NACIONAL
"FOGO DESTRÓI ACERVO DO MUSEU NACIONAL, MAIS ANTIGO CENTRO DE CIÊNCIA DO PAÍS"
"Tragédia. Instituição especializada em história natural, e que tem como maior tesouro Luzia, o fóssil mais antigo das Américas, fez 200 anos no mês de junho em situação de abandono; incêndio atingiu dois andares do prédio, e o teto, que era de madeira, desabou"
"Um incêndio de grandes proporções destruiu o acervo do Museu Nacional, na zona norte do Rio, na noite de ontem. Especializado em história natural e mais antiga instituição científica do País, o Museu Nacional completou 200 anos em junho em meio a uma situação de abandono. Não houve feridos.
Ligado a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tinha um dos mais antigos acervos de história natural da América Latina, além de ter servido de casa para a família real. O maior tesouro é Luzia, o esqueleto mais antigo encontrado nas Américas. Mereciam destaque diversos fósseis de dinossauros e o meteorito Bendegó.
'Não vai sobrar praticamente nada. Todo o prédio foi atingido. Um absurdo o descaso e abandono que estava esse museu icônico. É como se queimasse o Louvre ou o Museu de História Natural de Londres', lamentou o vice-diretor do Museu Nacional, Luiz Fernando Dias Duarte. Ele disse acreditar que restarão apenas a biblioteca central e as coleções de botânica e zoologia vertebrada, que estavam em prédio anexo. Bombeiros informaram que uma parte do acervo chegou a ser retirada antes de ser atingida pelo fogo.
'Uma catástrofe. São 200 anos de patrimônio desse País, são 200 anos de memória, tudo se perdendo em fogo por falta de suporte dos governos brasileiros e de consciência da classe política', afirmou Duarte.
O Corpo de Bombeiros foi acionado as 19h30 e rapidamente chegou ao local, mas até a 1 hora de hoje o fogo não tinha sido controlado. Dois hidrantes ficaram sem água e a Companhia de Águas e Esgoto do Rio mandou carros-pipa para reforçar.
Dois andares foram bastante destruídos, e parte do teto, de madeira, caiu. Os bombeiros não veem risco de desabar a fachada do prédio. Parte do acervo não fica nesse prédio, então está preservado. Mas o que havia em exposição aparentemente foi todo consumido. Quando as chamas começaram, a visitação já havia sido encerrada e estavam no prédio quatro vigilantes, que não se feriram. Ainda não se sabe a causa do fogo.
Precariedade. O museu, fundado por D. João VI, chegou ao bicentenário com goteiras, infiltrações, salas vazias e problemas nas instalações elétricas. Várias salas estavam fechadas por total incapacidade de funcionar. O espaço que abrigava uma das maiores atrações, a montagem da primeira réplica de um dinossauro de grande porte no País, fechou por causa de uma infestação de cupim.
Para chamar atenção para o problema, o paleontólogo Alexander Kellner, assumiu a direção do museu este ano, transformou o antigo quarto de D. Pedro II - fechado havia 20 anos - em seu escritório. No comodo antes majestoso, como mostrou o Estado em abril, havia um lustre quebrado, móveis sem restauro, tábuas de madeira soltas no chão e infiltrações.
Em janeiro, professores de pós-graduação se uniram para pagar a passagem de ônibus da equipe de limpeza. Eles temiam que a sujeira afetasse o acervo, composto de material orgânico, sensível a micro-organismos.
Entre 2013 e 2018, o orçamento do Museu despencou de R$ 500 mil para R$ 54 mil. Segundo Duarte, o museu lutava há anos para obter esses recursos. Ele lembra que, desde 2000, era pleiteado dinheiro para construir anexos que abrigassem pesquisas que necessitam de preservação em álcool e formol, materiais inflamáveis. Só um anexo foi erguido com verba da Petrobrás.
Por ocasião dos 200 anos, o museu assinou com o BNDES contrato de patrocínio de 21,7 milhões. A verba seria usada para restaurar o prédio. Em nota, o presidente Michel Temer classificou como 'incalculável' a perda. 'É um dia trágico para a museologia do País'.
Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão disse que 'certamente a tragédia poderia ter sido evitada'. Afirmou ainda que vai começar hoje a fazer o projeto de reconstrução e um levantamento das condições de proteção contra incêndio de todos os museus federais. /FÁBIO GRELLET, ROBERTA JANSEN, ROBERTA PENNAFORT e MÔNICA CIARELLI."
A notícia acima foi retirada do jornal O ESTADO DE S. PAULO - EDIÇÃO DIGITAL - Ano 139 - nº 45611, pág. A12. Metrópole. 03 de setembro de 2018, Segunda-feira. (Acesso: 03/09/2018)
Comentários
Postar um comentário