NORBERT GAILLARD EM "SETE ANOS DE ESPERA?"


Na edição de 30 de setembro de 2015, a revista EXAME entrevistou o economista francês Norbert Gaillard, que dentre muitas coisas, falou que o Brasil só conseguirá recuperar o status de bom pagador em 2022. Além disso, ressalta algumas medidas que deverão ser feitas para que o Brasil volte a dominar sua própria economia. A entrevista completa você acompanha a seguir. O Conhecimento Cerebral respeita qualquer tipo de opinião e por isso, não é a favor de qualquer tipo de plágio. Ainda incentivamos o apoio a qualquer veículo de comunicação, desde que trabalhe e priorize a elaboração de informações úteis e verdadeiras.


"O economista francês Norbert Gaillard é um estudioso da atuação das agências de classificação de risco. Autor de um livro sobre como esse tema evoluiu e ganhou importância nas finanças internacionais, ele se tornou consultor sobre o assunto de organismos como o Banco Mundial, o Parlamento Europeu e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Na entrevista a seguir, ele diz que o Brasil deverá levar pelo menos sete anos para voltar a ser considerado bom pagador. Para isso, só austeridade fiscal não basta. É preciso atacar os problemas que atrasam o desenvolvimento da economia.

(EXAME): "Depois que a Standard & Poor's rebaixou o Brasil, pessoas ligadas ao governo, como o ex-presidente Lula, criticaram o trabalho das agências de classificação de risco. Afinal, por que um país é rebaixado?"
Norbert Gaillard: "Os governantes brasileiros precisam entender que o rebaixamento não se deve apenas à atual situação econômica e financeira do país. A mensagem da Standard & Poor's está passando é que o Brasil não têm condições de recuperar o grau de investimento pelo menos nos próximos anos. As projeções mostram que a economia brasileira deve enfrentar uma recessão não só em 2015 mas também em 2016."

(EXAME): "Quanto tempo o Brasil pode demorar para recuperar o grau de investimento?"
Norbert Gaillard: "Antes que a recuperação seja possível, é provável que haja novos rebaixamentos. Nos próximos dois anos, o Brasil deverá perder o grau de investimento que ainda mantém em outras duas agências, a Moody's e a Fitch. A Standard & Poor's também pode rebaixar a nota brasileira mais uma vez em 2016 ou 2017. Mas, se o governo atual e o próximo tomarem as medidas corretas, o país poderá recuperar o grau de investimento até 2022."


(EXAME): "Uma das medidas que o governo está tomando é aumentar os impostos para melhorar as contas públicas. Essa é a única alternativa num momento como esse?"
Norbert Gaillard: "O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está propondo cortes de gastos e aumento dos tributos para garantir superávit primário em 2016. São medidas legítimas, mas de curto prazo. Não tratam dos problemas fundamentais da economia. Atacá-los é uma batalha de longo prazo. O Brasil deve, por exemplo, controlar o crédito ao consumo para evitar uma taxa de inflação na casa de dois dígitos. Apesar dos cortes, precisa encontrar uma maneira de preservar os investimentos em infraestrutura, que contribuem para o desenvolvimento. Por fim, a democracia brasileira tem de amadurecer. Há grandes desafios a vencer, como a corrupção, o partidarismo e a desigualdade social. Sem isso, ainda que a dívida pública fosse menor e o crescimento econômico acelerasse, o Brasil dificilmente receberia uma classificação de risco superior a BBB ou BBB+ (entre os primeiros patamares do chamado grau de investimento). O problema é que a presidente Dilma é hoje muito impopular e tem pouco espaço de manobra para levar adiante uma agenda como essa."

(EXAME): "Há vários países que, uma vez perdido o grau de investimento, não conseguem recuperá-lo. Que erros eles cometem e que o Brasil deve evitar?"
Norbert Gaillard: "Há diferentes tipos de erros. Um é acreditar que as medidas fiscais e de austeridade são uma panaceia. Outro é adotar políticas nacionalistas ou bolivarianas, como fizeram Argentina e Venezuela. O último é dar calote nos credores. Um país que não paga as dívidas precisa se tornar muito amigável ao mercado, implantar reformas profundas e atingir uma taxa de crescimento altíssima para conseguir ser visto novamente como bom pagador. Por fim, é difícil recuperar o grau de investimento quando se negligencia a importância de fortalecer as instituições."

(EXAME): "Qual é a probabilidade de o Brasil dar calote nos credores?"
Norbert Gaillard: "O ano que vem será ruim, mas é baixa a probabilidade de o Brasil dar calote nos investidores no curto ou no médio prazo. Em 2002 e 2003, muitos economistas temiam que isso pudesse acontecer. Na época, o país era financeiramente mais vulnerável. As reservas internacionais somavam 40 bilhões de dólares e muitos investidores viam em Lula um potencial novo Hugo Cháves. De lá para cá, o Brasil elevou as reservas para 350 bilhões de dólares. Não é uma quantia suficiente para fazer frente a uma grande crise internacional, como a da ásia nos anos 90, mas também não é pouca coisa. A pobreza diminuiu. Além disso, apesar dos problemas, poucos investidores acham que o Brasil adotaria políticas bolivarianas. Muitos confiam que, num caso extremo, o Fundo Monetário Internacional socorreria a economia brasileira para evitar uma crise que contagiasse outros países latino-americanos."


A matéria acima foi retirada da revista EXAME, edição 1098, ano 49, nº 18, pág. 42 e 43. 30 de setembro de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista EXAME e a Editora Abril.


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