CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SAÚDE!
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A seguinte matéria é de autoria da colunista Natália Cuminale, publicada no dia 01 de abril de 2015 pela revista Veja. Portanto, todas as informações abaixo pertencem exclusivamente aos seus autores, e não devem ser copiadas sem a divulgação de seus nomes.
"Não é fácil tomar essas decisões. Mas é possível assumir o controle e enfrentar qualquer problema de saúde. Você pode procurar aconselhamento, aprender sobre as opções e fazer as escolhas que são certas para você. Conhecimento é poder'. Assim termina o depoimento da atriz Angelina Jolie publicado na semana passada no The New York Times. No relato, intitulado 'Diário de uma cirurgia', Angelina revelou ter se submetido à retirada das trompas e dos ovários. A operação conhecida no jargão médico como salpingo-ooforectomia, marca a conclusão de um processo iniciado pela atriz há dois anos. Em maio de 2013, também com direito a anúncio público em jornal, ela revelou ter passado por uma dupla mastectomia preventiva. Os procedimentos pretendem minimizar os riscos de desenvolver câncer nos ovários e nas mamas. Aos 39 anos, Angelina é portadora de uma mutação no gene BRCAL. Mulheres com essa anomalia têm 85% de probabilidade de desenvolver tumores mamários e risco 60% maior de apresentar câncer no ovário. O destino genético foi herdado pela atriz das mulheres de sua família. 'Perdi minha mãe, avó e tia para o câncer', escreveu. A mãe, Marcheline Bertrand, morreu em 2007, aos 56 anos, depois de uma década de convivência com a doença.
Intervenção relativamente simples, a extração das trompas e dos ovários é feita por meio de laparoscopia - de três a quatro incisões de, no máximo, 1 centímetro cada uma no abdômen. A recuperação é tranquila. A dupla mastectomia preventiva é, sem dúvida, uma cirurgia muito mais complexa. Em 2013, a operação de Angelina foi realizada em três etapas - apenas uma delas, a da extirpação das mamas, se alongou por oito horas. Suas sequelas no entanto, são infinitamente menores. Sem os ovários, cessa a produção dos hormônios femininos, estrógeno e progesterona. Como consequência, Angelina terá de enfrentar os sintomas de uma menopausa precoce - queda no líbido, falhas na memória, depressão, ganho de peso e enfraquecimento dos ossos, entre outros. 'Estive planejando isso por algum tempo', revelou. A decisão não teve nada de emocional. Foi racional, calculada. 'Estava me preparando física e emocionalmente, discutindo opções com médicos, pesquisando medicina alternativa e mapeando meus hormônios para a reposição de estrógeno e progesterona.' Para manter o equilíbrio hormonal, Angelina começou a usar um adesivo transparente com estrógeno e um dispositivo intrauterino com progesterona.
Na população geral, o câncer de ovário é poco frequente, com um caso a cada setenta mulheres. Os tumores ovarianos evoluem lenta e silenciosamente. Em 75% dos casos, são descobertos em estágio avançado. 'Nessas circunstâncias, a taxa de cura gira ao redor de 20%', diz Oren Smaletz, oncologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. No câncer de mama, 80% dos diagnósticos ocorrem em fases muito iniciais e a imensa maioria das pacientes (99%) se livra da doença. 'A extração é o único método eficaz para evitar o câncer de ovário', diz Maria Isabel Achatz, diretora do Portadora de Mutação de gene BRCA1. Angelina Jolie estava no grupo de risco para o desenvolvimento de tumores malignos nas mamas e nos ovários. Como forma de se proteger contra esses dois tipos de câncer, atriz foi submetida recentemente à retirada dos ovários e das trompas e, há dois anos, a uma mastectomia radical. A cirurgia reduz o risco de tumores malignos em 98%. Só não elimina totalmente porque, em alguns casos, as células cancerosas contaminam o peritônio, uma membrana que reveste a parte interna da cavidade abdominal."
"Quase sempre, as mulheres que ainda não são mães rechaçam a retirada de trompas e ovários, dado que ela significará um freio definitivo à maternidade. 'Sinto profundamente por aquelas mulheres que passam por isso muito cedo na vida, antes que tenham seus filhos', escreveu Angelina, mãe de seis crianças - três delas biológicas, com Brad Pitt. A atriz sugere que é possível preservar os ovários e extirpar apenas as trompas de modo a garantir uma gravidez futura. Essa estratégia, no entanto, ainda está em estudo e se baseia na hipótese de que os tumores ovarianos se originam nas trompas. Não há comprovação segura desse teoria.
A incidência do câncer de ovário aumenta a partir dos 35 anos. Quem decide não operar tem de se submeter a exames semestrais - ultrassonografia transvaginal e monitoramento da proteína CA-125, cuja concentração aumenta na presença de células cancerosas. Ao contrário do rastreamento do câncer de mama, para o qual há exames capazes de detectar tumores com menos de 1 centímetro, o do câncer de ovário não dispõe de métodos considerados totalmente eficazes. 'A quantidade de CA-125 pode estar aumentada em patologias benignas, como a endometriose. O ultrassom também produz resultados falso-positivos e falso-negativos', diz Glauco Baiocchi, cirurgião oncológico e diretor de ginecologia do A.C. Camargo. Estima-se que, nos Estados Unidos, apenas uma em cada sete mulheres tome a mesma decisão da atriz. De Angelina: 'Sinto-me à vontade com o que virá. Não porque eu seja forte, mas porque isso faz parte da vida. Não há nada a temer'."
A matéria acima foi retirada da revista Veja, edição 2 419 - ano 48 - nº 13, págs. 81 e 82. 01 de abril de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente a revista Veja e a Editora Abril.
"O CONHECIMENTO É PODER"
"Ao anunciar a extração das trompas e dos ovários, depois da mastectomia radical, Angelina Jolie dá a última cartada contra a herança genética que a predispunha ao câncer"
"Não é fácil tomar essas decisões. Mas é possível assumir o controle e enfrentar qualquer problema de saúde. Você pode procurar aconselhamento, aprender sobre as opções e fazer as escolhas que são certas para você. Conhecimento é poder'. Assim termina o depoimento da atriz Angelina Jolie publicado na semana passada no The New York Times. No relato, intitulado 'Diário de uma cirurgia', Angelina revelou ter se submetido à retirada das trompas e dos ovários. A operação conhecida no jargão médico como salpingo-ooforectomia, marca a conclusão de um processo iniciado pela atriz há dois anos. Em maio de 2013, também com direito a anúncio público em jornal, ela revelou ter passado por uma dupla mastectomia preventiva. Os procedimentos pretendem minimizar os riscos de desenvolver câncer nos ovários e nas mamas. Aos 39 anos, Angelina é portadora de uma mutação no gene BRCAL. Mulheres com essa anomalia têm 85% de probabilidade de desenvolver tumores mamários e risco 60% maior de apresentar câncer no ovário. O destino genético foi herdado pela atriz das mulheres de sua família. 'Perdi minha mãe, avó e tia para o câncer', escreveu. A mãe, Marcheline Bertrand, morreu em 2007, aos 56 anos, depois de uma década de convivência com a doença.
Intervenção relativamente simples, a extração das trompas e dos ovários é feita por meio de laparoscopia - de três a quatro incisões de, no máximo, 1 centímetro cada uma no abdômen. A recuperação é tranquila. A dupla mastectomia preventiva é, sem dúvida, uma cirurgia muito mais complexa. Em 2013, a operação de Angelina foi realizada em três etapas - apenas uma delas, a da extirpação das mamas, se alongou por oito horas. Suas sequelas no entanto, são infinitamente menores. Sem os ovários, cessa a produção dos hormônios femininos, estrógeno e progesterona. Como consequência, Angelina terá de enfrentar os sintomas de uma menopausa precoce - queda no líbido, falhas na memória, depressão, ganho de peso e enfraquecimento dos ossos, entre outros. 'Estive planejando isso por algum tempo', revelou. A decisão não teve nada de emocional. Foi racional, calculada. 'Estava me preparando física e emocionalmente, discutindo opções com médicos, pesquisando medicina alternativa e mapeando meus hormônios para a reposição de estrógeno e progesterona.' Para manter o equilíbrio hormonal, Angelina começou a usar um adesivo transparente com estrógeno e um dispositivo intrauterino com progesterona.
Na população geral, o câncer de ovário é poco frequente, com um caso a cada setenta mulheres. Os tumores ovarianos evoluem lenta e silenciosamente. Em 75% dos casos, são descobertos em estágio avançado. 'Nessas circunstâncias, a taxa de cura gira ao redor de 20%', diz Oren Smaletz, oncologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. No câncer de mama, 80% dos diagnósticos ocorrem em fases muito iniciais e a imensa maioria das pacientes (99%) se livra da doença. 'A extração é o único método eficaz para evitar o câncer de ovário', diz Maria Isabel Achatz, diretora do Portadora de Mutação de gene BRCA1. Angelina Jolie estava no grupo de risco para o desenvolvimento de tumores malignos nas mamas e nos ovários. Como forma de se proteger contra esses dois tipos de câncer, atriz foi submetida recentemente à retirada dos ovários e das trompas e, há dois anos, a uma mastectomia radical. A cirurgia reduz o risco de tumores malignos em 98%. Só não elimina totalmente porque, em alguns casos, as células cancerosas contaminam o peritônio, uma membrana que reveste a parte interna da cavidade abdominal."
"Quase sempre, as mulheres que ainda não são mães rechaçam a retirada de trompas e ovários, dado que ela significará um freio definitivo à maternidade. 'Sinto profundamente por aquelas mulheres que passam por isso muito cedo na vida, antes que tenham seus filhos', escreveu Angelina, mãe de seis crianças - três delas biológicas, com Brad Pitt. A atriz sugere que é possível preservar os ovários e extirpar apenas as trompas de modo a garantir uma gravidez futura. Essa estratégia, no entanto, ainda está em estudo e se baseia na hipótese de que os tumores ovarianos se originam nas trompas. Não há comprovação segura desse teoria.
A incidência do câncer de ovário aumenta a partir dos 35 anos. Quem decide não operar tem de se submeter a exames semestrais - ultrassonografia transvaginal e monitoramento da proteína CA-125, cuja concentração aumenta na presença de células cancerosas. Ao contrário do rastreamento do câncer de mama, para o qual há exames capazes de detectar tumores com menos de 1 centímetro, o do câncer de ovário não dispõe de métodos considerados totalmente eficazes. 'A quantidade de CA-125 pode estar aumentada em patologias benignas, como a endometriose. O ultrassom também produz resultados falso-positivos e falso-negativos', diz Glauco Baiocchi, cirurgião oncológico e diretor de ginecologia do A.C. Camargo. Estima-se que, nos Estados Unidos, apenas uma em cada sete mulheres tome a mesma decisão da atriz. De Angelina: 'Sinto-me à vontade com o que virá. Não porque eu seja forte, mas porque isso faz parte da vida. Não há nada a temer'."
A matéria acima foi retirada da revista Veja, edição 2 419 - ano 48 - nº 13, págs. 81 e 82. 01 de abril de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente a revista Veja e a Editora Abril.
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