CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA MUNDO ANIMAL!
"UM RECOMEÇO PARA OS ANIMAIS REJEITADOS"
"O problema de abandono de pets na capital está longe de ser resolvido, porém, graças à boa vontade de alguns paulistanos, mascotes descartados ganham uma nova família ou abrigo em ONGs do setor"
Por: Carolina Giovanelli
"Animal de estimação não é descartável. Apesar da obviedade da constatação, muita gente parece pensar o contrário. Vê o mascote como um produto, um brinquedo. Ao enjoar do pet ou ao menor sinal de transtorno, livra-se dele - muitas vezes de maneira cruel. Os motivos para a rejeição são diversos. Uma pesquisa realizada há três anos pelo Instituto Waltham em parceria com o Ibope Inteligência mostrou que apenas 41% dos tutores entrevistados (26% deles da capital) levariam seu bicho caso mudassem de casa. Além da migração de endereço, alguns donos apontam como justificativa para o abandono latidos em excesso, bagunça, sujeira, crescimento aquém do esperado, não ter com quem deixar o pet nas férias, gravidez, e por aí vai. 'Às vezes, de um dia para o outro, o tutor se desfaz de um companheiro de anos', conta Cintia Tancredi, uma das fundadoras da ONG Vira-Lata É Dez, responsável por quase 1 000 cães e gatos. Não há dúvidas de que os bichos sofrem no processo. O zootecnista Alexandre Rossi explica que a separação do dono pode causar ansiedade, stress e outras complicações. 'Isso costuma trazer cicatrizes emocionais bastante sérias no animal', afirma."
"Alguns desses bichos tiraram a sorte grande ao ser recolhidos das ruas e ter garantidos abrigo e cuidados de novas famílias ou de ONGs especializadas (conheça a história de parte deles mais para frente). A maioria desses 'órfãos', entretanto, segue ao relento. Não há número oficial para o tamanho do problema, mas só o Instituto Luisa Mell, uma das maiores entidades do tipo, recebe cerca de 180 solicitações de resgate por dia. 'Conseguimos atender a média de oitenta pedidos por mês', contabiliza a ativista. Todos os abrigos de proteção da área estão transbordando, praticamente sem vagas e com dificuldades financeiras. A prefeitura também não possui estrutura para recolher todos os peludos à deriva. Dispõe só da Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ), em Santana, onde vivem cerca de 200 cães e gatos. O órgão se concentra em ações como acolher animais sem dono que atacaram alguém ou oferecem risco à saúde pública. Neste cenário, sobram pets pelas ruas, que contam apenas com a bondade de estranhos. Nem as leis existentes coíbem o sufoco. Vale lembrar: o abandono tem punições previstas na esfera estadual e federal, com pena de três meses a um ano de detenção, mais multa."
"Alguns desses bichos tiraram a sorte grande ao ser recolhidos das ruas e ter garantidos abrigo e cuidados de novas famílias ou de ONGs especializadas (conheça a história de parte deles mais para frente). A maioria desses 'órfãos', entretanto, segue ao relento. Não há número oficial para o tamanho do problema, mas só o Instituto Luisa Mell, uma das maiores entidades do tipo, recebe cerca de 180 solicitações de resgate por dia. 'Conseguimos atender a média de oitenta pedidos por mês', contabiliza a ativista. Todos os abrigos de proteção da área estão transbordando, praticamente sem vagas e com dificuldades financeiras. A prefeitura também não possui estrutura para recolher todos os peludos à deriva. Dispõe só da Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ), em Santana, onde vivem cerca de 200 cães e gatos. O órgão se concentra em ações como acolher animais sem dono que atacaram alguém ou oferecem risco à saúde pública. Neste cenário, sobram pets pelas ruas, que contam apenas com a bondade de estranhos. Nem as leis existentes coíbem o sufoco. Vale lembrar: o abandono tem punições previstas na esfera estadual e federal, com pena de três meses a um ano de detenção, mais multa."
APOSENTADORIA PARA O FRAJOLA
No fim de 2015, o gato Dudu, de aproximadamente 14 anos, foi deixado fechado em uma residência, no Zona Leste, junto de outros treze pets. Os felinos passaram fome durante dias (chegaram a comer filhotes que tinham morrido no local) até ser resgatados pela ONG Catland, que cuida de 400 bichanos. Após dois anos no abrigo, o "vovô" ganhou uma nova casa para curtir uma aposentaria digna de rei, na companhia de outros dois irmãos felinos. "Senti que ele estava meio triste. Não aguentei e acabei adotando-o", afirma a dona do frajola, a doceira Nicole Marques. "Hoje, nem parece um animal idoso, adora brincar".
À ESPERA, NA PORTARIA
O gatinho Dembe, 4, começou a ficar muito agitado no ano passado. Para se verem livres dos miados, seus donos resolveram botá-lo para fora do prédio onde morava, em Itaquera. O bichano não desistiu de voltar ao lar e esperava pelos tutores na portaria, pedindo para entrar - sem sucesso. Ao saber da situação, uma protetora castrou o pet, processo que costuma acalmar o animal. Ainda assim, os antigos donos negam o retorno do bichano, alegando que uma de suas filhas tinha alergia a pelos. Carinhoso, ele perambulou pelo bairro até ser levado para a ONG Adote um Gatinho, onde segue aguardando por adoção. Se tiver interesse em levá-lo para casa, escreva para informacoes@adoteumgatinho.org.br
LABRADOR LIGADO NO 220
Um casal decidiu se divorciar, mas acabou também se separando do cachorro. O ativo labrador Zeus, de 5 anos, foi deixado para trás, sozinho, no antigo lar dos donos. Uma vizinha o alimentou através do portão até a equipe do Instituto Luisa Mell conseguir resgatá-lo, dias depois. Há um ano, após um mês na ONG, foi adotado pela família do analista Eric Oliveira. Hoje, há espaço da casa na Zona Sul, e o cão é paparicado até dizer chega. "Ele é ligado no 220", brinca Oliveira. "Sinto pena desse tipo de pessoa que consegue abandonar um cachorro. Se você tiver deitado no chão, o labrador vai estar junto com você. O Zeus mudou todo o nosso astral".
PARA EVITAR O ABANDONO
O que deve saber antes de adotar um pet
- Ninguém precisa ser rico, mas, assim como um filho, os mascotes demandam gastos. Programe o orçamento.
- Quando a adoção se dá durante a fase de filhote, saiba que é quase impossível prever o tamanho e o temperamento do pet no futuro. Esteja preparado para qualquer cenário.
- A raça da moda pode ser esta ou aquela, mas seu bichinho provavelmente vai viver mais do que a tendência. Cachorro não serve para dar status.
- Caso não sejam castrados e tenha acesso à rua, as fêmeas podem ficar prenhes. A responsabilidade das crias é do tutor.
- Se for dar um peludo de presente a alguém, tenha certeza de que a pessoa deseja um animal e consegue cuidar dele. Afinal, é um mimo que "durará" por muitos anos.
ATROPELAMENTO E (QUASE) FUGA
No começo do mês, um jabuti de pelo menos 25 anos chegou bastante machucado ao Centro de Recuperação de Animais Silvestres (Cras), do Parque Ecológico do Tietê, gerido pelo governo do estado. Havia sido atropelado na casa em que vivia e apresentava sangramento na cabeça. Sem quererem bancar o tratamento, os donos resolveram entregá-lo à instituição. O réptil, cuja expectativa de vida é de oitenta anos, está em fase de recuperação. Quando possui vagas livres, o centro recebe na faixa de oitenta bichos do tipo por mês. "Muita gente vê o jabuti quase como um enfeite de jardim", afirma a coordenadora do local, Liliane Milanelo. "No inverno, eles confirmam ficar entocados. Há casos de tutores esquecerem da existência do animal e deixam de alimentá-lo, por exemplo".
FILHOTE DESAMPARADO
O sagui da foto abaixo, com 1 mês de vida, foi parar no Cras do Parque Ecológico do Tietê, pois sua compradora descobriu que a nota fiscal do bicho era falsa - ou seja, o macaquinho veio do tráfico. Para evitar problemas, ela entregou ao lugar o pequeno primata, pelo qual desembolsou mais de 2 000 reais. A equipe da instituição de preservação de bichos exóticos ouve todos os dias uma sorte de motivos para as doações. Esse saguizinho, por exemplo, é agora uma fofura, mas cresce e vive até a faixa de 18 anos. "Ele faz barulho, tem cheiro forte, demanda alimentação especial e veterinário específico", explica a coordenadora Liliane Milanelo. A maior parte dos bichos recebidos no Cras apresenta problemas de desnutrição e comportamento. A ideia é que o sagui se desenvolva e seja devolvido a seu local de origem na natureza, no Nordeste, em no mínimo, quatro meses.
JOGADA DA PONTE
Há dois anos, a vira-lata Karen era uma filhote de apenas 6 meses de idade. Na época, a cadela acabou vítima de uma maldade que a marcou pelo resto da vida. Foi jogada de um viaduto na região do Rodoanel em uma tentativa de se livrarem dela. A peluda, entretanto, sobreviveu à queda. A pessoa que a resgatou escutou um bater de porta de carro na estrada e, em seguida, viu "algo" ser arremessado da ponte. O animal foi levado às pressas, com muita dor, para a ONG Clube dos Vira-latas, na região de Ribeirão Pires. Mesmo depois do tratamento, o pet perdeu a capacidade de andar. Talvez por algum trauma, não gosta de homens. Karen espera agora por mais uma reviravolta, como o acolhimento de uma nova família que possa cuidar dela. Se você quiser adotá-la, escreva para contato@clubedosviralatas.org.br.
A matéria acima foi retirada da revista VEJA SP - Parte integrante de VEJA - Edição 2596 - Ano 51 - nº 34, págs. 30, 31, 32, 33, 34 e 35. 22 de agosto de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e à Editora Abril.
SUGESTÃO
Após a leitura, separamos uma reportagem sobre o abandono de animais exibida na RecordTV. As imagens são do YouTube, e o idioma é o português.
A seguir vídeo emocionante que retrata o abandono de animais, de uma campanha de 2016. As imagens também são do YouTube.
Comentários
Postar um comentário