CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SAÚDE!
"É UMA DROGA"
"Estudos comprovam a ineficácia da chamada 'pílula do câncer'. Os senadores desdenharam da informação e aprovaram o uso do remédio. A palavra final cabe a Dilma"
"Há tempo para racionalidade no Congresso Nacional nestes dias nervosos que antecedem a votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff? Não, é o que informa a aprovação, inicialmente pela Câmara dos Deputados e, na terça-feira 22, pelo Senado, de um projeto de lei que libera o uso da fosfoetanolamina sintética, a chamada 'pílula anticâncer', para pacientes com tumores malignos. O próximo passo é submeter a decisão à sanção presidencial. Sobraram irresponsabilidade e oportunismo na votação de agora porque o aval de suas excelências coincide com a divulgação dos primeiros resultados (ruins, muito ruins) de testes de eficácia do remédio. A pílula é uma droga - e há indícios de contrafação.
Um dos trabalhos, coordenado pela Universidade Estadual de Campinas, revelou que as cápsulas continham apenas 30% de fosfoetanolamina, o princípio ativo que, supostamente, age contra o tumor interferindo na multiplicação irregular das células do câncer - e não 100%, como anunciara o criador, Gilberto Orivaldo Chierice, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos. Os outros testes, conduzidos pelo Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos, em Florianópolis, e pela Universidade Federal do Ceará, avaliaram a ação do composto em células de câncer in vitro. As análises mostraram que a fosfoetanolamina não apresentou nenhum efeito antitumoral. Diz Luiz Carlos Dias, professor titular do Instituto de Química da Unicamp: 'Os resultados iniciais não são encorajadores nem promissores. O momento político do Brasil está muito complicado, e estão tomando decisões sem consultar a comunidade científica. É um erro'. Os estudos continuam.
A fosfoetanolamina foi criada na década de 90, mas ganhou fama em outubro do ano passado, quando pacientes com os mais variados tipos de câncer e seus familiares formavam filas enormes na USP de São Carlos para receber o medicamento, de escassa produção. O interesse popular é compreensível. A pressa dos parlamentares é inadmissível."
Um dos trabalhos, coordenado pela Universidade Estadual de Campinas, revelou que as cápsulas continham apenas 30% de fosfoetanolamina, o princípio ativo que, supostamente, age contra o tumor interferindo na multiplicação irregular das células do câncer - e não 100%, como anunciara o criador, Gilberto Orivaldo Chierice, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos. Os outros testes, conduzidos pelo Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos, em Florianópolis, e pela Universidade Federal do Ceará, avaliaram a ação do composto em células de câncer in vitro. As análises mostraram que a fosfoetanolamina não apresentou nenhum efeito antitumoral. Diz Luiz Carlos Dias, professor titular do Instituto de Química da Unicamp: 'Os resultados iniciais não são encorajadores nem promissores. O momento político do Brasil está muito complicado, e estão tomando decisões sem consultar a comunidade científica. É um erro'. Os estudos continuam.
A fosfoetanolamina foi criada na década de 90, mas ganhou fama em outubro do ano passado, quando pacientes com os mais variados tipos de câncer e seus familiares formavam filas enormes na USP de São Carlos para receber o medicamento, de escassa produção. O interesse popular é compreensível. A pressa dos parlamentares é inadmissível."
Natalia Cuminale
A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2 471 - Ano 49 - nº 13, pág. 77. 30 de março de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.
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