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A seguinte matéria foi publicada pela revista Aventuras na História, edição de outubro de 2015. Portanto, todos os direitos autorais pertencem exclusivamente à revista, e não devem ser copiados sem a divulgação de seu nome.

"PRÉ-HISTÓRIA DO NAZISMO"
"O Regime Nazista antes de se tornar A Grande Máquina de Extermínio segundo o livro A História Revelada da SS"


"Apesar de não existir até 1925 e, cinco anos depois, mal chegar a trezentos membros, a SS teve seu início e adquiriu seu ethos básico no turbilhão social e político dos anos 1919-1924. Nesses anos muitos alemães experimentaram novas e revolucionárias formas de vida social e política: entre essas estavam os nazistas, que acharam significado e realização pessoal em sua versão da ubíqua liga de combate político, a SA (Sturm-Abteilungen) ou Tropa de Choque, dentro da qual cresceu a futura SS.
Mas a própria contradição que assombraria o relacionamento entre a SA, a SS e Nacional-Socialismo - a questão de se, em última instância, o rabo não iria fazer o cachorro balançar - se imiscuiu quando aqueles republicanos normalmente marxistas chamaram de volta às armas a soldadesca nacionalista da direita para proteger o regime contra seus rivais revolucionários. Os expoentes mais velhos da tradição militarista prussiana foram então forçados a recorrer a uma geração de tenentes, capitães e majores que eram muito mais revolucionários que restauracionistas. Sob o disfarce de unidades para a restauração da ordem, oficiais intermediários e subalternos como Ehrhardt, Rossbach e Rohm construíram forças paramilitares - para reforçar seu próprio poder e prestígio político - contra a antiga estirpe militar que havia perdido a guerra. Mais ainda, soldados da linha de frente, como Hitler, que afinal de contas eram civis em uniforme, também se viram necessitados do aconselhamento de soldados profissionais. Dessa maneira, em 1919, Hitler e o Partido dos Trabalhadores Alemães serviram como agências de Reichswehr (Defesa de Reich) em Munique. Hitler e seus camaradas foram encorajados a ingressar nos minúsculos partidos de direita e recrutar prováveis candidatos para unidades paramilitares como as Milícias Cidadãs e os Voluntários Temporários, que atuavam como auxiliadores dos corpos livres.
Sem abandonar o ideal elitista de soldados políticos como coração de seu movimento, esses civis-soldados logo começaram a se consorciar com tipos nada militares que lhes eram necessários para a captura das massas e para conspiração. Assim, inevitavelmente, os primeiros nazistas introduziram em suas fileiras as próprias contradições da sociedade civil que combatiam, e que em parte eram efeitos deles mesmos. Mas foram além e criaram um militarismo político separado que parecia, embora não sendo a mesma coisa, com eles mesmos (a SA e mais tarde a SS), e jamais totalmente subordinado a eles mesmos. Por outro lado, os tipos não militares com quem tinham que trabalhar, e as massas civis de que necessitavam pelo poder que as massas representavam, para muitos pareciam menos admiráveis, e até mesmo desprezíveis. A ambivalência da sociedade alemã no começo dos anos 1920 em relação aos soldados tornou-se, assim, um elemento permanente do Nacional-Socialismo."


"ORGANIZAÇÃO"

"Hitler descreve os primeiros membros da guarda do partido, em outubro de 1919, como alguns de seus mais fiéis companheiros de trincheira, o que é uma indicação de que ele preferia lealdade dos seus antigos amigos que dos designados por Rohm. Em 1920, depois do putsch de Kapp em Munique e da instalação do regime de Gustav von Kahr, o uniforme cinza tinha que desaparecer do NSDAP (Partido Nacional-Socialista do Povo Alemão, ou Partido Nazista). Hitler e seus camaradas tiveram que aceitar baixas, Rohm considerou aconselhável disfarçar o apoio da Reichswehr às atividades revolucionárias e paramilitares. O lugar dos guardas soldados foi assumido por quinze ou vinte Ordnertruppe (seguranças), vestindo roupas civis com braçadeiras vermelhas com a suástica dentro de um disco branco. Possivelmente o uso do símbolo da suástica da Brigada Ehrhardt dos corpos livres nas braçadeiras dos seguranças indicava o papel desempenhado por esses veteranos no desafortunado putsch de Kapp, como leões de chácara nazistas no verão de 1920."


"Estes eram, entretanto, inconfiáveis, até mesmo amotinados, intrinsecamente menos valiosos para Rohm e para os nazistas que os membros do bem organizado sistema da Einwob-nerwebr (força policial paramilitar formada por um decreto do Ministério do Interior prussiano) bávara, montada pelo dr. Georg Escherich. Organizados por cidade, município e região, esses fazendeiros e trabalhadores de escritório formavam uma milícia antissindical e antimarxista, que se ampliava para o oeste e o norte da Baviera como Orgesch, e na Áustria como Orka. Eram bancos contrarrevolucionários leais a Kahr, apesar de incluir conspiradores e revanchistas exaltados. Rohm encorajou Hitler a copiar a estrutura da Orgesch e recrutar alguns de seus membros radicais para seus bandos de guarda-costas. Assim, lá pelo final de 1920 constatamos sinais de uma organização nazista de guardas permanente e regular em Munique, agrupadas em Hundertschaften (centúrias), como a Orgesch."


"FORÇA CRESCENTE"

"Hitler começou a improvisar forças de combate a partir de seus seguidores imediatos, procurando em outros grupos paramilitares líderes e 'endurecimento'. Em janeiro de 1921, sentiu-se suficientemente forte, como chefe da propaganda nazista, para ameaçar, no enorme Kindl-Keller, quebrar reuniões 'não patrióticas' com essas forças, e em fevereiro pôde colocar alguns deles em 'caminhões de propaganda' que vagavam por Munique distribuindo panfletos e prendendo cartazes para o primeiro encontro de massas no circo Krone, O sucesso desses métodos pode ser avaliado pelo crescimento constante dos encontros de massa. A recompensa final veio com a captura, por Hitler, da estrutura organizacional do NSDAP em julho de 1921, e o consequente reforço e consolidação dessas 'unidades de combate' em Munique e nas cidades próximas da Alta Baviera, onde se haviam fundado grupo nazistas.
A dissolução da Orgesch, no verão de 1921, enfraqueceu Kahr, que caiu em setembro e foi substituído pelo moderado regome de Lerchenfeld, que favorecia a cooperação com o governo de Berlim e os Aliados.
Durante 1922 o movimento nazista continuou a crescer pela Baviera e penetrar ao norte na Alemanha central, e com ele as Tropas de Assalto, que absorveram as Arbeitsgemeinchaften (grupos de trabalho semilegais) dos corpos livres ilegais e sociedades femininas. O mês que Hitler passou na prisão no verão de 1922, nas mãos do regime de Lerchenfeld, pelo uso de métodos de força contra o grupo de Pittinger, não prejudicou os nazistas. Sob pressão de Rohm, Hitler após várias tentativas fez causa comum com Pittinger, em setembro de 1922, no planejamento de um putsch que não chegou a sair. Em outubro, catorze Hundertschaften da SS da Alta Baviera estavam representados (cerca de setecentos homens) em uma marcha para Coburgo na fronteira turíngia, para se juntar ao Terceiro Dia Anual da Schtz-und Trutzbund (Liga Protetora e Defensiva). Essa organização estava prestes a desaparecer com a ampliação da lei para a Proteção do Reich, mas o convite desafiador aos nazistas para se unirem a eles na supostamente 'vermelha' Coburgo, levou à intimidação nazista da cidade, depois das batalhas intensas com grupos democráticos e de esquerda."


"ORIGEM DA SS"

"Em novembro de 1922, Julius Streicher trouxe a volkisch Francônia solidamente para a esfera nazista, ao fundir sua seção do Deutsch-Soziale Partei (Partido Social Alemão) com o de Hitler, enquanto em Munique os nazistas eram pressionados por Rohm para ingressar em sua primeira aliança temporária, as Sociedades Patrióticas Unidas. No Norte, bandos dispersos de nazistas iniciaram a ligação com o novo e antissemita Deutschvolkische Freiheitspartei (Partido da Liberdade do Povo Alemão), de Reinhold Wulle e Albrecht von Grafe."


"Em janeiro de 1923, Hitler pôde convocar vários militares da SA para seu primeiro 'Dia Nacional' do partido. Sob a influência do desempenho desregrado dos nazistas em Coburgo e a marcha dos fascistas sobre Roma, o ministro do Interior de Baviera, Franz Schweyer, e o presidente da Polícia de Munique, Eduard Nortz, proibiram o Dia do Partido, assim como outros comícios e demonstrações nazistas. Hitler tinha que prometer para todo mundo não tentar um putsch (golpe). No final das contas foi Von Epp e o general mais graduado de Baviera, o comandante divisional Otto von Lossow, que arranjaram que ele fizesse a demonstração: estavam presentes 6 mil voluntários de várias ligas amistosas de combate e a SA. No entanto, em troca desse arranjo, Hitler teve que deixar suas 'tropas do partido' desfilarem parcialmente sob a égide da Reichswebr. Rohm uniu a SA e outras ligas de combate para formar a Vaterlandische Kampfverbande Bayerns (VKB), sob o tenente-coronel Hermann Kriebel, anteriormente sequer contar a usar a SA como quisesse, pois seus homens foram entregues a oficiais da Reichswebr para treiná-los como um elemento da reserva secreta que se formava por toda a Alemanha, como parte do Acordo Seeckt-Severing, para fortalecer a mão do regime de Cuno na resistência à ocupação do Ruhr. A SA foi organizada de maneira mais compacta e recebeu um 'estado maior' de oficiais do comando da Reichswebr e dos corpos livres.
Hitler criou a Stosstrupp Hitler, uma força de cem Stosstrupp possivelmente a partir do terceiro Abteilung batalhão da SA de Munique, com uniformes completo e equipados como soldados, com um par de caminhões para serviço especial em apoio às marchas de propaganda, especialmente fora de Munique e nos distritos proletários. A Stosstrupp era uma unidade militar relativamente apolítica que podia ser usada para apoiar a atividade política básica ou um putsch. Sua formação pode ser explicada melhor pela admiração que Hitler tinha pela 'vida militar pura', por seus crescentes temores de traição tanto pelo lado de seus aliados dos corpos livres como da Reichswebr, e por sua relutante aceitação do ambiente putschista no verão e no outono de 1943. Apesar de Himmler nem mesmo estar nessa tropa de choque, e nenhum de seus membros jamais ter desempenhado um papel decisivo na futura SS, os historiadores nazistas iriam assinalar essa formação diminuta e relativamente pouco importante com a origem da SS."


"MARCHA OBSTINADA"

"Os nazistas certamente não se retiraram da luta para estar no centro da arena política naquele verão, mas usaram a SA para demonstrações, marchas de propaganda, arruaças e intimidação, e pela venda nas ruas do extenso Volkischer Beobachter (o jornal diário nazista). Havia limites severos ao seu alcance. Não podiam governar as ruas de Munique sem disputa. Nem Hitler pôde deter o partido Nazista Austríaco em Salzburg naquele agosto, mesmo com a ajuda de Goring para conquistar o Valterlandischer Schutzbund, a antiga OT (Ordnertruppe) de Hermann Reschny, escalada para se tornar a futura SA austríaca. Mas Berlim parecia estar jogando nas mãos de Hitler e Rohm. O regime de Cuno havia caído e Stresemann fracassou em ganhar a direita radical do Norte da Alemanha para uma resistência continuada. Wulle e Graffe do nortista Deustchvolkische Freiheitspartei cortejavam Hitler. No Deustscher Tag em Nuremberg nos dias 1º e 2 de setembro, Ludendorff permitiu tornar-se o símbolo de uma união patriótica de toda a Alemanha (Deutscher Kampfbund). Era uma aliança frouxa, nada superior à antiga VVV (Vereiningte Vaterlandische Verbande) (Ligas Patrióticas Unidas da Baviera) de 1922, e à VKB da primavera. Hitler não se iludia de que controlava essa situação periclitante. Mas havia muitos sinais de uma 'conjuntura revolucionária' na Alemanha, no outono de 1923, uma total falta de confiança na ordem estabelecida, na qual até mesmo a Reichswebr foi varrida por seu fracasso em apoiar uma resistência continuada e armada contra os franceses. Hitler e Rohm acreditavam que podiam canalizar as forças do separatismo bávaro e a renovação de uma política de obediência a Berlim em uma 'Marcha sobre Berlim', modelada no golpe sem sengue de Mussolini. Concordavam com o estabelecimento de Ludendorff como cabeça decorativa, o símbolo de uma Alemanha não derrotada e sem compromissos.
Rohm, depois de ser transferido para fora de Munique pelo Reichswebr, renunciou ao posto, aparentemente para demonstrar sua lealdade a Hitler."


"A ESTRATÉGIA"

"Vários 'Dias da Alemanha' foram patrocinados pelo Deutscher Kampfbund, em Augsburg, Hof e Bayreuth, para incentivar o entusiasmo popular por um putsch. Para cada um desses, os nazistas mandaram sua Stosstrup Hitler, para reforçar a SA local e assegurar a proeminência de seus oradores e se precaver contra a 'traição' dos camaradas dos grupos aliados do volkisch und vaterlandisch. Quando, em 24 de setembro, Stresemann anunciou o fim da resistência no Ruhr, a Baviera respondeu com a reinstituição da ditadura de Von Kahr, e se movimentou na direção da ruptura de sua conexões com Berlim.
O putsch de Hitler consistia em várias demonstrações políticas improvisadas, feitas por pessoas uniformizadas, mas como operação militar era deploravelmente inepta. A tomada da maior parte das cidades bávaras falhou porque as unidades da SA,  Bund Oberland e Reichkriegsflagge, foram para Munique. Não houve um esforço sério para cooperar com os putschistas fora de Munique. No dia 8 de novembro de 1923, várias centenas de SA de Munique cercaram a Bugerbraukeller, e a Stosstrupp Hitler escoltava o excitado candidato revolucionário, Hitler, até o pódio. Seu blefe funcionou por alguns momentos. A incerteza sobre as verdadeiras condições no Reich e as rivalidades e desconfianças mútuas sobre o que o movimento de Hitler havia gerado deu a seu espetáculo de força uma vantagem inicial.
Na manhã seguinte a confusão sobre o futuro de putsch reinava, mas, antes mesmo que o exército ou a polícia disparasse um tiro, alguns membros da Stosstrupp 'prenderam' o prefeito socialista e o conselho da cidade. Homens da SA 'detiveram' judeus e socialistas proeminentes como reféns e os mantiveram sob guarda na Bugeraukeller. Stosstrupp tentou, de modo desanimado, capturar o quartel de polícia do centro, mas desistiu sem disparar. Por volta do meio-dia cerca de 2 mil homens armados em colunas de quatro - Stosstrupp Hitler à esquerda, o regimento SA 'Munchen' no centro, e 'Oberland' à direita - desfilaram diante do Bugerbraukeller na direção da ponte sobre o Isar, que levava ao coração de Munique. Foram saudados por multidões que aplaudiram e dominaram os postos policiais desarmados na ponte. Houve disparos desde a cobertura de edifícios. Morreram catorze putschistas, um deles membro da Stosstrupp. Outra troca de tiros diante do quartel-general do exército matou dois membros da Reichskriegsflagge antes que a rendição fosse arranjada. Grupos da Band Oberland se renderam depois de um breve combate. Dos dezesseis mortos, nenhum era membro da SA."


"Em seu discurso final, Hitler permitiu-se até mesmo celebrar os 'bandos selvagens' de 'nosso crescente exército', que um dia se tornariam regimentos e divisões. Mas já tinha segundas intenções, e na prisão de Landsberg ele pouco se interessou ou comemorou os sucessos eleitorais do Bloco Folclórico-Social, que se formou como coalizão eleitoral de seus seguidores com o Partido da Liberdade nortista, ou com o crescimento de 30 mil homens da Frontbann de Rohm, para a qual afluíram seus SA, assim como muitos outros veteranos de corpos livres. Hitler percebeu como era mal concebido o oportunismo de Rohm e de alguns de seus seguidores, que imaginavam a tarefa dos soldados políticos ser a simples reunião de pessoal e sua condição de ataque, como se a política fosse simplesmente 'partir do topo' em massa, como em 1916. Ele renunciou à liderança dos Hakenkreuzler (homens da suástica) em julho de 1924, em parte por razões táticas superficiais (para sair da prisão), e em parte por razões estratégicas mais profundas desse modo, esperava evitar a responsabilidade pela desintegração que previa, em um momento no qual muitos de seus seguidores ainda acreditavam no pronto alcance das brilhantes promessas de seu discurso final."

O texto desta reportagem foi extraído de trechos do capítulo Pré-História - Os Bandos Selvagens: 1919-24, do livro História Revelada da SS, de Robert Lewis Koehl.

SAIBA MAIS:

História Revelada da SS, de Robert Lewis Koehl. Editora Planeta Fronteira.


A matéria acima foi retirada da revista AVENTURAS NA HISTÓRIA, Edição 147, págs. 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46 e 47. Outubro de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista AVENTURAS NA HISTÓRIA e a Editora Abril/ CARAS.


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