CONHECIMENTO CEREBRAL CONTEÚDO ALMANAQUE ABRIL


A partir de agora, você poderá conferir a série de matérias que o Conhecimento Cerebral traz em parceria com o Almanaque Abril. O conteúdo divulgado tem objetivo de informar e levar conhecimento a todos que buscam pelos mais diversos assuntos. É ideal para quem está em época de vestibular. As informações são exclusivas para assinantes do site. Informamos que as informações são reservadas exclusivamente ao site do Almanaque Abril, por isso destacamos seus autores. Toda divulgação deve conter as informações do conteúdo original, assim como os nomes de seus respectivos autores. 



"A ENERGIA LIMPA É UMA UTOPIA"
"Gerar energia para desenvolver a economia sem comprometer o meio ambiente é um dos grandes desafios do mundo para o século XXI"


Por: Daniel Beltra

"Como prover energia para manter uma população de mais de 7 bilhões de pessoas, que produzem e consomem a cada ano mais de 60 trilhões de dólares em bens e serviços, sem agredir o meio ambiente e ainda garantir o futuro das novas gerações? Esse é um grande dilema da humanidade no século XXI. As fontes de energia em que se baseia a economia a partir do início do século XX - os combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural - não são renováveis, pois a natureza precisa de milhões de anos para produzi-las. Ou seja, suas reservas vão acabar um dia.

Os combustíveis fósseis são, também, muito poluentes. Mesmo a exploração de energia nuclear é problemática: os riscos de acidente numa usina podem até ser pequenos, mas as consequências de um vazamento de radiação sempre serão extremamente sérios para o meio ambiente quanto para a vida humana. Por outro lado, a geração de energia por meio de fontes renováveis - aquelas que estão constantemente disponíveis ou podem ser repostas pela natureza, como a biomassa e a energia eólica - ainda é cara. O equilíbrio entre crescimento econômico e preservação ambiental é, assim, uma equação com diversas variáveis - eficiência, segurança e sustentabilidade."


PETRÓLEO

"A economia com base nos combustíveis fósseis, como ocorre há mais de um século, ainda tem vida longa, ao contrário do que alguns pensam. Segundo especialistas, se mantido o atual nível de consumo, as reservas mundiais conhecidas são suficientes para abastecer o planeta por, pelo menos, mais meio século. O desenvolvimento de tecnologias e a adoção de políticas públicas - como motores de automóvel  com maior rendimento e uso intensivo de transporte coletivo - podem reduzir o consumo. E a descoberta de novas jazidas - como os depósitos da camada pré-sal, que começam a ser explorados no Brasil - pode aumentar as reservas. Com isso, o fim da era do 'ouro negro' pode ser afastado para um horizonte ainda mais distante.

A importância do petróleo na economia mundial não é um acaso, mas uma questão econômica: o petróleo é o combustível mais eficiente e lucrativo que se conhece. Gasta-se hoje a energia equivalente a apenas um barril para obter 30 barris. E um barril, que custa entre 1 a 10 dólares para ser produzido, tem no mercado um preço que varia de 60 a 150 dólares, dependendo da oferta e da procura.

O lado mais cruel dos combustíveis fósseis está na agressão e nos riscos ao meio ambiente acarretados por sua exploração e seu uso. Exemplo disso foi o acidente na plataforma Deepwater Horizon, operada pela empresa britânica British Petroleum (BP), em 2010. A exploração das instalações, em abril daquele ano, matou 11 pessoas e feriu outras 17. A violência do jorro pela fresta aberta no solo marinho dificultou o fechamento do poço. Até julho, foi lançado nas águas do golfo do México um volume estimado em até 5 milhões de barris de óleo. A mancha de óleo atingiu 1,8 mil quilômetros da costa dos Estados Unidos, devastando a flora e a fauna de estuários, mangues e praias.

O Brasil também registrou acidentes recentemente. Em novembro de 2011, foi descoberto um vazamento em um poço no mar operado pela empresa norte-americana Chevron, na bacia de Campos (RJ), que, segundo estimativas, jogou ao mar 2,4 mil barris de petróleo. Inicialmente, a campanha culpou a geologia da região pelo acidente, mas depois reconheceu que tinha o conhecimento de problemas na perfuração do poço. A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), órgão responsável pela regulamentação do setor no Brasil, descobriu uma série de irregularidades em outros pontos de perfuração. A empresa foi proibida de extrair petróleo no país até esclarecer o vazamento e recebeu uma multa de 50 milhões de reais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por agressão ao meio ambiente.

O segundo acidente ocorreu em janeiro de 2012: outro vazamento, agora num poço da bacia de Santos, explorado pela Petrobras. Neste caso, o volume de óleo que escapou do solo marinho foi pequeno - 160 barris -, o vazamento foi rapidamente controlado e a mancha se dissipou em alto-mar.

Apesar de os dois acidentes no Brasil terem atingido proporções bem menores que o do golfo do México, a frequência com que se dá esse tipo de problema põe em xeque a indústria petrolífera: até que ponto as empresas dominam a tecnologia para a prevenção de desastres como esses? A preocupação do Brasil tem mais razão de ser, ainda, quando se leva em conta que o país começa a explorar os depósitos de petróleo da camada do pré-sal, a mais de 5 mil metros abaixo do leito do mar.

Os combustíveis fósseis também causam danos ao meio ambiente pelos gases que emitem na atmosfera, que reforçam o aquecimento global. Estima-se que a queima desses combustíveis seja responsável por 75% de todo o carbono emitido na atmosfera nas últimas duas décadas.



ENERGIA NUCLEAR


Por: Ken Simizu/AFP

"O risco, mesmo pequeno, de graves acidentes é o principal ponto negativo de outra fonte de energia considerada não renovável, a nuclear. O vazamento de radioatividade de uma usina contamina o solo e a água e traz efeitos extremamente danosos não apenas aos ecossistemas, mas também à saúde dos rebanhos e de seres humanos. Discute-se a segurança das usinas nucleares desde a implantação das primeiras unidades, nos Estados Unidos e na extinta União Soviética, na década de 1950. Até hoje não existem sistemas de funcionamento de usinas, nem de descarte ou reutilização dos resíduos radioativos que elas produzem normalmente, totalmente seguros.

As críticas aos programas de energia baseados na força de ruptura de átomos são reforçados por eventos trágicos, como o ocorrido no Japão em 2011. O violento terremoto, seguido por tsunami, que atingiu o nordeste da principal ilha japonesa, em março, danificou a estrutura dos reatores da usina nuclear de Fukushima, provocando o vazamento de radiação. O acidente, classificado como de grau 5, numa escala que vai de zero a 7, provocou a evacuação da população num raio de 20 quilômetros ao redor das instalações. O governo estimou que 2 bilhões de dólares a limpeza das áreas atingidas. As exportações de alimentos do Japão também foram afetadas, devido a resíduos de radioatividade identificados em legumes e frutas.

A nuvem de radioatividade saiu do Japão e viajou 10 mil quilômetros, até a Europa Ocidental. E o susto levou a União Europeia a anunciar uma revisão nas usinas de seus países-membros. A Alemanha comunicou a antecipação de seu programa de desativação das usinas: até 2022, todas as usinas nucleares em seu território devem ser desativadas.

A energia nuclear é altamente responsável por 6% de toda a energia produzida no planeta. Mas, em alguns países, principalmente na Europa e na Ásia, a fusão de átomos de elementos radioativos, como urânio e plutônio, é a principal fonte de geração de eletricidade que mantém lares iluminados, as máquinas funcionando e os sistemas de transporte urbano em atividade. Na França, as usinas nucleares respondem por mais de 76% da eletricidade, na Ucrânia, por 485, e no Japão, por 27%.

Nesses países, o uso de energia nuclear tem ao menos três boas razões. A primeira é que há poucas fontes de energia - e não só petróleo, mas também bacias hidrográficas, que poderiam ser utilizadas para produzir energia elétrica. A segunda é a eficiência da energia nuclear, um volume muito grande de energia é gerado por uma pequena porção de material radioativo. Por fim, a terceira razão é o fato de essa ser considerada uma fonte limpa - ou seja, a produção e uso de energia nuclear liberam poucos gases de efeito estufa. Como o combate ao aquecimento global ganhou destaque nas últimas duas décadas, a energia nuclear havia recuperado prestígio. Aqui vale um porém: organizações ambientalistas afirmam que essa fonte não é tão limpa assim. De acordo com o Greenpeace, embora os reatores não emitam carbono, a construção de usinas, a extração do minério e o descarte do lixo radioativo produzem mais emissões do que outras fontes."


FONTES RENOVÁVEIS

"Se as fontes não renováveis trazem problemas tão graves ao meio ambiente, por que, então, a humanidade não adota, de uma vez por todas, as fontes renováveis, como a eólica (gerada pelos ventos), a solar (pela luz do Sol), a hidrelétrica (produzida pela força dos rios) ou a biomassa (queima de material orgânico, como lenha e biocombustíveis)? É que essas fontes, apesar de oferecerem a vantagem de estar sempre disponíveis na natureza ou poderem ser repostas rapidamente, também apresentam suas limitações. Algumas delas se tornam pouco vantajosas devido às condições físicas de uma região: nem todas as nações, por exemplo, têm em seu território insolação por períodos suficientemente longos durante o ano para gerar energia solar. Do mesmo modo, nem todas dispõem de bacias hidrográficas adequadas para construir hidrelétricas.

A segunda limitação está nos altos investimentos exigidos nessas tecnologias, ainda muito novas. Mesmo assim, os investimentos em fontes renováveis têm crescido. Conforme relatório da empresa de consultoria Bloomberg New Energy Finance, apesar da crise que afeta a economia global, o setor de energia alternativa cresceu 30% entre 2009 e 2010 - e outros 5% em 2011.

Mas é bom ficar alerta: nem toda fonte renovável de energia é totalmente limpa. Biocombustíveis, por exemplo, como o etanol extraído da cana-de-açúcar, aqui no Brasil, são uma energia renovável e poluem bem menos que o petróleo. Mas a queima de álcool pelos automóveis também emite carbono (ainda que apenas 25% da emissão seja feita pela gasolina). Isso sem falar nas queimadas para limpeza dos campos de plantação, a cada safra. Outra crítica feita à adoção de etanol como fonte alternativa de combustível é o uso intensivo da terra para a plantação de cana, e não de alimentos."


SUSTENTABILIDADE

"Quando se analisa o quadro geral, todas as fontes de energia oferecem vantagens e desvantagens. A solução para a equação energética mundial deve, então, ser abordada numa perspectiva ampla, que passe pelo conceito de sustentabilidade. Desenvolvimento sustentável é aquele obtido com o máximo de aproveitamento dos recursos naturais sem comprometer o meio ambiente, garantindo a sobrevivência das gerações futuras.

Definido no fim dos anos 1980 pela ONU, no Relatório Brundtland, o conceito levou ao desenvolvimento de políticas públicas e tecnologias que visam reduzir o impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente, Para as empresas, isso significa implementação de novos processos de produção, que poluem menos e consomem menos água e energia; para os cidadãos, mudanças de comportamento, como a reciclagem do lixo e o consumo consciente. Essas são medidas que diminuem o volume de resíduos, o desmatamento, a poluição, o desperdício da água e a emissão de gases do efeito estufa.

É da ideia de sustentabilidade que surgiu o conceito de pegada ecológica - uma medida da pressão exercida sobre os recursos naturais e o meio ambiente por um indivíduo, uma empresa, um setor ou uma nação inteira. Para os países, essa medida costuma ser dada per capita - ou seja, pela relação entre a superfície de solo e águas aproveitáveis para a produção e descarte de resíduos e o número de habitantes que disso dependem. Essa medida varia, também, conforme o nível de consumo da população. Hoje, a pegada ecológica do planeta é alta: segundo ambientalistas, para manter o atual ritmo de exploração dos recursos naturais e do meio ambiente, precisaríamos de um mundo e meio. Parte importante desse consumo dos recursos naturais vem do uso de fontes de energia. Prossegue um desafio para a humanidade: depender cada vez mais de energias limpas, que preservem o meio no qual vive."

Matéria publicada em Março/2012

Informações retiradas do site Almanaque Abril. (Acesso: 08/08/2015)

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