CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA MUNDO ANIMAL!
"A NATUREZA ENCOLHE"
"O planeta já perdeu mais da metade de suas espécies animais, devido à mudança climática e à exploração de recursos naturais, que reduzem habitats e degradam o meio ambiente. Ações de contenção têm surtido efeito, mas ainda aquém da urgência necessária"
Por: Ana Carolina Nunes
"Ao longo da evolução da vida em nosso planeta, muitas espécies animais foram extintas, numa conta que pode ser atribuída à natureza - por exemplo, a partir de aquecimentos globais, glaciais, alterações ambientais abruptas causadas por inundações ou grandes erupções vulcânicas. Outro processo do gênero está em curso atualmente, mas agora com características diferentes, a população de certas espécies está encolhendo em velocidade muito maior que a natural e animais bem conhecidos figuram na lista, como elefantes, girafas e abelhas.
O mais amplo e recente alarme foi dado pela organização World Wildlife Fund (WWF) e a Zoological Society of London (ZSL), em um relatório no qual indicam que mudanças climáticas, atividades agropecuárias e de extração de recursos naturais e a caça ilegal estão dizimando populações de mamíferos, pássaros, peixes, anfíbios e répteis. De acordo com o documento, a população desses animais sofreu uma baixa de 58% desde os anos 1970. A média de redução anual entre os animais, de 2% ao ano, tende a se manter ou a piorar. Nesse ritmo, as perdas podem chegar a 67% até 2020."
"A mais recente inclusão na categoria de espécies em perigo é o guepardo (chita), o mamífero mais rápido do mundo. A World Conservation Society (WCS) e a ZSL calculam que restam pouco mais de 7 mil indivíduos na natureza, ocupando hoje somente 9% do seu território original nas savanas da África. Apenas no Zimbábue, a queda registrada no número de guepardos é de 85% num período de 10 anos.
As girafas seguem o mesmo caminho, tendo perdido 40% da sua população nos últimos 30 anos. Rinocerontes e elefantes também estão em situação bastante vulnerável e suas populações vão minguando em território africano, encurraladas pela redução progressiva de seu habitat natural. Além disso, eles são vítimas da caça ilegal. Os caçadores abatem os gigantes africanos de olho em seus chifres de marfim, que, de acordo com a medicina oriental, teriam poderes curativos. O abate de elefantes chegou à escala absurda de cem por dia durante o período mais crítico (entre 2010 e 2011), e o de rinocerontes registrou um salto de 9.000% entre 2007 e 2014, de acordo com o relatório do WWF."
"BIOMAS SOB RISCO"
"No Brasil, a Mata Atlântica foi o primeiro bioma a sofrer os efeitos da urbanização e do descaso ambiental, e a redução de sua área (hoje equivalente a 7% do original) foi um grande golpe na preservação de espécies como o mico-leão-dourado. Mariana Napolitano, diretora da WWF Brasil, chama a atenção também para outros dois biomas sob risco, o Cerrado e a Caatinga."
"Em relação aos seres aquáticos, as ameaças também são um constante, a começar pela pesca. Não só aquela ilegal e desordenada, mas também a chamada pesca fantasma, quando pescadores abandonam suas redes que, à deriva, continuam capturando animais, os quais acabam por morrer. A lista inclui ainda a poluição das águas com rejeitos industriais químicos e outros efeitos da mudança climática, como o aquecimento dos mares, fato que turbina o processo de dizimação de diferentes espécies que lá vivem, como os corais."
"Saber o tamanho do problema é o primeiro passo para começar a resolvê-lo. Um dos termômetros consagrados para isso é a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, elaborada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A ferramenta cataloga espécies e a monitora com bases em indicadores científicos."
"Até hoje, a IUCN tem cerca de 80 mil espécies identificadas e catalogadas, número que projeta dobrar até 2020. Ainda assim, a lista não representa 10% das espécies que existem no planeta. E, das 80 mil avaliadas, 24 mil enfrentam algum grau de ameaça. 'Os dados da IUCN são muito pequenos ainda perto do universo que temos; por isso, pode estar havendo extinções que nem conhecemos', diz Carlos Duringan, diretor do WCS no Brasil e membro do grupo de pesquisadores do IUCN. 'O desaparecimento de espécies é um indicador de que estamos degradando o ambiente e, com o tempo, isso vai chegar até o homem. Não é algo simples, estamos falando da conservação de vida no planeta', alerta ele."
"PREJUÍZOS EM SÉRIE"
"Crises ambientais certamente geram crises econômicas. A situação dos polinizadores, especialmente as abelhas, é um bom exemplo. Eles não têm vez com a escalada produção agrícola e o uso indiscriminado de agrotóxicos. Com a queda de população polinizadora, os setores agrícola, alimentício, cosmético e medicinal são prejudicados. Estima-se que as abelhas respondam por dois terços do que consumimos e ajudem a gerar, só em nosso país, uma riqueza equivalente a US$ 12 bilhões.
O Ministério do Meio Ambiente do Brasil lançou no ano passado o livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, contendo um novo levantamento das espécies ameaçadas, com mais de 12 mil espécies analisadas - um dos maiores esforços globais de avaliação. A partir da metodologia da IUCN, detectou-se que 1.173 espécies estão sob ameaça em território brasileiro."
"Nosso conhecimento melhorou muito no Brasil nos últimos 10 a 15 anos', diz Mariana. 'Essa última avaliação mostra uma evolução e uma seriedade em relação a esse processo. Quando a gente fala que uma espécie está ameaçada, tem que ter certeza do que está falando, e esse processo melhorou muito'.
Uma das medidas mais eficazes para conter a perda de habitat natural (uma das grandes responsáveis pela perda de espécies) é a criação ou aumento de áreas de proteção. As lutas do WCS incluem derrubar o conceito de que áreas protegidas atrapalham o desenvolvimento (como alegam alguns setores da sociedade) e concentrar-se em mostrar que hoje essa agenda não está à margem do desenvolvimento econômico. Os trabalhos desenvolvidos com pandas, por exemplo (ver quadro mais acima), mostram que áreas protegidas é uma luta que vale a pena enfrentar.
Duringan ressalta que as áreas para conservação não são isentas de uso. Elas possuem graus de utilização e, de forma planejada, é possível desenvolver atividades econômicas em paralelo."
"ZOOLÓGICOS DO BEM"
"A atuação de cativeiros e de zoológicos comprometidos com pesquisa e conservação de espécie é outra frente de atuação com resultados animadores, de acordo com o WCS e a ZSL. Centros de conservação e estudo de espécies demandam investimento e trabalho monitorado no cativeiro, com esforços para a reabilitação e reintrodução das espécies no meio ambiente.
'Hoje, é patente o trabalho de zoológicos e aquários no mundo', afirma Duringan, ressaltando que existem zoológicos lidando com espécies que não têm mais seu habitat. Os orangotangos são o principal caso, pois tiveram uma perda drástica de habitat e praticamente todas as ações de conservação realizadas hoje acontecem em cativeiro."
"Os zoológicos também possuem apoios específicos para cada espécie e participam de programas globais de conservação dos habitats em 40 países nos cinco continentes. Além disso, trabalham na captação de recursos financeiros e em campanhas de sensibilização."
"Para celebrar essas conquistas, a Zoological Society of London promoveu em abriu um seminário dedicado ao otimismo com que conservacionistas querem tratar o tema, o Conservation Optimism Summit. A entidade acredita que as notícias negativas dominam o noticiário de forma que leva a consciência coletiva a interpretar a questão como encerrada. A ideia é chamar atenção para as conquistas de suas iniciativas. Se não fossem os esforços para criação de áreas protegidas, convenções sobre comércio internacional de espécies ameaçadas ou ações anticaça ilegal, por exemplo, o problema poderia ser ainda maior. 'Precisamos criar uma visão positiva de futuro, focar nas soluções e inspirar a sociedade a tomar uma atitude. Precisamos celebrar o sucesso, identificar o que está funcionando e aplicar em maior escala', afirmou Jonathan Baillie, diretor da ZSL, na divulgação do evento para a imprensa."
"Todas as ações combinadas têm algum êxito, diminuem o grau de ameaça às espécies, mas, como a ameaça é um fato contínuo, muitas vezes damos dois passos e voltamos um', lamenta Duringan. Para exemplificar isso, em março, um tribunal da África do Sul revogou a proibição que vigorava no país ao comércio de chifres de rinocerontes. É preciso mais trabalho para manter o otimismo."
A matéria acima foi retirada da revista PLANETA - Edição 530 - Ano 45, págs. 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36 e 37. Maio de 2017. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista PLANETA e à Editora Três
"Os zoológicos também possuem apoios específicos para cada espécie e participam de programas globais de conservação dos habitats em 40 países nos cinco continentes. Além disso, trabalham na captação de recursos financeiros e em campanhas de sensibilização."
"Para celebrar essas conquistas, a Zoological Society of London promoveu em abriu um seminário dedicado ao otimismo com que conservacionistas querem tratar o tema, o Conservation Optimism Summit. A entidade acredita que as notícias negativas dominam o noticiário de forma que leva a consciência coletiva a interpretar a questão como encerrada. A ideia é chamar atenção para as conquistas de suas iniciativas. Se não fossem os esforços para criação de áreas protegidas, convenções sobre comércio internacional de espécies ameaçadas ou ações anticaça ilegal, por exemplo, o problema poderia ser ainda maior. 'Precisamos criar uma visão positiva de futuro, focar nas soluções e inspirar a sociedade a tomar uma atitude. Precisamos celebrar o sucesso, identificar o que está funcionando e aplicar em maior escala', afirmou Jonathan Baillie, diretor da ZSL, na divulgação do evento para a imprensa."
"Todas as ações combinadas têm algum êxito, diminuem o grau de ameaça às espécies, mas, como a ameaça é um fato contínuo, muitas vezes damos dois passos e voltamos um', lamenta Duringan. Para exemplificar isso, em março, um tribunal da África do Sul revogou a proibição que vigorava no país ao comércio de chifres de rinocerontes. É preciso mais trabalho para manter o otimismo."
A matéria acima foi retirada da revista PLANETA - Edição 530 - Ano 45, págs. 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36 e 37. Maio de 2017. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista PLANETA e à Editora Três
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