-guerra, havia sido produzido pela National Geographic, cujo respeitado departamento de cartografia chega a seu centenário neste ano.
'O mapa é o maior de todos os poemas épicos. As suas linhas e cores mostram a realização de grandes sonhos', disse certa vez Gilbert H. Grosvenor, editor-fundador da revista, que circulou pela primeira vez em 1888, poucos meses depois da criação da própria National Geographic Society. Mas, apesar de sua declarada admiração pela cartografia, a publicação nem sempre produziu os seus mapas. Ao longo dos primeiros 27 anos de vida, a National Geographic divulgou trabalhos já prontos, produzidos por agências do governo. O ponto de virada ocorreu em função do primeiro conflito mundial. Antes do início da guerra, Grosvenor havia viajado para a Europa, e a tensão que já tomava conta do continente naquele ano de 1913 o deixou intrigado. De volta para os Estados Unidos, ele contratou empresas para produzir um mapa da região dos Bálcãs. As primeiras versões do trabalho, porém, não correspondem às expectativas do editor, que encomendou vários ajustes. A tortuosa experiência o fez concluir que a saída para evitar futuros transtornos era criar um departamento de cartografia dentro da National Geographic."


"Durante meses, Grosvenor guardou a sete chaves os mapas que tanta dor de cabeça haviam lhe dado, esperando o momento certo para trazê-los a público. Isso aconteceu na edição de agosto de 1914, quando o conflito que se tornaria mundial já havia eclodido. O sucesso daquele número da revista fez com que a quantidade de sócios da National Geographic Society crescesse 50% e atingisse mais de 330 000 pessoas. Com o dinheiro extra que resultou disso, o departamento de cartografia virou realidade, em 1915. No começo, era mínimo - tinha apenas um cartógrafo. Desde então, ele cresceu em tamanho (hoje são seis cartógrafos) e, pranchetas (e, mais recentemente, dos computadores da casa) já saíram 3 000 mapas para a revista, 438 mapas em forma de suplemento, dez atlas mundiais, dezenas de globos e um sem-número de trabalhos em versão digital.
Em um século de existência, algumas dessas obras fizeram história. Foi o caso, claro, do citado mapa dos Bálcãs, início da I Guerra. Outro exemplo de contribuição decisiva do departamento ocorreu na II Guerra Mundial, quando os mapas da National Geographic foram usados pelo general americano Dwight D. Eisenhower em sua ofensiva contra a Alemanha. A produção cartográfica da revista também já revelou detalhes sobre o solo dos oceanos, o que popularizou o conceito de placas tectônicas, e trouxe informações preciosas sobre a Antártica. Com a exploração espacial, os horizontes do departamento se alargaram: foi um mapa da publicação dedicado à Lua que mostrou, pela primeira vez, as duas faces do satélite natural da Terra.
Para além da exatidão - sem o que qualquer empreendimento cartográfico perde sua natureza científica -, alguns fatores ajudam a explicar a respeitabilidade e a consequente repercussão dos mapas da National Geographic. Em primeiro lugar, o feeling dos editores, que desde o início, como se viu no caso dos Bálcãs, foram capazes de se adiantar a certas futuras demandas. Também a contínua atualização dos atlas tem sido uma peça-chave para a credibilidade da cartografia da revista. Quando a União Soviética desapareceu, para citar só um caso, o departamento precisou atualizar o nome de 90% das localidades ucranianas. 'Nós mapeamos a realidade e fazemos mudanças quando elas ocorrem. E algo sempre está acontecendo', explica Juan José Valdés, cartógrafo-chefe da National Geographic. Entretanto, talvez o ponto fundamental para a fama dos mapas da publicação seja o olhar da revista para a inovação - em outras palavras, a capacidade que seu departamento de cartografia tem de desenvolver tecnologias para aprimorar o próprio trabalho. Um exemplo clássico é o do legado do primeiro diretor de cartografia da entidade, Albert H. Bumstead: ele inventou uma bússola solas, mais eficiente no Polo Norte do que o tradicional equipamento magnético, usada em um dos primeiros voos sobre a região, realizado em 1926 pelo contra-almirante Richard E. Byrd."


"A tecnologia empregada na produção dos mapas, que varia conforme as necessidades específicas de cada um, não alterou, no entanto, o valor atribuído às obras cartográficas e às suas diferentes contribuições. Prova disso foi o interesse do Google em digitalizar 500 mapas produzidos pela National Geographic. Para o futuro, a revista aposta que, com maior número de dispositivos conectados à web, será possível criar mapas mais personalizados. Além disso, a tecnologia wearable, ou vestível, como os smartwatches, viabilizará a coleta de dados de geolocalização. 'Os membros da National Geographic Society sempre admiraram os nossos mapas, seja entre as páginas da nossa revista mensal, seja em lojas ou, agora, on-line', afirma Frank Biasi, diretor de desenvolvimento digital da publicação. Hoje, 100 anos depois da criação da divisão cartográfica, os valiosos mapas da casa podem ser encontrados com um simples clique - ou, em tempos de smartphones e tablets, com um mero deslizar de dedos."


A matéria acima foi retirada da revista Veja - edição 2 448 - Ano 48 - nº 42, págs. 96 e 97. 21 de outubro de 2015. Todos os direitos autorais pertencem exclusivamente à revista Veja e a Editora Abril.


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