MUNDO ANIMAL


"NOVA ESPÉCIE DE MINI SAPO É DESCOBERTA EM SANTA CATARINA"
"A espécie 'Brachycephalus mirissimus' tem entre 10 e 13 milímetros"


Por: Carol Sassatelli*

"Uma nova espécie de mini sapos foi descoberta no Morro Santo Anjo, em Massaranduba, no norte de Santa Catarina. O feito ocorreu em janeiro deste ano por um projeto que percorre a Mata Atlântica, na região da Serra do Mar brasileira.
Batizado de Brathycephalus mirissimus, o animal foi oficialmente descrito em um artigo veiculado no início deste mês na publicação científica internacional PeerJ. 'É uma sorte, mas também é o fruto de um trabalho de anos', declara Marcos Bornschein, pesquisador do Mater Natura e professor Universidade Estadual Paulista, Campus do Litoral, que foi o primeiro a encontrar a nova espécie.
Segundo o pesquisador, que realizou o estudo com outros dois colegas do Mater Natura, o novo sapinho possui entre 10 e 13 milímetros, o que corresponde ao tamanho de uma unha. 'Não está muito claro o motivo desse processo de miniaturização, porque isso é algo que ocorre há dezenas de anos. Porém, existem algumas peculiaridades nesse sapo, como a redução do número de dedos, que também são menores', explica Bornschein. 'Essa diminuição aconteceria em razão do ambiente em que o sapo vive, com grandes altitudes e cercados por muitas folhas, mas isso é ainda algo especulativo'.
A pele do animal tem tom alaranjado vivo e uma mancha branca tanto na cabeça, quanto nas costas. Para o especialista, as cores fortes podem significar a presença de neurotoxinas que funcionam como uma defesa natural contra ataques (inclusive de aves). Algumas outras espécies encontradas de sapinhos também apresentam esse tipo de mecanismo. 'Por ser uma quantidade pequena, a pessoa que entrar em contato não corre risco de morte, apenas de ficar com as pontas dos dedos amortecidas por um tempo, por exemplo', explica o professor.
No total, 15 espécies de mini sapos foram descobertas pelo projeto, que é financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, ao longo de cinco anos. Bornschein diz que o trabalho continuará, já que a equipe acredita que existam ainda muitas outras espécies a serem descobertas morando naquela região."


"POR QUE A MATA ATLÂNTICA?"

"De acordo com o pesquisador, o mundo passou, ao longo da história, por vários momentos em que se intercalou um clima mais úmido e quente com outro mais seco e frio. Isso faz com que, em tempos de maior calor, as florestas se expandam para áreas de campos (que preferem um clima mais gelado). Isso existe há muito tempo, desde que existam as megafaunas (com seus bichos-preguiça gigantes e os tatus gigantes).
'A hipótese é que existam espécies ancestrais a esses sapinhos que foram subindo com a floresta para o topo do morro', explica Brornschein. 'Isso fez com que essas espécies hoje vivam isoladas no topo da montanha e, por isso, elas são tão diversificadas hoje'.
O especialista também diz que, se fossem maiores, os mini sapos teriam conseguido migrar para outros lugares, mas pelo seu tamanho e dificuldade por ter dedos menores e em menores quantidades, eles permaneceram onde estavam, cruzando entre eles próprios. Esse é o motivo de serem encontrados atualmente na região da Mata Atlântica, com mais morros e clima úmido e quente."


"SAPINHOS EM RISCO"

"O desmatamento da região é proibido, porém, o aumento das monoculturas juntamente com a expansão das fronteiras agrícolas estão prejudicando a região da Mata Atlântica. Segundo Bornschein, a região onde está o Brachycephalus mirissimus é equivalente a quase 57 hectares, o que daria em torno de oito Maracanãs. “Essa área é muito pequena e representa uma das menores disposições geográficas de espécies ao redor do mundo. Isso torna esses sapinhos muito vulneráveis”, explica o professor.
O especialista ainda acrescenta que esse dano à Serra do Mar aumenta o desmatamento e a queda das árvores, dando oportunidade a ventos quentes ressecarem mais o terreno - aumentando, assim, o risco de incêndios.
Agora, imagine só: se houver um incêndio na região do Morro Santo Anjo, os mini sapos com suas perninhas curtas não conseguirão sair do local e, por estarem em uma área relativamente pequena, acabarão sendo completamente extintos. 'Na nossa avaliação, a espécie sofre sim uma ameaça de extinção, pois está muito vulnerável', afirma Bornschein."

*Com a edição de Thiago Tanji

Notícia retirada do site GALILEU, 17 de outubro de 2018 (Acesso: 17/10/2018)

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