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A seguinte matéria foi escrita por Raquel Beer, publicada pela revista Vejaem 14 de outubro de 2015. Portanto, todas as informações pertencem exclusivamente à revista e sua autora, e não devem ser copiadas sem a divulgação de seus nomes.

"UM MERGULHO CONTRA O PADRÃO"
"A revelação de que os neutrinos - partículas subatômicas desprovidas de carga elétrica - têm massa põe em xeque um modelo científico estabelecido e faz a ciência avançar"


"O importante é jamais parar de questionar'. A frase de Albert Einstein poderia ter servido de epígrafe para o anúncio, na terça-feira 6, dos vencedores do Nobel de Física de 2015: o japonês Takaaki Kajita, da Universidade de Tóquio, e o canadense Arthur McDonald, da Queen's University. Não é difícil entender o porquê. A dupla conquistou a láurea por haver demonstrado, em trabalhos individuais, que os neutrinos - partículas subatômicas desprovidas de carga elétrica -, ao contrário do que se supunha, têm massa. Noutras palavras, nem Kajita nem McDonald deram por definitivo o 'não' que era tido como resposta científica à indagação sobre se, afinal, os neutrinos tinham massa. Fiéis à máxima de que a ciência vive de perguntas, e não de respostas, os dois continuaram enxergando uma interrogação onde só havia certezas."


"Tais certezas encontravam amparo no Modelo Padrão da Física de Partículas, finalizado pela comunidade científica na década de 70 - um sistema de organização do mundo subatômico, montado para explicar a interação entre as partículas fundamentais que compõem a matéria. Como se fosse uma tabela periódica da física, o modelo nomeou dezessete partículas - que fariam o mesmo papel dos tijolos numa construção -, tanto as já conhecidas como aquelas apenas previstas por pesquisadores.
No caso do neutrino, a 'partícula fantasma' - a segunda mais abundante do universo, separada apenas pelo fóton (de luz) -, estava-se diante de algo conhecido pelo menos desde 1930. Naquele ano, o físico austríaco Wolfgang Pauli observou que, em episódios de decaimento beta, ou seja, quando a radioatividade emite partículas negativamente carregadas, havia perda de energia, o que contrariava o pilar da física sobre conservação de energia. Isso ocorria, por exemplo, dentro de estrelas como o Sol. Pauli concluiu que existia, então outra partícula minúscula e sem carga, responsável pelo 'roubo' daquela porção de energia. Em 1932, essa partícula foi batizada de neutrino, que quer dizer 'pequeno nêutron' em italiano, língua do criador do nome, o pesquisador Enrico Fermi. A descoberta experimental da partícula só se daria em 1956, num trabalho dos físicos americanos Clyde Cowan Jr. e Frederick Reines, que por isso ganharam o Nobel de 1995. No fim da década de 60, porém, uma experiência conduzida na mina de Homestake, nos EUA, identificou apenas um terço dos neutrinos originados do Sol que deveriam aparecer segundo os cálculos dos cientistas. O que teria ocorrido com os dois terços restantes?"


"Ao se fazer essa pergunta, Takaaki Kajita decidiu conduzir seu próprio experimento. Nos anos 1990, ele usou um tanque de 1000 metros abaixo do solo, equipado com 11 000 sensores  e 50 000 toneladas de água, com o objetivo de identificar a quantidade de dois tipos e neutrinos que já haviam sido descobertos até então: o eletrônico, o único produzido pelo Sol, que ao reagir com algum tipo de matéria produz um elétron; e o neutrino de múon, cuja interação resulta em uma 'partícula múon', 200 vezes mais pesada que o elétron. Alguns dos neutrinos que alcançavam o tanque reagiam com as moléculas de água, gerando um flash de luz, de forma que os sensores conseguiam indicar de que tipo de neutrino se tratava e de que direção ele viera. A quantidade de neutrinos eletrônicos correspondeu ao esperado, mas os do outro tipo, múon, aparentavam estar 'sumindo', principalmente quando percorriam maiores distâncias dentro da própria Terra. A conclusão, depois provada por McDonald, é que os neutrinos de múon se transformam em outro tipo de partícula, o neutrino de tau, que só viria a ser conhecido em 2000. A existência de três tipos de neutrino - três 'sabores' de neutrino, como costumam apelidar os cientistas - levou Kajita e McDonald a concluir que essas partículas eram, sim, dotadas de massa. Os neutrinos deixaram, então, de se encaixar no Modelo Padrão - abrindo, para a ciência, um vasto campo de investigação.
Para a Academia Real Sueca de Ciências, que concede o Nobel, a descoberta 'mudará o conhecimento sobre a história, a estrutura e o destino do universo'. Mais do que isso, como reconhece o próprio Kajita, ela ajuda a provar que 'claramente há físicas que vão além do Modelo Padrão'. Outros exemplos recentes reforçam a importância de testar continuamente conhecimentos científicos dados como certos. Esse foi o caso do bóson de Higgs. A partícula, prevista pelo Modelo Padrão e descoberta em 2012, parecia contudo ter uma massa maior do que a estimada. Além disso, o modelo também não apresenta respostas para questões seminais como o que é, afinal, a matéria negra, ou o que aconteceu com a antimatéria (elemento com carga elétrica oposta à das partículas) depois do Big Bang. É como disse o físico alemão Stefan Soldner-Rembold, da Universidade de Manchester: 'A descoberta da massa do neutrino e de suas oscilações é a primeira rachadura do Modelo Padrão. A era das descobertas interessantes na física dos neutrinos está apenas começando'."


A matéria acima foi retirada da revista Veja, edição 2 447 - Ano 48 - nº 41, págs. 74 e 75. 14 de outubro de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista Veja e a Editora Abril.


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