CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA TECNOLOGIA!


"AS CARETAS DO FACEBOOK"
"Ao oferecer aos seus mais de 1,5 bilhão de usuários cinco novas formas de se expressar, para além do consagrado 'Curtir', a rede social de Mark Zuckerberg tem dois objetivos: aumentar a complexidade da comunicação on-line, superando o maniqueísmo, e, evidentemente, também lucrar com isso"


Por: Felipe Vilicic 
         Raquel Beer

"Ei, estamos ouvindo esse feedback das pessoas há muito, muito tempo', disse Mark Zuckerberg a uma equipe do Facebook, a rede social fundada por ele e da qual é CEO, ao dar início, no ano passado, a uma reunião sobre a criação de ícones pelos quais os usuários poderiam transmitir emoções além do tradicional Like (o 'Curtir'). O que o bilionário de 31 anos - dono de uma fortuna de quase 50 bilhões de dólares - estava querendo enfatizar aos seus comandados era o pedido recorrente de uma opção ao deslike ('não curti'), pela qual fosse possível se posicionar diante de um post publicado por um amigo ou uma marca. O deslike não era bem-aceito, como comentado pelo próprio Zuckerberg em seu perfil na rede, porque poderia fomentar ainda mais as calorosas, por vezes radicais, discussões pela internet, estimulando a antipatia. Em acréscimo, ajudaria a evidenciar o clima maniqueísta do ambiente virtual, no qual é comum sentir que há espaço apenas para se posicionar de um lado extremo ou de outro em um debate. A solução foi procurar por um leque maior de opções. Afinal, no 'mundo real' as expressões humanas são bem mais complexas do que 'gosto' e 'não gosto'. Durante meses, uma força-tarefa composta de funcionários do Facebook e consultores, incluindo psicólogos, trabalhou na criação da nova gama de emotions - termo que define imagens, como uma careta sorrindo, geralmente usadas na comunicação virtual. O resultado, apresentado na semana passada, foi a estreia de cinco ícones, que juntaram ao já consagrado 'Curtir', na rede social (veja acima)."



"Como é de costume na indústria digital, não foi, claro, o 'achismo' que levou o Facebook a optar pelas emoções de amor (Amei), alegria (Haha), surpresa (Uau), tristeza (Triste) e raiva (Grr). Para chegar ao ícone de coração e às quatro caretas, realizou-se uma série de estudos com usuários, coordenada pelo psicólogo Dacher Keltner, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que também foi consultor do filme Divertidamente, cuja história, não por acaso, narra as peripécias de cinco personagens animados que, vivendo dentro do cérebro de uma criança, representam facetas dos sentimentos humanos. Em sua pesquisa, Keltner concluiu que haveria a necessidade de criar ao menos vinte novas caretas para que um indivíduo pudesse transmitir a multiplicidade de suas emoções por meio do Facebook.
'Só que também era importante não complicar demais uma atividade, o ato de 'curtir', que nossa comunidade realiza continuamente', ponderou Julie Zhuo, diretora da empresa. Os funcionários, então, recorreram aos dados, ao levantar informações de como seus mais de 1,5 bilhão de usuários interagem entre si. Assim descobriram os emotions mais utilizados no serviço de chat do site, as palavras frequentemente compartilhadas pelos posts, as emoções expressadas no ambiente da rede social. Após a peneira, chegou-se às cinco novas variantes, que aparecem quando se pousa o cursor do mouse (ou se pressiona o dedo no smartphone) no ícone 'Curtir'.
'Os emotions são populares por ser diretos, ao introduzirem uma imediata ligação emocional entre as pessoas', disse a VEJA o linguista Vyv Evans, autor do livro The Language Myth (O Mito da Linguagem). 'Na prática. e em certa medida, substituem a forma corporal e facial de comunicar-se no mundo real', acrescenta. Estudos evidenciam que 70% da informação transmitida durante uma conversa não é verbal. Para compreender o que o outro quer, analisamos fatores como a maneira como se movimenta e a entonação da voz. A novidade do Facebook transporta essa complexidade para o universo digital.
Mas o que o Facebook tem a ganhar com isso? Primeiro, a empresa espera aumentar o engajamento das pessoas no site. Segundo: é uma forma de se tornar mais atraente para anunciantes. 'Aprenderemos como as opções de reações podem ser avaliadas para aprimorar o trabalho de mostrar a todas as histórias que cada um quer ver', afirmou Sammi Krug, gerente de produto do Facebook. Uma companhia poderá, por exemplo, saber se clientes amaram (ou ficaram com raiva de) uma propaganda e, a partir disso, direcionar, manter ou mudar o rumo da publicidade. Portanto, a missão do Facebook com seus novos ícones tem, sim, um lado elogiável, ao conceder maior diversidade à comunicação via redes sociais. Contudo, possui, é evidente, também a sua face lucrativa. As redes sociais, claro, são, antes de tudo, um negócio."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - edição 2 467 - Ano 49 - nº 9, págs. 70 e 71. 02 de março de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


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