DOSSIÊ CÂNCER:
A PREVENÇÃO, A LUTA, A VITÓRIA
Houve um dia em que ter diabetes era uma sentença de morte - ou pelo menos de alguns membros amputados. A pressão alta, a garantia de um ataque cardíaco iminente. Ser portador de HIV, uma verdadeira arma apontada para a cabeça. Hoje, são doenças ainda graves, mas crônicas e controláveis - qualquer um pode conviver com elas e ter qualidade de vida, desde que tomados alguns cuidados.
A epidemia assustadora dos nossos tempos de vida longa e farta (inclusive de maus hábitos como fumar, beber, comer demais e não se exercitar) é o câncer e suas mais de 100 variações já identificadas. Um assunto que interessa a todos nas próximas postagens, que compreenderão um DOSSIÊ CÂNCER: A PREVENÇÃO, A LUTA, A VITÓRIA. Você lerá e verá que ter câncer não é uma loteria, mas sim uma probabilidade estatística. Esse diagnóstico vai aparecer para metade de nós nos próximos anos.
A cura definitiva da doença em qualquer estágio já foi cravada algumas vezes, e tema de notícias ou assuntos publicados neste blog. Hoje, cientistas de todo o mundo parecem convergir para uma solução menos milagrosa que um elixir mágico, e, por isso, mais plausível: manter o câncer sob controle. As últimas descobertas aplacam a fúria da multiplicação das células cancerosas e garantem uns bons anos a mais de vida, e o principal: com qualidade. Para que o câncer, muito em breve, seja a nova diabetes, metaforicamente, só nos impeça de comer alguns doces, mas não de viver.
TRATAMENTOS:
BATALHA SEM FIM - UM INIMIGO MUTANTE REQUER UMA LUTA EM VÁRIAS FRENTES. OS TRATAMENTOS MODERNOS CONTRA O CÂNCER TÊM POR OBJETIVO DOMAR COM A QUAL PRECISAREMOS CONVIVER
MAIS CRITÉRIO AO BISTURI
Tratamentos modernos se baseiam cada vez menos na cirurgia para curar tumores. Intervenções são realizadas só para completar outras terapias, e da forma mais pontual possível.
Por: Caue Fonseca
A discussão não é de hoje e nem de ontem: o câncer deve ser tratado primordialmente como um mal pontual, cujos esforços devem ser focados em uma parte do corpo, ou sistêmico, a ser investigado organismo adentro?
O cirurgia americano William Stewart Halsted, por exemplo, morreu duvidando que o câncer de mama pudesse se proliferar pelo organismo se uma mastectomia radical (a retirada total da mama e de outros tecidos adjacentes, procedimento no qual Halsted foi pioneiro) fosse realizada o mais cedo possível.
Esse ponto de vista vigorou até a década de 1990, quando ainda era comum mulheres removerem não só os seios, mas também costelas e músculos a ponto de comprometer o movimento dos braços. Halsted realizou a primeira mastectomia em 1882 e morreu em 1992, uma época que os médicos ainda operavam sob efeito da cocaína. Ou seja, por mais de 100 anos se aceitou uma cirurgia de eficácia questionável - o câncer pode, sim, ter entrado na corrente sanguínea ou linfática e se reproduzido em outros órgãos (metástases), antes da mastectomia - e que, hoje se sabe, tem efeitos semelhantes mesmo se for menos abrangente.
Embora procedimentos como a mastectomia ainda sejam comuns - o SUS realiza uma a cada 40 minutos no Brasil -, a oncologia se tornou mais criteriosa no uso do bisturi. Quando necessário, são intervenções menores e mais precisas. Alguns tumores só são removidos após forte redução por meio de quimio e radioterapias. Outros, detectados logo de início, são milimetricamente retirados antes do tratamento com quimioterápicos e radiação. A evolução dos exames de imagem também foi fundamental para manter pacientes longe de salas de cirurgia. É o caso da tomografia computadorizada em três dimensões e dos exames que escrutinam o organismo com microcâmeras. A possibilidade de reconhecer a extensão de um tumor pela tela do computador deu fim às "cirurgias de exploração", em que o paciente era aberto para que o médico vasculhasse e extirpasse o câncer a olho nu. Conforme o alcance da doença, é um procedimento fútil, que faz mais mal do que bem ao que resta de vida ao paciente.
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