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"ARIANO SUASSUNA E O BRASIL REAL"
"Fundada na cultura popular, a literatura do autor paraibano é um manifesto de saudade e um ato de resistência contra a cultura de massa estrangeira"


Por: Lucélia Borges

"Mais do que um espaço geográfico, o Nordeste brasileiro é o palco de representações 'idealizadas' das mais variadas áreas. Essa invenção do Nordeste, se não tem origem identificável, desenvolve-se com mais ímpeto a partir do século XIX e coincide-se com a introdução do Romantismo no Brasil. Mas sua consolidação dá-se no século XX, período em que ungiam as tentativas de afirmação de uma identidade nacional. Iniciada pelos escritores e poetas românticos, esse movimento ganha impulso com o advento das ideias positivistas, adaptadas aos trópicos e que contaram, entre os principais divulgadores, com Sílvio Romero, Nina Rodrigues, José Veríssimo e Euclides da Cunha. A representação do Nordeste brasileiro ampara-se em signos como seca, flagelo, indolência, miticismo, mestiçagem etc., impregnadas do pensamento positivista, destinada às elites cultas do Nordeste e do Centro-Sul, resultando em um retrato estereotipado do sujeito nordestino.
Na obra do dramaturgo, escritor e poeta paraibano Ariano Suassuna (1927-2014), essas representações, que têm origem nas ideias e caracterizações nascidas no século XIX, servirão de ponto de partida, mas, no meio do caminho, haverá um ponto de virada conceitual, na fronteira da obversão, graças aos heróis improváveis que desfilam por muitas de suas peças, que se situam no limite da farsa. A obra de Ariano rompe com os mitos da homogeneidade, embora, é sempre bom frisar, ele se afirme tributário, entre outros, de Euclides da Cunho e Sílvio Romero. Em 1930, seu pai, João Suassuna, então governador da Paraíba, foi assassinado, no turbulento período que ensejou a REVOLUÇÃO DE 30¹. Ariano tinha 3 anos apenas. A ausência da figura paterna marcou tanto sua vida e trajetória artística, que culminou na idealização do pai como herói e rei - personagem constante em sua obra. Esse evento fez com que sua mãe Rita de Cássia, justamente com os filhos, se mudasse com frequência de um lugar para outro, e os reflexos da diásporas recorrentes dos exílios estão vincados em sua produção, que inclui poesia, dramaturgia, romances e ensaios."


"É no exílio sertanejo que o repertório imagético de Ariano será formado. Ele próprio relata que na sua cidade de Taperoá, aos sete anos de idade, assiste à primeira apresentação de mamulengos e que experienciou as rodas de viola e o acesso aos poetas de cordel nas feiras populares. Em 1942, a família a viver no Recife. Ariano forma-se em Direito, na UFPE, e inicia o movimento do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP) com Hermilo Barbosa Filho, em 1946. Aos 19 anos, escreve a sua primeira peça, Uma mulher vestida de Sol, baseada no romanceiro popular nordestino, para o concurso do Teatro do Estudante, ficando em primeiro lugar. A partir de então, a dramaturgia entra de vez em sua vida, e produz intensamente até 1962, carimbando o teatro popular como meio de se pensar sobre as revelações sociais do Brasil. O modo de ver o Brasil de Suassuna trazia uma peculiaridade embasada na tradição e que transcendia o campo da arte para a extensão da identidade e cultura nacional. 'Eu pessoalmente acho que, no Brasil, só é nacional o que é popular ou aquilo que se liga ao popular', afirmou ele em entrevista à revista Princípios, em 2009."



"A narrativa de Ariano Suassuna, portanto, repercute toda a sua idealização em 'defesa do nacional', pois nela o personagem mais importante é o povo. Foi professor universitário o ocupou cargos de cultura na política. Criou o Movimento Armorial com o intuito de preservar a cultura nacional. Proferiu palestras que chamava de AULAS-ESPETÁCULOS², uma forma de transpor os muros acadêmicos e possibilitar o diálogo com o 'homem comum' sobre a estética da arte como ferramenta de transformação e/ou reflexão. Entre um caso e outro, sempre com desfechos cômicos ou jocosos, ele chama a atenção para o jogo de expansão e de domínio dos países de primeiro mundo que modernizaram suas táticas de invasão: 'Não são mais as armas bélicas as principais, eles traduzem Michael Jackson e Mandonna porque são mais baratas e eficientes, acabam por se neutralizarem sendo considerados melhores do que é produzido no nosso País'."


"AS MATRIZES IBÉRICAS DA ARTE 'NACIONAL"

"Ariano Suassuna sempre reconheceu com absoluta tranquilidade as matrizes que influenciaram e adornaram suas obras. Essas influências e 'apropriações' dão-se de duas maneiras: pela estrutura/forma - temáticas e motivos - e pela identificação/semelhança - motivos comuns (geografia, personagens, enredos etc.). Além da presença da cultura popular brasileira, que serve de mote para muitas de suas obras, ele ressalta a influência dos clássicos ibéricos e medievais, facilmente identificáveis com os romanceiros nordestinos (folhetos de cordel), que traziam personagens e motivos bem semelhantes àqueles. De Gil Vicente e Calderón de La Barca, passando por Shakespeare e Cervantes, até chegar a Garcia Lorca, percebeu-se um fio condutor em todas essas influências: a presença do popular, termo problemático à compreensão de uma identidade nacional.
  • Eu achava que havia uma afinidade, uma certa semelhança de espírito e de forma entre o romanceiro popular do Nordeste e o teatro de Calderón de La Barca. Que inclusive usa em certas estrofes, a estrofe 10ª, que os cantadores nossos usam aqui. Quando eu pretendi fazer um teatro que despertasse meu país e meu povo, naturalmente me vi diante da literatura popular, do folheto de cordel e também por aí teve um reencontro com Cervantes
(Suassuna, Ariano, in Revista Preá, Natal, RN - nº14, p.72, set/out, 2005)

O acesso à cultura livresca permitiu-lhe encontrar as referências e relacioná-las ao ambiente 'mágico' do sertão nordestino. Sertão com fortes reminiscências da cultura medieval europeia, ainda latentes. Os folhetos de cordel, com seus ciclos satíricos, picarescos, maravilhosos etc., forneceram 'o universo fantástico' para sua incursão, profundo nesse imaginário. Para Ariano, a 'identificação' dos elementos culturais entre contextos é que permite as releituras, estimulando as ambientações.
A concepção de influência, na obra de Ariano, difere daquele conceito defendido, por exemplo, por OSWALDO DE ANDRADE³, que se propõe a 'consumir e deglutir' o que vem do exterior para, em fusão com os elementos da cultura nacional, construir uma identidade brasileira, pautada na ruptura para a tradição. Para Ariano, é na tradição, que incorpora o local e elementos universais, que está assegurada a identidade cultural."



"Tradição, cultura popular e erudita são temas que pautaram as discussões do autor da Farsa da boa preguiça, que combateram o binarismo entre alto e baixo, levando a discussão a outro patamar há apenas cultura boa e cultura ruim. Essa visão de Ariano, que é recebida por alguns como radical, é possível de ser compreendida ser relacionada ao princípio dos significados e relações comuns que se perpetuaram nas diferentes culturas, povos e continentes. Os motivos comuns nos ritos, práticas e costumes são compartilhados pela humanidade por meio das culturas que se entrecruzam, como memória universal. Quando questionado sobre a 'originalidade' dos temas tratados em sua obra, Ariano recorria à universalização dos temas 'multisseculares', aqueles que são tratados na esfera do erudito (clássicos) como na Ilíada de Homero, entre outros clássicos que têm sua origem na tradição oral. O trecho abaixo, extraído de uma entrevista concedida à revista Cultura em 1967, é elucidativo.
  • É todo um cortejo da vasta humanidade que desfila livremente por aí, na força da Literatura coletiva, enquanto a nossa Literatura de salão acadêmica, acanhada, sufocada de preceitos e bom gosto, se estola, sem fôlego, no formalismo e no individualismo. Basta um pormenor para mostrar a diferença: quantas obras já deixaram de ser escritas por causa da preocupação mesquinha, orgulhosa e estéril da criação individual? O Cantador nordestino não se detém absolutamente diante dessas considerações: apropria-se tranquilamente dos filmes, peças de teatro, notícias de jornal e mesmo dos folhetos dos outros. Que importa o começo se, no final, a obra é sua? Ele, depois de tudo, acrescentou duas ou três cenas, torceu o sentido de três ou quatro outras, de modo que a obra resultante é outra. Não é assim que procediam Moltère, Shakespeare, Homero e Cervantes?
"JOÃO GRILO, DA ORIGEM EUROPEIA AO ABRASILEIRAMENTO NORDESTINO"


"A peça cômica Auto da Compadecida, escrita em 1955, traz como protagonista João Grilo, um espertalhão por natureza e necessidade, oriundo dos contos tradicionais de Portugal. Converteu-se no amarelinho dos contos populares, em primeiro lugar, dos folhetos de cordel e, por fim, da peça mais divulgada de Ariano. O escritor, professor e pesquisador Marco Haurélio, em nota introdutória ao folheto de cordel escrito pelo poeta piauense Pedro Monteiro, João Grilo, um presepeiro no palácio, publicado na Antologia do cordel brasileiro (2011), rastreia a presença de pícaro, sob o nome Dr. Grillo, em um texto popular italiano do século XVI:
  • Personagem encontradiço nos contos populares portugueses, nas coleções de Consiglieri Pedroso (História do João Grilo) e Teófilo Braga (João Ratão ou Grilo), a menção mais antiga que conheço é da introdução do Pentamerone, de Glambattista Basile (1634-36). Basile nos falta de passagem de certo Maestro Grillo, protagonista de uma obra cômica. Opera nuova piacevole da ridere de um villano lauratore nomato Grillo, quale volse douentar medico, in rima istoriata (Veneza, 1519).
João Grilo, o amarelinho que traz muitas características de outro 'bobos fingidos', também nos remete ao Arlequim, personagem da COM MEDIA DELL'ARTE4, italiana que figura em muitas das representações do Bumba meu boi sob a corruptela Arrelequin. Contudo, é no cordel As proezas de João Grilo, do poeta pernambucano João Ferreira de Lima, que Ariano foi este pícaro tão nordestino e brasileiro. Assim, personificado na figura do 'idiota fingido', João cumpre ao mesmo tempo o papel de herói e anti-herói. No primeiro caso, representa a classe dos menos favorecidos socialmente, mas que com sua esperteza e astúcia encontram as saídas e promovem a 'justiça'; no segundo, porque contrapõe o modelo estético estabelecido de herói, com sua aparência desagradável, atarracado, amarelo etc., características reforçadas pela descrição da personagem feita por João Ferreira de Lima:
João Grilo foi um cristão
Que quase nasceu antes do dia, 
Criou-se sem formosura
Mas tinha sabedoria. 
E morreu depois da hora 
Pelas artes que fazia.



"A peça Auto da Compadecida, apesar de trazer o personagem João Grilo, estruturada, também segundo Marco Haurélio, a partir de três folhetos distintos: O cavalo que defecava dinheiro, O Dinheiro (O Testamento do Cachorro), ambos de Leandro Gomes Barros, e O castigo da soberba, de Silvino Pirauá de Lima, publicado na obra Violeiros do Norte pelo folclorista cearense Leonardo Mota. A crítica à corrupção do Clero, realçada na peça, está presente na obra original de Leandro, O Testamento do Cachorro. Na peça, João Grilo e seu amigo Chicó, o mentiroso típico dos contos folclóricos, sobrevivem no sertão, no tempo dos coronéis e cangaceiros.
O julgamento celeste, que predomina na terceira parte da peça, reminiscência dos autos religiosos encenados desde os primeiros anos da colonização portuguesa, serve para reafirmar algumas posições do autor, que nos apresenta um Jesus negro e, em dado momento, ante o espanto de João Grilo, faz o Salvador, que se posta como juiz das almas, responder, com naturalidade, que, para ele, tanto fazia ser preto ou branco, pois não era 'americano para ter preconceito de raça'. Esta fala polêmica resume o posicionamento do autor diante da dominação cultural imposta pelos Estados Unidos, especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, tema constante em suas aulas-espetáculos. O diabo, que é chamado de Encourado na peça, é um reflexo da sociedade patriarcal, da qual Ariano é acusado injustamente ser porta-voz. A sua fala, voltada à Virgem - 'Não tem jeito não. Home que mulher governa _' - foi inspirada em uma estrofe do cordel O Castigo da Soberba:
Vamos todos nós embora
Que o causo não é o primeiro, 
E o pior é que também
Não será o derradeiro_.
Home que a mulher domina 
Não pode ser justiceiro.


O Auto foi levado ao cinema em três oportunidades: A Compadecida, de 1969, dirigido por George Jonas, que assinava o roteiro com Ariano, teve Armando Bógus e Antônio Fagundes nos papéis principais. Com direção de Roberto Farias, Os Trapalhões do Auto da Compadecida, de 1987, trouxe Renato Aragão e Dedé Santana encarnando João Grilo e Chicó, Zacarias como o padeiro e Mussum, obviamente como Jesus negro. Foi, no entanto, a bem-sucedida película de Guel Arraes, roteirizada por Adriana Falcão e João Falcão, que se tornou parte da retomada do cinema brasileiro. Exibida inicialmente como minissérie, pela TV Globo, em 1999, e depois no cinema em versão reduzida, alcançou melhores resultados que as versões anteriores, em termos artísticos e nas bilheterias. Matheus Nachtergaele (João Grilo) e Selton Mello (Chicó) estavam em seus melhores papéis no cinema, e Fernanda Montenegro, como a Compadecida, permanecem vivos no imaginário de muita gente, quase duas décadas depois."



"Houve três outras adaptações para a TV Globo, assinadas por Luiz Fernando Carvalho: os média-metragens Uma mulher vestida de sol (1994) e A farsa da boa preguiça (1995), com o multiartista Antonio Nóbrega, exibidas no programa Brava Gente, e a minissérie A Pedra do Reino, baseada no Romance da Pedra do Reino, com roteiro de Braulio Tavares, Luís Alberto de Abreu e do próprio Luiz Fernando."




"O LUGAR DO DISCURSO DE ARIANO SUASSUNA"

"A partir do mote de sua autoria 'Eu não troco o meu oxente pelo ok de ninguém', Ariano traz reflexões sobre a importância de se reconhecer herdeiro de uma cultura que se basta por si mesma, que não precisa ser legitimada por nenhuma fusão ou diálogo com o imperialismo cultural. Em sua definição de país, Ariano sempre recorria à ideia de Machado de Assis, de que há dois Brasis. O Brasil real e o oficial: 'O primeiro pertence aos privilégios e o segundo ao povo' - mas ia bem além, e exemplificava, fornecendo os elementos na composição desses universos. 'O Brasil real é bom e revela os melhores instintos, mas o oficial é caricato e grotesco [...] dominado pela elite, o mercado e o consumo'.
Apesar de se reconhecer oriundo do Brasil oficial, afirma que, por pertença ou sensibilidade, buscava ser um 'porta-voz' do Brasil real:

  • [...] o Brasil real é o Brasil do povo: Nossa tarefa é a de acabar com essa cisão, e eu parto desse princípio ao estudar a formação da sociedade brasileira. No entanto, do ponto de vista itinerário eu não me considero da linhagem de Machado. Existem a meu ver duas grandes linhagens na literatura brasileira: e de Machado de Assis e a de Euclides Cunha. Eu sou da de Euclides da Cunha. Apesar disso admiro Machado de Assis, mas não tanto quanto admiro a... Guimarães Rosa eu admiro demais. Mais é claro: Guimarães Rosa é a de linhagens de Euclides, não é? Essa é a linhagem à qual procuro me filiar. [...]
(Revista Princípios, 2009)

Ariano sempre recorria a essa definição deixando claro o seu posicionamento na defesa do fortalecimento da cultura nacional. Suas ideias, contrárias às expansões neocolonial do imperialismo norte-americano, ganham consistência quando é possível identificar 'o lugar' em que operam as ideologias desse neocolonialismo.
O embate de Ariano dá-se no âmbito de uma ruptura com as ideias estabelecidas e consensuais que justificam os interesses do mundo globalizado e do multiculturalismo, que não passam de desculpas para salvaguardar seus domínios e defender os interesses da sociedade de consumo. A sua crítica aos modelos de massificação de impostos pela indústria cultural, pautada no consumo e descaracterização das culturas locais, renderam-lhe críticas, a ponto de ser chamado de 'anacrônico' e 'radical'. Ariano combatia a mass media e chamava a atenção para a descaracterização de alguns movimentos tidos como de vanguarda, como o tropicalismo, sobre o qual nunca escondeu suas ressalvas, e o manguebeat pernambucano, apesar da relação cordial que manteve com o mentor desse movimento, CHICO SCIENCE5."


"Paradoxalmente, seu pensamento fundamenta-se na defesa da monarquia, mas de uma monarquia idealizada, mística. O arquítico do rei morto que retorna para redimir e salvar o povo, além de ser uma ideia compartilhada no imaginário brasileiro, ajudava-o a conviver com a ausência do pai, transfigurado em rei em um de seus mais belos sonetos:
Aqui morava um rei quando eu menino
Vestia ouro e castanho no gibão.
Pedra da sorte sobre meu Destino, 
Pulsava junto ao meu, seu coração.

Para mim, o seu cantar era Divino. 
Quando ao som da viola e do bordão, 
Cantava com voz rouca, o Destino,
O Sangue, o riso e as mortes do Sertão.

Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem um guia 
Que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua efigie me queima. Eu sou a presa. 
Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa
Espada de ouro em pasto ensanguentado.

Como assinala o historiador, antropólogo, advogado e jornalista brasileiro Luís Câmara Cascudo, 'a crença no regresso de figura imortal para conduzir seu povo à glória mais alta é comum em quase todos os povos'. Portanto, tal crença, herdada de Portugal, é anterior à existência do Rei Dom Sebastião, cuja morte em Alcácer-Quibir causou uma crise sem precedentes na monarquia lusa, que caiu sob o domínio espanhol. No Brasil, a ocorrência do SEBASTIANISMO6 culmina no triste episódio dos fanáticos da Pedra Bonita de Vila Bela, Pernambuco, em 1836, que inspirará o Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), a mais ousada incursão de Ariano pelo campo da ficção, e Pedra Bonita (1938), de José Lins do Rego. Ao ser interpelado sobre sua identificação com a monarquia, Ariano foi enfático:
  • A minha simpatia pelo regime monárquico começou muito cedo na infância, através da influência do meu tio. Joaquim Duarte Dantas, monarquista e católico. Ele lia para mim trechos e mais trechos de um livro português escrito por um certo Antero de Figueredo, que hoje está meio fora de moda, mas a quem ele admirava muito. E o livro de Antero era sobre d. Sebastião. Um dos motivos que me levaram para a monarquia era o motivo estético. A monarquia é mais bonita do que a república. Plasticamente, pelo ritual, pela liturgia, por tudo. Então, eu sou um escritor e um artista e eu tenho uma natural atração pela beleza, pelas coisas bonitas. Agora, por outro lado, a própria visão do povo brasileiro é uma visão mais monárquica do que republicana. 
(Folha de S. Paulo, out, 1991)




"Assim, não nos causa espanto ver um monarquista convicto arvorar-se em Quixote para, de lança em riste, projetar-se contra os moinhos de vento do império norte-americano. O seu escudo sempre foi a cultura popular, razão de ser de sua obra e de sua concepção de país.
A sua morte, chorada de norte a sul do Brasil, não apagou o seu brilho nem silenciou sua voz 'rouca, fraca e feia', como ele costumava dizer, cultivando o saudável hábito de rir de si mesmo. E, por incrível que pareça, é por meio da internet, um produto da cultura de massa, que muitos travam o primeiro contato com sua obra. Contradição? Pode ser. Mas pode ser também uma esperteza de João Grilo ou um truque de Quaderma. E, para alegria de muitos admiradores, ele, ou melhor, a sua obra ressurge constantemente, como no premiado espetáculo teatral O Auto do Reino do Sol, concebido por Braulio Tavares."


A matéria acima foi retirada da revista CONHECIMENTO PRÁTICO LITERATURA - Ed. 77, págs. 27, 28, 29, 30, 31, 32 e 33. ARIANO SUASSUNA. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista CONHECIMENTO PRÁTICO LITERATURA e à Editora Escala.


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