CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SOCIEDADE!


"A FAVOR DOS PRIVILÉGIOS"
"Sindicatos e servidores reagem contra a perda de regalias e protestam contra as reformas. A discreta adesão à greve parece mostrar que os brasileiros entenderam isso"


"Unidas por uma legião de interesses diversos, as centrais sindicais prometiam parar o país na sexta-feira (28) convocando uma greve geral contra as reformas econômicas. Não foi o que aconteceu. O movimento se alastrou por todas as capitais mas teve uma adesão modesta, com a paralisação de algumas categorias, a exemplo de bancários, professores e servidores públicos. Em São Paulo, especialmente de manhã cedo, os efeitos até foram maiores em razão da paralisação dos transportes. Mas, na maior parte do país, os protestos duraram ainda menos tempo. Na tentativa de evitar que as pessoas chegassem ao trabalho, os manifestantes ergueram barricadas e incineraram pneus, porém os bloqueios acabaram desfeitos pela polícia.
Em teoria, o discurso das centrais é de defesa dos direitos dos brasileiros - e isso não deixa de ser verdade, mas não é toda a verdade. Em boa medida, os protestos são uma reação à perda de privilégios de camadas de maior poder de pressão. Se a reforma trabalhista for adiante, chegará ao fim a contribuição sindical obrigatória, cuja arrecadação anual gera ao redor de 4 bilhões de reais. Tamanho dinheiro fácil incentivou a proliferação de sindicatos pelo país - já são 17 000. Se a reforma da Previdência também for adiante como o previsto, chegarão ao fim as regalias que fazem com que as aposentadorias dos servidores públicos superem (em muito) as do setor privado. Com o reforço de alguns opositores do governo, foi esse pessoal que saiu às ruas. Mas ambas as reformas, é bom que se lembre, estão sendo aplicadas praticamente pela metade, em versão suave. Só no caso da reforma da Previdência, a economia esperada já caiu à metade, com a manutenção de alguns privilégios. O que aconteceu na sexta-feira, na realidade, foi uma meia greve contra uma meia reforma."


"A julgar pelo tamanho do movimento, não será a batalha das ruas o principal obstáculo para a aprovação das mudanças propostas pelo governo de Michel Temer. Nem o anúncio, feito na própria sexta-feira, de que o desemprego chegou a um recorde histórico e já atinge 14,2 milhões de brasileiros foi suficiente para engordar a greve. O grande palco será mesmo o Congresso, no qual o Planalto vem enfrentando uma crescente resistência, como demonstrou a votação da reforma trabalhista na Câmara. O texto foi aprovado com 296 votos. Mas, para que a reforma da Previdência passe, serão necessários 308 votos (60% do total), por se tratar de emenda constitucional. Ciente do risco, o governo começou a trabalhar para punir os infiéis de sua base aliada. É provável também que a votação seja adiada em plenário por uma semana, uma maneira de realizar ajustes no texto para virar alguns votos. Afinal de contas, Michel Temer sabe que seu futuro político está atrelado a essa vitória."

A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2528 - Ano 50 - nº 18, págs. 66 e 67. 03 de maio de 2017. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


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