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VESTIBULAR E ENEM
ESTADO ISLÂMICO SE IMPÕE PELA FORÇA
Quase desconhecido há poucos meses, grupo é a organização jihadista mais poderosa e bem-sucedida da história
O mundo assiste estarrecido às ações brutais do autodenominado Estado Islâmico (EI), grupo que, em poucos meses de combates, se apossou de vastos territórios do Iraque e da Síria, instalando na região um califado. Combatido a partir de setembro de 2014 por uma coalizão de 60 países (incluindo dez nações árabes), dirigida pelos Estados Unidos, o EI tem usado de forma ampla a internet para divulgar cenas de decapitações e outras formas cruéis de execução de prisioneiros. Uma imagem chocante foi a de um piloto de avião jordaniano queimado vivo dentro de uma jaula.
Em fevereiro de 2015, o EI postou imagens da decapitação de 21 egípcios na Líbia, feita por uma milícia ligada ao grupo. A ação levou o Egito a bombardear o território líbio, matando dezenas de pessoas. Além disso, o governo italiano se propôs a liderar uma ação militar na Líbia para combater o EI. Com isso, as perspectivas são cada vez mais sombrias para as populações locais, as que mais sofrem com o conflito.
REDE AL QAEDA
O EI tem origem na Al Qaeda do Iraque, que agia contra as tropas dos EUA presentes em território iraquiano, mas separou-se dessa organização. O caos reinante no Iraque e na Síria foi um cenário propício ao desenvolvimento do grupo: enquanto no Iraque há uma sucessão de disputas políticas e conflitos sectários (entre sunitas e xiitas), a Síria vive desde 2011 um confronto entre grupos rebeldes, apoiados pelas potências ocidentais, e o regime do ditador Bashar al-Assad. Intervindo nesse cenário de desagregação social, o EI definiu seus próprios objetivos e avançou.
Os ativos do EI são estimados em 2 bilhões de dólares, obtidos por meio de doações de apoiadores sunitas, sequestros, roubos e contrabando de petróleo das regiões que domina. O contingente estimado de 31 mil guerreiros de que dispõe continua a receber novos jihadistas de todas as partes do mundo, incluindo países do Ocidente. Analistas o consideram a organização extremista islâmica mais poderosa e bem-sucedida da história, mesmo tendo sofrido recuos entre o final de 2014 e o início de 2015, quando as incursões aéreas dos países da coalizão internacional causaram danos em seus domínios.
Em fevereiro de 2015, o presidente dos EUA, Barack Obama, pediu autorização ao Congresso para aumentar a participação norte-americana na guerra ao EI, até então restrita a bombardeios aéreos e ao treinamento de tropas de outros países. Se os parlamentares aprovarem o pedido, militares dos EUA passarão a atuar, de forma limitada, em missões de combate, ações de resgate ou contra líderes do EI.
O presidente garante que não serão operações terrestres de longa duração. Essa ênfase justifica-se pela dificuldade política de aprovar uma participação ampla na guerra, depois que a população dos EUA demonstra insatisfação com a longa permanência de tropas norte-americanas no Afeganistão (2001-2004) e no Iraque (2003-2011), nos quais morreram pelo menos 6 mil soldados do país.
Os ativos do EI são estimados em 2 bilhões de dólares, obtidos por meio de doações de apoiadores sunitas, sequestros, roubos e contrabando de petróleo das regiões que domina. O contingente estimado de 31 mil guerreiros de que dispõe continua a receber novos jihadistas de todas as partes do mundo, incluindo países do Ocidente. Analistas o consideram a organização extremista islâmica mais poderosa e bem-sucedida da história, mesmo tendo sofrido recuos entre o final de 2014 e o início de 2015, quando as incursões aéreas dos países da coalizão internacional causaram danos em seus domínios.
Em fevereiro de 2015, o presidente dos EUA, Barack Obama, pediu autorização ao Congresso para aumentar a participação norte-americana na guerra ao EI, até então restrita a bombardeios aéreos e ao treinamento de tropas de outros países. Se os parlamentares aprovarem o pedido, militares dos EUA passarão a atuar, de forma limitada, em missões de combate, ações de resgate ou contra líderes do EI.
O presidente garante que não serão operações terrestres de longa duração. Essa ênfase justifica-se pela dificuldade política de aprovar uma participação ampla na guerra, depois que a população dos EUA demonstra insatisfação com a longa permanência de tropas norte-americanas no Afeganistão (2001-2004) e no Iraque (2003-2011), nos quais morreram pelo menos 6 mil soldados do país.
ASCENSÃO SURPREENDENTE
A ascensão do EI é surpreendente quando se considera que, até pouco tempo atrás, era apenas uma filial da Al Qaeda entre outras atuando na Ásia e na África. É um grupo predominantemente sunita - os sunitas são a vertente do islamismo que agrega a grande maioria dos adeptos da religião em todo o mundo, em oposição aos xiitas. Criado no Iraque em 2003 com o nome Al Qaeda no Iraque (AQI), o grupo espalhou o terror contra as forças de ocupação e os xiitas, até ser praticamente aniquilado após a morte de seu comandante, Abu Musab al-Zarqawi, em 2006. No mesmo ano, foi rebatizado como Estado Islâmico do Iraque (EII). A organização renasceu, a partir de 2010, sob um novo líder, Abu Bakr al-Baghdadi, e com o nome de Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS). Entre 2011 e 2013, quando intensificou a luta dos rebeldes contra o regime sírio, voltou a ganhar força.
Ao expandir as atividades para a Síria, em 2013, mudou seu nome para Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), também conhecido por Daesh, sua sigla em árabe. E, após dominar territórios na Síria e no Iraque, o grupo anunciou a criação de um califado na região, em junho de 2014, passando a chamar-se Estado Islâmico. Al-Baghdadi foi proclamado califa. O califado é uma referência aos antigos impérios islâmicos, que seguiam rigorosamente a sharia, a lei islâmica - dos quais o mais notório é o Império Árabe. O califa é a máxima autoridade política e religiosa.
O poder de atração do EI, principalmente a jovens islâmicos radicalizados, tem sido enorme. No final de 2014, órgãos de inteligência dos EUA estimavam que a cada mês cerca de mil novos combatentes dirigiam-se ao Iraque e à Síria, com a grande maioria juntando-se às fileiras do EI. Desde 2011, quando começou o conflito na Síria, cerca de 18 mil jihadistas estrangeiros (entre os quais 3 mil europeus e originários de países ocidentais) juntaram-se às lutas na região.
A situação atual de combate ao EI cria paradoxos, como o de colocar no mesmo campo de interesse os EUA e o Irã, que mantêm uma relação de atritos desde a Revolução Islâmica de 1979. O regime xiita do Irã, que apoia os governos da Síria e do Iraque, ajuda esses dois países a combater o EI. Nesse assunto, portanto, está ao lado dos norte-americanos, ainda que não faça parte da coalizão internacional. Isso cria dificuldades para os EUA, já que seus dois principais aliados no Oriente Médio, Arábia Saudita e Israel, são inimigos ferozes do Irã.
Fatores políticos e econômicos explicam a importância do Oriente Médio no mundo contemporâneo. O grande acontecimento que impactou a região do século XX foi a criação do Estado de Israel, em 1948. O novo país, ao ocupar o território histórico da Palestina, desalojou milhares de árabes que ali viviam e criou uma situação de disputas e conflitos com as nações árabes vizinhas que perdura até hoje.
A região abriga também as maiores reservas de petróleo e gás do planeta. Quase dois terços de todas as jazidas do mundo estão ali. As disputas pelo controle dos recursos petrolíferos estiveram na origem de muitas intervenções de potências estrangeiras, sobretudo França, Reino Unido e EUA.
É HORA DO CURDISTÃO?
Nos combates contra o Estado Islâmico (EI), destaca-se a ação dos guerreiros curdos iraquianos (chamados de peshmerga). O EI persegue os curdos e a minoria yazidi, que pratica uma religião própria. O enfrentamento direto com os jihadistas do EI tem passado em boa medida pela atuação das forças curdas, armadas pelos aliados ocidentais, que dão combate terrestre ao grupo islâmico, apoiando dessa forma bombardeios aéreos comandados pelos EUA.
Esse papel de destaque leva analistas a especularem se uma das consequências dos conflitos atuais não seria a ampliação da autonomia dos curdos no Iraque ou até mesmo a formação, num prazo ainda indefinido, de um novo país, o Curdistão, reunindo os curdos que vivem espalhados pela região.
Maior etnia sem Estado no mundo, com 26 milhões de pessoas, os curdos habitam uma área contínua que abrange territórios da Turquia, Iraque, Síria, Irã, Armênia e Azerbaidjão. O projeto de um Estado curdo ganhou força no final do século XX, sobretudo na Turquia e no Iraque, países nos quais o movimento foi violentamente reprimido.
O principal grupo separatista curdo atuante na Turquia, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), desenvolvia a luta armada contra o Estado turco, mas negocia há Saanos um acordo com o governo central. Em 2013, o partido declarou cessar-fogo.
No Iraque, em janeiro de 2014, o governo do país cortou os fundos nacionais para as províncias curdas em represália contra a decisão do governo regional curdo de exportar petróleo à revelia de Bagdá. Sem as verbas do governo federal, o território curdo mergulhou em crise econômica. Em dezembro de 2014, já sob pressão do avanço do EI, os dois chegaram a um acordo, que permite aos curdos exportar parte do petróleo e receber parte do orçamento que estava congelada.
Ao expandir as atividades para a Síria, em 2013, mudou seu nome para Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), também conhecido por Daesh, sua sigla em árabe. E, após dominar territórios na Síria e no Iraque, o grupo anunciou a criação de um califado na região, em junho de 2014, passando a chamar-se Estado Islâmico. Al-Baghdadi foi proclamado califa. O califado é uma referência aos antigos impérios islâmicos, que seguiam rigorosamente a sharia, a lei islâmica - dos quais o mais notório é o Império Árabe. O califa é a máxima autoridade política e religiosa.
O poder de atração do EI, principalmente a jovens islâmicos radicalizados, tem sido enorme. No final de 2014, órgãos de inteligência dos EUA estimavam que a cada mês cerca de mil novos combatentes dirigiam-se ao Iraque e à Síria, com a grande maioria juntando-se às fileiras do EI. Desde 2011, quando começou o conflito na Síria, cerca de 18 mil jihadistas estrangeiros (entre os quais 3 mil europeus e originários de países ocidentais) juntaram-se às lutas na região.
A situação atual de combate ao EI cria paradoxos, como o de colocar no mesmo campo de interesse os EUA e o Irã, que mantêm uma relação de atritos desde a Revolução Islâmica de 1979. O regime xiita do Irã, que apoia os governos da Síria e do Iraque, ajuda esses dois países a combater o EI. Nesse assunto, portanto, está ao lado dos norte-americanos, ainda que não faça parte da coalizão internacional. Isso cria dificuldades para os EUA, já que seus dois principais aliados no Oriente Médio, Arábia Saudita e Israel, são inimigos ferozes do Irã.
Fatores políticos e econômicos explicam a importância do Oriente Médio no mundo contemporâneo. O grande acontecimento que impactou a região do século XX foi a criação do Estado de Israel, em 1948. O novo país, ao ocupar o território histórico da Palestina, desalojou milhares de árabes que ali viviam e criou uma situação de disputas e conflitos com as nações árabes vizinhas que perdura até hoje.
A região abriga também as maiores reservas de petróleo e gás do planeta. Quase dois terços de todas as jazidas do mundo estão ali. As disputas pelo controle dos recursos petrolíferos estiveram na origem de muitas intervenções de potências estrangeiras, sobretudo França, Reino Unido e EUA.
É HORA DO CURDISTÃO?
Nos combates contra o Estado Islâmico (EI), destaca-se a ação dos guerreiros curdos iraquianos (chamados de peshmerga). O EI persegue os curdos e a minoria yazidi, que pratica uma religião própria. O enfrentamento direto com os jihadistas do EI tem passado em boa medida pela atuação das forças curdas, armadas pelos aliados ocidentais, que dão combate terrestre ao grupo islâmico, apoiando dessa forma bombardeios aéreos comandados pelos EUA.
Esse papel de destaque leva analistas a especularem se uma das consequências dos conflitos atuais não seria a ampliação da autonomia dos curdos no Iraque ou até mesmo a formação, num prazo ainda indefinido, de um novo país, o Curdistão, reunindo os curdos que vivem espalhados pela região.
Maior etnia sem Estado no mundo, com 26 milhões de pessoas, os curdos habitam uma área contínua que abrange territórios da Turquia, Iraque, Síria, Irã, Armênia e Azerbaidjão. O projeto de um Estado curdo ganhou força no final do século XX, sobretudo na Turquia e no Iraque, países nos quais o movimento foi violentamente reprimido.
O principal grupo separatista curdo atuante na Turquia, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), desenvolvia a luta armada contra o Estado turco, mas negocia há Saanos um acordo com o governo central. Em 2013, o partido declarou cessar-fogo.
No Iraque, em janeiro de 2014, o governo do país cortou os fundos nacionais para as províncias curdas em represália contra a decisão do governo regional curdo de exportar petróleo à revelia de Bagdá. Sem as verbas do governo federal, o território curdo mergulhou em crise econômica. Em dezembro de 2014, já sob pressão do avanço do EI, os dois chegaram a um acordo, que permite aos curdos exportar parte do petróleo e receber parte do orçamento que estava congelada.
EQUIPANDO O INIMIGO
Países aliados dos EUA têm sua parcela de responsabilidade no crescimento do jihadismo. As monarquias de Arábia Saudita e Catar, aliadas das potências ocidentais, financiaram e armaram grupos fundamentalistas que se opunham ao regime sírio, mas posteriormente juntaram-se ao EI. A expectativa era de uma derrubada rápida de Assad, o que não ocorreu. Isso levou a desenvolvimentos inesperados. Alguns grupos que receberam recursos foram derrotados pelo EI ou se juntaram a ele, levando consigo armas e dinheiro.
Além disso, a passagem de novos jihadistas para o Iraque e a Síria se fez em geral pelas fronteiras da Turquia, cujo governo tem sido considerado conivente com esse trânsito, ainda que em seu discurso defina-se contra o EI.
A situação não é inédita. Muitos dos inimigos dos EUA nas últimas décadas foram, inicialmente, apoiados e financiados pelos norte-americanos. Em 1980, o Iraque invadiu o Irã, iniciando uma guerra. Nesse período, o governo iraquiano, chefiado por Saddam Houssein, tinha o apoio de EUA, Israel, União Soviética (URSS), Arábia Saudita e Egito, temerosos de que a Revolução Islâmica iraniana se expandisse.
O saudita Osama bin Laden organizou um grupo fundamentalista em 1988, no Afeganistão, quando lutava ao lado dos guerrilheiros islâmicos (chamados de mujahedin) contra os soviéticos que haviam ocupado o país. Nessa época, Bin Laden e seus aliados recebiam equipamentos e recurso das potências ocidentais, incluindo os EUA. Após a Guerra do Golfo, em 1991, Bin Laden passou a ter o Ocidente como inimigo central, em especial os EUA, por repudiar o ataque externo ao Iraque. A projeção mundial veio em 11 de setembro de 2001, quando seu grupo, já conhecido pelo nome Al Qaeda, realizou os atentados terroristas contra as Torres Gêmeas e o Pentágono, nos EUA.
As raízes doutrinárias do jihadismo contemporâneo podem ser encontradas no wahabismo e no salafismo, movimentos sunitas ultraconservadores e radicais originários da Arábia Saudita. São concepções fundamentalistas, que defendem a leitura textual do Alcorão, livro sagrado do islamismo, sem procurar entender suas palavras no contexto em que foram escritas. Trata-se de uma visão intolerante, que se contrapõe não somente a outras religiões, mas até mesmo a outras vertentes do islamismo.
A responsabilidade da Arábia Saudita no desenvolvimento de grupos terroristas é admitida até mesmo em documentos oficiais norte-americanos. O ex-senador Bob Graham, ex-governador da Flórida, é autor de um relatório sobre os atentados de 11 de setembro de 2001, do qual 28 páginas são mantidas em segredo pela Casa Branca desde a época de George W. Bush. Segundo Graham, as páginas censuradas demonstrariam que o regime saudita - aliado próximo dos EUA - participou do financiamento dos ataques terroristas de 2001.
GOVERNO EI
Nas áreas que conquistou, o EI rapidamente assumiu o controle sobre bases militares, depósitos de armas, bancos, hidrelétricas, campos de petróleo e galpões de alimentos, além de instaurar um governo próprio, com ministérios, cortes islâmicas e aparato de segurança. A cobrança de taxas de impostos, junto com o contrabando de petróleo, extorsões e apropriação ilegal de fundos depositados nos bancos, garantiam ao grupo, em 2014, uma renda diária estimada em 2 milhões de dólares. Esse valor teria caído depois do início dos bombardeios, mas ainda assim representaria uma soma considerável. O EI obriga às mulheres o uso do chador (véu islâmico) e proíbe cigarros, bebida alcoólica e futebol. Estima-se que 8 milhões de pessoas vivam em áreas controladas pelo grupo.
Os ataques aéreos da coalizão têm enfraquecido parcialmente o EI. O objetivo dos EUA não parece ser o de extinguir o EI, mas contê-lo. Um esmagamento completo do grupo é considerado impossível sem uma grande intervenção em solo, que é de difícil execução, militar e politicamente.
A contradição, para o governo norte-americano, é que reduzir o campo de ação do EI levaria quase inevitavelmente um reforço do governo sírio, que os EUA e as potências europeias procuravam derrubar. Além disso, a manutenção dos bombardeios aéreos e a utilização de aviões não tripulados (drones) para atingir alvos determinados têm o efeito colateral: eles atingem muitos civis inocentes, como ocorre no Paquistão e no Iêmen, e isso alimenta a campanha dos fundamentalistas contra a invasão ocidental. A guerra, uma vez iniciada, adquire uma dinâmica que seus condutores não conseguem controlar.
INSTABILIDADE NO IRAQUE
A profunda instabilidade é a marca da situação no Iraque, submetido a uma ocupação militar entre 2003 e 2011, quando as últimas tropas norte-americanas se retiraram. O saldo da guerra é trágico: custou 1 trilhão de dólares e matou cerca de 110 mil civis iraquianos, além de 4,4 mil soldados dos EUA. O país ficou destroçado.
Nos anos seguintes à ocupação, a violência espalhou-se pela nação. Os EUA dirigiram a transição rumo à aprovação de uma Constituição e à realização de eleições. Como resultado, há tentativas de acomodação entre as várias forças étnico-religiosas do país, com resultados débeis.
A intenção geral era a de dar mais peso político aos xiitas, que compõem a maioria da população (60%) durante a ditadura sunita Saddam Housein haviam sido marginalizados. O resultado, porém, foi uma inversão da situação anterior: nos últimos anos, são os sunitas que se sentem alijados das decisões, acusando políticos xiitas de promoverem uma perseguição a eles.
O símbolo dessa política excludente por parte dos xiitas foi o ex-primeiro-ministro Nuri al-Maliki. Sua ação contra os sunitas é uma das razões que explicam a rápida progressão do EIIL (hoje EI), que capitalizou o ressentimento dos sunitas com o governo.
Os EUA condicionaram a extensão da ofensiva militar aérea no país à formação de um governo inclusivo, para ganhar de volta a confiança dos sunitas. Sob pressão, Maliki desistiu de seu terceiro mandato, o que abriu caminho para um governo liderado pelo xiita Haider al-Abadi. Embora seja do mesmo partido de Maliki (Islâmico Dawa), Abadi é considerado mais conciliador. Ele formou um governo com ministros de todas as facções políticas. Mas, independentemente disso, três anos após o fim da ocupação, a unidade territorial do Iraque está sob ameaça.
Na prática, o país se dividiu em três grandes regiões. Ao norte, existe uma ampla área sob controle do EI. No nordeste, há uma região autônoma dos curdos iraquianos, que possui seu próprio governo e seu próprio Exército, e tem dado mostras de querer ampliar sua autonomia. Em Bagdá, a capital, e no sul do país, há uma região com população predominantemente xiita, sob o controle do governo oficial iraquiano.
SÍRIA EM CRISE HUMANITÁRIA
A guerra na Síria gerou mais de 3 milhões de refugiados e está sendo considerada 'a maior crise humanitária da nossa era' pela ONU. Além dos refugiados, outros 6,5 milhões foram deslocados pelo interior do país. O total de 9,5 milhões de pessoas forçadas a sair de suas casas equivale a quase metade da população do país. Os refugiados foram principalmente para Turquia, Líbano e Jordânia.
Combates encarniçados desenvolvem-se desde 2011, quando manifestações pró-democracia, logo após os acontecimentos da Primavera Árabe, na Tunísia e no Egito, chegaram ao país e foram duramente reprimidas pelo regime do ditador Bashar al-Assad.
A reação de parte da oposição foi armar-se para tentar derrubar o governo. Assim surgiu o Exército Livre da Síria (ELS), dirigido por militantes islâmicos, que iniciou combates contra as forças de Assad, contando para isso com o apoio logístico da Turquia e com o fornecimento de armas e munições por parte do Catar e da Arábia Saudita.
De lá para cá, a situação agravou-se, assumindo o caráter de guerra civil. De um lado, estão o governo sírio e seus aliados externos, como a Rússia e o Irã, além do grupo xiita libanês Hezbollah. De outro, os rebeldes anti-Assad, na maioria sunitas, têm o apoio das principais potências ocidentais. Os duríssimos combates causaram a morte de 200 mil pessoas desde março de 2011. A destruição pelo país é generalizada.
Como reflexo da nova situação, os EUA passaram a não enfatizar mais a saída de Assad. O temor é que, com a derrubada do ditador, a situação escape ao controle e a Síria mergulhe ainda mais no caos, com disputas permanentes entre milícias e o fatiamento do território, como ocorre na Líbia. Os bombardeios aéreos norte-americanos são contra alvos do EI, poupando e Exército regular sírio.
O PAPEL DA ARÁBIA SAUDITA
Se a Primavera Árabe, com a derrubada de governos ditatoriais no Oriente Médio em 2011, trouxe esperanças de democratização na região, a Arábia Saudita rejeitou de forma taxativa qualquer mudança. O país é um dos grandes aliados dos EUA no Oriente Médio, a quem é importante fornecedor de petróleo. A monarquia saudita se opôs aos movimentos pró-democracia, vistos como ameaça à dinastia dos Sa'ud, e comandou uma 'contrarrevolução'. O país ofereceu refúgio ao ditador da Tunísia, Ben Ali, e reprovou o apoio dos EUA à derrubada de Hosni Mubarak, no Egito.
O regime saudita acaba de passar por uma sucessão, após a morte, em janeiro de 2015, do rei Abdullah ibn Abdul Aziz al Sa'ud, aos 90 anos. Ao assumir a coroa, seu irmão, Salman, de 79 anos, anunciou que seguirá a mesma política de seu antecessor. O regime é um dos mais autoritários e fechados do mundo. Seu sistema judiciário prevê, entre as penalidades, chibatadas e decapitação. A Arábia Saudita integrou, junto com outras nove nações árabes, a coalizão militar internacional contra o EI, liderada pelos EUA.
LÍBIA E IÊMEN EM DESAGREGAÇÃO
A Líbia, palco da recente decapitação de 21 egípcios pelo EI, é um exemplo de país desagregado após o fim da ditadura, sob o efeito da ação de milícias locais e da pressão de agentes externos. A nação foi comandada com mão de ferro, durante 42 anos, pelo coronel Muammar Kadafi. Em 2011, ingressou em uma nova fase, após a revolução que derrubou o ditador, em ação militar combinada das potências ocidentais com grupos locais.
A Líbia chegou a 2015 com dois Parlamentos e dois governos. O que tem reconhecimento internacional é sediado em Tobruk e aglutina particularmente os setores laicos. O outro, com sede em Trípoli, tem predominância dos islâmicos, que controlam também Banghazi. Nenhum dos lados consegue assegurar o controle sobre todo o território líbio.
No Iêmen, a onde de protestos democráticos em 2011 levou à renúncia do ditador Ali Abdullah Saleh, após 33 anos no poder. O novo governo, porém, enfrenta uma série de dificuldades: a ação de militantes xiitas vindos do norte (o movimento Houthi), que supostamente atuam sob influência do governo do Irã; a crescente atuação da Al Qaeda; e movimentos separatistas no sul do país.
Em julho de 2014, como parte de reformas econômicas, o governo do presidente Abd al-Rabbuh Mansur al-Hadi eliminou subsídios aos combustíveis, o que elevou os preços, atingindo particularmente os pobres. O movimento Houthi iniciou protestos contra a medida e reivindicou a substituição do governo, considerado corrupto e serviu a potências estrangeiras - referência à Arábia Saudita e os EUA. Em agosto, ocorreram manifestações pacíficas, que reuniram milhares de pessoas. A partir de setembro, os houthis convocaram uma campanha de desobediência civil e iniciaram uma ofensiva militar, que causou dezenas de mortes em combates contra forças leias ao governo. Em Sanaa, a capital do país, o movimento sitiou o governo, exigindo a formação imediata de um novo gabinete, composto por tecnocratas, para dirigir o país.
Em janeiro de 2015, militantes houthis atacaram a casa do presidente Hadi e o palácio presidencial. Acuado, Hadi renunciou, sendo substituído pelo presidente do Parlamento, Yahia al-Raie. Em fevereiro, o movimento Houthi deu um golpe de Estado, ao anunciar a dissolução do Parlamento e a formação de uma junta presidencial para governar o país durante dois anos.
POTÊNCIAS PRESSIONAM IRÃ A FECHAR ACORDO
O Irã ocupa lugar central no xadrez do Oriente Médio. O regime define-se desde a Revolução de 1979 como uma república islâmica, e segue a vertente xiita do islamismo. Posiciona-se frontalmente contra Israel e é aliado do regime sírio de Bashar al-Assad, exercendo também influência sobre partidos xiitas que estão no governo do Iraque. Dessa forma, busca formar um arco xiita de poder, centrado na oposição a Israel e às monarquias sunitas do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita, Barein e Catar.
Desde 2003, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e os EUA e as demais potências ocidentais tentam impedir o avanço do programa nuclear iraniano. Eles acusam o país de desenvolver a tecnologia do enriquecimento de urânio com a intenção de fabricar armas nucleares. O Irã nega.
A ONU exigia que o Irã parasse de enriquecer urânio e autorizasse o acesso irrestrito da AIEA às suas instalações. Diante da negativa do Irã, foram aprovadas quatro rodadas de sanções contra o país, entre 2006 e 2010.
Como a China e a Rússia se opuseram a novas sanções na ONU, e os EUA e a União Europeia anunciaram em 2011 o embargo ao petróleo iraniano e punições financeiras contra nações que compram petróleo do país. Foram decretadas também sanções contra o sistema bancário do Irã. O embargo levou à queixa expressiva nas exportações de petróleo iraniano, comprometendo a obtenção de divisas externas.
Em 2013, foi firmado um acordo preliminar entre as potências e o Irã, que prevê a limitação de suas iniciativas nucleares em troca da retirada de algumas sanções contra o país. Mas divergências impediram a assinatura de um acordo definitivo em 2014. Não há entendimento sobre dois pontos fundamentais: o tamanho do programa nuclear que o Irã pode ter e o tempo de vigência do acordo. Em fevereiro de 2015, o governo dos EUA anunciou que o prazo final para assinatura do acordo seria 31 de março, sem possibilidade de prorrogação.
OS PIONEIROS TUNÍSIA E EGITO
Tunísia e Egito, os dois países que iniciaram a Primavera Árabe, em 2011, atravessam situações distintas. A Tunísia é vista como caso exemplar de transição bem-sucedida, ainda que as dificuldades econômicas do país continuem sem solução. As eleições parlamentares de outubro de 2014 registraram comparecimento de 69% do eleitorado, acima do previsto. O partido que obteve mais foi o Nidá Tunísia (Chamado da Tunísia), agremiação laica heterogênea, que reúne esquerdistas, políticos e empresários vinculados ao antigo regime de Ben Ali, derrubado em 2011. O partido islâmico Ennahda (Renascença), segundo mais votado, reconheceu a derrota e propôs a formação de um governo de coalizão nacional.
Dois meses depois, na eleição presidencial, o vencedor foi o candidato do Nidá Tunísia, Beji Caid Essebsi. Ele é um dos mais antigos políticos em atividade na Tunísia. Um governo de união nacional, liderado pelo primeiro-ministro Habib Essib, tomou posse na Tunísia em fevereiro de 2015.
No Egito, diferentemente, os acontecimentos recentes mostram que a promessa de instauração de democracia não prosperou. O regime atual, dominado pelo Exército, é considerado tão ou mais autoritário do que o de Hosni Mubarak, apeado do poder em 2011. Desde a queda da monarquia, em 1952, o Exército é o eixo em torno do qual se estrutura o Estado egípcio. De outro lado, a organização islâmica Irmandade Muçulmana era a principal força de oposição ao regime de Mubarak, mesmo na ilegalidade.
A conturbada transição para a democracia levou inicialmente ao poder a Irmandade Muçulmana. Mohammed Mursi foi o primeiro islâmico a assumir a chefia de um Estado árabe pelo voto, em 2012. No entanto, foi deposto por um golpe militar um ano após a posse.
O atual presidente é o marechal Abdel Fatah al-Sisi, eleito em maio de 2014, em num pleito esvaziado, o que reforça a necessidade, para o governante, de apoiar-se no aparato militar. É uma situação semelhante à vivida pelo país antes da queda de Mubarak.
RESUMO
FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO
CHARLIE HEBDO: Um atentado contra o jornal satírico Charlie Hebdo, no qual são assassinadas 12 pessoas, recoloca a questão do terrorismo na Europa. Os dois atiradores declaram-se membros da rede terrorista Al Qaeda, enquanto um terceiro homem, que diz agir em coordenação com eles, afirma ser do Estado Islâmico (EI). Os franceses expressam solidariedade aos assassinados, em diversas manifestações de rua, e mais de 40 chefes de Estado e de governo desfilam em Paris à frente de um cortejo de 1,5 milhão de pessoas. A participação da França e de outras potências, ao lado dos EUA, em intervenções no Oriente Médio é apontada como um dos fatores que explicam a adesão de jovens a grupos jihadistas.
ESTADO ISLÂMICO: O EI, grupo surgido da Al Qaeda do Iraque, conquistou território que abrange partes do próprio Iraque e da Síria, onde instalou um califado. Ali, passou a cobrar impostos e a agir como um governo local. Os métodos brutais do grupo, como a decapitação de prisioneiros, são difundidos em imagens pela internet, o que amplia i impacto das ações. O EI é considerado a organização extremista islâmica mais poderosa e bem-sucedida da história. Uma coalizão de 60 países, liderada pelos EUA, combate o grupo.
IRAQUE E SÍRIA: O Iraque, ocupa por tropas dos EUA entre 2003 e 2011, passa por uma sucessão de disputas políticas e conflitos sectários. A Síria vive desde 2011 grande conflito entre grupos rebeldes, apoiados pelas potências ocidentais, e o regime de Bashar al-Assad, o que causou 200 mil mortes e uma crise humanitária.
ARÁBIA SAUDITA E CATAR: A Arábia Saudita e o Catar financiaram e armaram grupos fundamentalistas para lutar contra o regime sírio. Muitas dessas organizações foram derrotadas pelo EI ou se juntaram a ele. Assim, essas monarquias islâmicas ajudaram a impulsionar o crescimento dos jihadistas, que agora combatem.
Informações retiradas do livro ATUALIDADES: VESTIBULAR + ENEM - 1º Semestre de 2015, págs. 31, 32, 33, 34, 35, 36 e 37.
SUGESTÃO PARA LEITURA
O texto que você acabou de ler, é a segunda parte do texto com título inicial de A VOLTA DO TERROR, já disponível no blogger. Para melhor compreensão, sugerimos a leitura do mesmo, que poderá ser feita da ordem que desejar, sem comprometer o entendimento de ambos. Para acessá-lo, clique sobre o título acima.
SUGESTÃO
Para maior aprofundamento sobre o assunto, separamos uma série de vídeos - compostos por três vídeos de aproximadamente 20 minutos - produzido pela Globo News, que fala sobre o grupo Estado Islâmico. As imagens são do You Tube.
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