MUNDO ESTRANHO: RETRATO FALADO
O MUNDO ESTRANHO: RETRATO FALADO, são histórias que movidas a comportamentos estranhos, despertam curiosidade sobre o fim de seus protagonistas. Por isso, o Conhecimento Cerebral traz em parceria com a revista Mundo Estranho, para que elas também despertem a sua curiosidade. Produzido por Danilo César Cabral (texto), Tom Ventre (ilustra), Júlia Filgueiras (design), e Felipe van Deursen (edição). Os direitos autorais pertencem exclusivamente aos autores e ao site da revista.
O LINGUICEIRO DA RUA DO ARVOREDO
Na Porto Alegre do século 19, José Ramos (? - 1893) e sua amante matavam por ganância e a sangue frio em uma história bizarra de 'canibalismo passivo'
1: Filho de uma índia com um soldado português combatente na Guerra dos Farrapos (1835-1845), José Ramos nasceu em Santa Catarina. Suspeita-se que ele matou o próprio pai ao defender a mãe de maus-tratos. Após o incidente, mudou-se para Porto Alegre e se tornou um policial truculento. Mesmo assim, era conhecido como cavalheiro, gentil e apreciador de teatro.
2: Em 1883, Ramos mantinha um relacionamento com a húngara Catarina Paulsen. Juntos, iniciaram uma série de crimes. Frequentavam bons locais públicos e checavam, com antecedência, quais homens ali eram ricos e poderiam ser seduzidos por Catarina. A preferência era por estrangeiros, já que Catarina não falava português. Então, ela os levava ao casarão de um cúmplice, Carl Claussner, na Rua do Arvoredo (atual Rua Coronel Fernandes Machado).
3: No casarão, Ramos matava e mutilava as vítimas e roubava seus pertences. Depois, transportava os pedaços em um carrinho até o açougue de Claussner, na Rua da Ponte (atual Rua Riachuelo). Lá, Claussner os desossava, triturava, misturava com carne bovina, sal, pimenta e especiarias e transformava em linguiças. A 'iguaria' era vendida ao público, mas o trio não comia. Ossos e outros restos eram queimados.
4: Em agosto de 1863, Claussner disse que estava infeliz em Porto Alegre e que pensava em viajar para o Uruguai. Temendo que ele abandonasse o barco, Ramos o matou e o enterrou no quintal do açougue. O casal tomou posse do casarão e da loja, e dizia a quem perguntava que haviam comprado as propriedades de Claussner.
5: Arrependida, Paulsen relatou as últimas mortes à polícia: um senhor chamado Januário, um comerciante português e auxiliar, um garoto - no quintal do açougue. Ela confessou também que Claussner foi morto. Com a morte do açougueiro, a fabricação de linguiças humanas acabou, pois o casal não tinha expertise para isso.
6: Descobriu-se que, além das três vítimas, outras seis, que também viraram linguiça, tiveram seus restos enterrados no quintal. Em 1864, após um longo julgamento, Ramos e Paulsen foram condenados. Ela, a 13 anos sob regime de trabalhos forçados. Ele, à morte.
7: Há relatos de que Ramos foi avistado livre após a condenação. Possivelmente, ele foi solto, o que era comum na época. Dom Pedro 2º, que governava o Brasil naquele tempo, abominava a pena de morte e distribuía indultos (com motivos políticos) a certos condenados.
QUE FIM LEVOU? Ramos negou os crimes até morrer doente, cego e sozinho na Santa Casa de Porto Alegre, em 1893. Paulsen saiu da prisão em 1877 e morreu 1891.
RETRATO FALADO retirado da revista MUNDO ESTRANHO - edição 183, págs. 6 e 7. Julho de 2016/ 2º edição. Todos os direitos autorais reservados exclusivamente à revista MUNDO ESTRANHO e a Editora Abril.
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