CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SAÚDE!


"PARA CALAR A DOR NO PEITO"
"A angina dedura um coração em sofrimento e aflige 23 milhões de pessoas no país. A boa notícia é que médicos brasileiros bolaram uma solução de ponta para silenciar sua pior versão"


Por: Regina Célia Pereira
        Ana Cossermelli [design]
        Rodrigo Damati [ilustrações]

"A origem do nome já diz tudo. 'Na expressão do latim 'angina pectoris', as duas palavras designam dor e sufoco. O termo angústia, aliás, tem o mesmo berço e era aplicado ao caminho apertado entre um desfiladeiro de montanhas', ensina o etimologista Deonísio da Silva, professor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Exceto pelo tom poético, a explicação cabe perfeitamente nos prontuários de pessoas com angina. Veja o que diz o cardiologista Luís Henrique Gowdak, do Instituto do Coração, o InCor, em São Paulo: 'O desconforto é descrito como opressão, sensação de estrangulamento na região do tórax ou ainda de peso e ardor'.
Apesar de estarmos bem distante das cordilheiras citadas pelo mestre Deonísio, perceba que o mal tem tudo a ver com passagens estreitas. No caso, é o sangue que trafega por vias afuniladas e tortuosas. Isso porque, por trás da dor no peito, há uma obstrução nas artérias que levam sangue para o coração - o mesmíssimo processo que pode culminar em um infarto. Embora menos comuns, outras situações também conspiram a favor dessa situação aflitiva, como distúrbios que afetam o trabalho das válvulas cardíacas e, por atrapalhar seu abre e fecha, boicotam o acesso do sangue à região.
O resultado é sempre dolorido: 'O incômodo desponta porque a oferta de oxigênio não supre a demanda cardiovascular', explica o médico Celso Amodeo, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. É o que os especialistas chamam de isquemia. A angina dita estável geralmente dá as caras durante esforços físicos ou estresses intensos e desaparece com a calmaria. Já o tipo classificado instável irrompe até mesmo no repouso e é considerado mais perigoso. O temor é que a interrupção do fluxo sanguíneo resulte na morte de células do coração se não for contida a tempo.
Outra versão do problema preocupa em particular por não responder aos tratamentos atuais e ser altamente limitante - chega às vezes a impedir o sujeito de dar até uma caminhada leve. É a angina refratária. Ainda bem que ela é alvo de uma intervenção pioneira em solo brasileiro. Os resultados animadores desse trabalho coordenado por Gowdak no InCor levaram sua equipe a ser destaque do Prêmio SAÚDE 2015."



"Estima-se que entre 380 mil e 1,1 milhão de brasileiros convivam com angina refratária. São pessoas que despertam no meio da noite por causa de uma sensação insuportável no peito. Além de ser incapacitante, o mal reflete as abordagens médicas tradicionais. 'É que as múltiplas obstruções dificultam a angioplastia ou a cirurgia de ponte safena', conta Gowdak. Daí a citação, no InCor, do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Angina Refratária (Nepar), onde foi desenvolvida uma estratégia de ponta para calar a encrenca - ela inclui uso de células-tronco, ondas de baixa potência e até raios laser (veja infográfico acima).
Os pacientes também são convidados a participar de um programa de exercícios físicos supervisionado. 'Com isso, observamos um aumento da tolerância ao esforço, com maior capacidade para a prática de atividade até surgir a dor', revela a educadora física Camila Jordão. Dar um chega para lá no sedentarismo, aliás, é uma medida bem-vinda para afastar todos os tipos de angina. Como não custa lembrar, a inatividade abre brechas para o coração literalmente perder o fôlego. O conselho de adotar um estilo de vida saudável é batido, mas ainda insuportável para evitar as aflições do peito. 'Também é importante controlar o estresse', destaca o cardiologista Eduardo Pesaro, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Há evidências de que a tensão constante banhe o organismo de substâncias que maltratam o músculo cardíaco."


"E o que dizer da dieta? 'A alimentação equilibrada é fundamental tanto na prevenção quanto no tratamento', afirma a nutricionista Lis Proença, do InCor. Vale apostar sobretudo em frutas, hortaliças e grãos, grandes fornecedores de fibras e antioxidantes, aliados da circulação. Realizar checkups periodicamente é outra medida para escapar de surpresas desagradáveis. Também tenha em mente que, apesar de indesejada, a angina é um aviso e tanto que o coração não vai bem. 'Se vier acompanhada de suor e náuseas, pode ser o prenúncio de um infarto', alerta o cardiologista Enilton Egito, do Hospital do Coração, na capital paulista. Na dúvida, é melhor dar ouvidos a ela e procurar ajuda médica antes que a qualidade de vida vá perambular por caminhos muito estreitos."


A matéria acima foi retirada da revista SAÚDE É VITAL - Edição 403, págs. 50, 51, 52 e 53. Maio de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista SAÚDE e à Editora Abril.


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