CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA PALEONTOLOGIA!


"UM PARENTE FICOU PARA TRÁS"
"A análise do DNA de uma ossada de milhões de anos e de amostras de populações atuais revela indícios de mais um hominídeo com o qual teríamos convivido"


Por: André Lopes

"A trama de A Guerra e o Fogo (1981), premiadíssimo filme do francês Jean-Jacques Annaud - faturou, entre outros troféus, o Oscar de melhor maquiagem -, se passa em algum momento da pré-história, época em que conviviam, às vezes de forma violenta, diversas espécies humanas. O roteiro imagina nossos parentes distantes em disputas tribais por território, alimentos e, sim, tecnologia - no caso, a que lhes permitiria o domínio do fogo, como o título do longa-metragem deixa entrever."


"Apesar das láureas, quando foi lançado o filme de Annaud pareceu um exercício de especulação, pois se baseava em teorias pouco comprovadas. Desde então, em quase quarenta anos, a ciência avançou muito e encontrou pistas de que a situação descrita em A Guerra e o Fogo realmente ocorrera, cerca de 50 000 anos atrás. Naqueles dias, como já sabia, o Homo sapiens, nossa espécie, disputava o planeta com dois tipos de hominídeo: o homem de Neandertal e o homem de Denisova. Agora, porém, surgiu uma novidade. De acordo com um artigo divulgado na publicação inglesa Nature Communications, é provável que o Homo sapiens tenha convivido com um terceiro hominídeo, ainda não catalogado.
A descoberta - e este é outro fator novo - se deveu não exatamente a progressos na pesquisa paleontológica, como costuma acontecer, e sim à ciência genética. Nas últimas duas décadas, revelou-se, por análises de fósseis, que toda a população mundial possui no mínimo 2% de genes iguais aos registrados em neandertais. Já em povos atuais da região do Pacífico foi possível encontrar 5% de traços provenientes do homem de Denisova. A única explicação para tal mescla seria o cruzamento entre essas espécies, incluindo o Homo sapiens."



"Os indícios do novo hominídeo surgiram do aprofundamento do estudos nessa linha. "Descobrimos evidências genéticas de que é preciso que tenha existido outra espécie para complementar o DNA de híbridos neandertais tanto como o homem de Denisova tanto como o Homo sapiens", explicou a VEJA o biólogo espanhol Òscar Lao, do Centro Nacional de Análises Genômicas de Barcelona, responsável pela pesquisa."



"A desconfiança sobre a existência de um parente desconhecido do homem começou com a escavação de fósseis, em junho de 2018, de uma adolescente que viveu há 50 000 anos atrás na Sibéria. O material genético da garota, que teria morrido aos 13 anos, misturava características de neandertais denisovianos. Contudo, indicava ainda alguma presença de DNA de uma terceira espécie não identificada. Resquícios dos genes desconhecidos também foram encontrados, por um software que vasculha bancos modernos de DNA, em pessoas que hoje vivem no leste da Ásia e da Oceania. Ou seja: há cerca de 50 000 anos o Homo sapiens se relacionou não apenas com neandertais e denisovianos mas também com outra espécie humana. Por que esses nossos parentes distantes desapareceram? A tese mais aceita é que mudanças climáticas dificultaram sua vida entre as espécies do gênero Homo, que passaram a travar disputas por alimentos e, sim, tecnologia. Não é preciso dizer quem venceu essa guerra."



A matéria acima foi retirada da revista VEJA- Edição 2619 - Ano 52 - n° 5. 30 de janeiro de 2019. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e à Editora Abril.



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