RONALD COHEN DIZ "É POSSÍVEL TER LUCRO FAZENDO A COISA CERTA"
Em entrevista à Renata Vieira da revista EXAME, edição de 14 de outubro de 2015, Ronald Cohen conta como é possível ter bons lucros, mesmo com finanças sociais. A entrevista completa você acompanha a seguir. O Conhecimento Cerebral respeita qualquer tipo de opinião e por isso, não é a favor de qualquer tipo de plágio. Ainda incentivamos o apoio a qualquer veículo de comunicação, desde que trabalhe e priorize a elaboração de informações úteis e verdadeiras.
"Para Ronald Cohen, considerado o pai das finanças sociais, o investimento de impacto pode estimular transformações significativas na sociedade."
RENATA VIEIRA (EXAME): "Qual é a diferença entre filantropia e investimento de impacto?"
Ronald Cohen: "A doação pura e simples começa a migrar para um modelo em que se medem resultados. Só há retorno financeiro aos investidores se houver melhorias mensuráveis. É possível ter lucro fazendo a coisa certa."
RENATA VIEIRA (EXAME): "Qual é o volume de recursos disponíveis para finanças sociais hoje no mundo?"
Ronald Cohen: "Pelo menos 1 trilhão de dólares nos próximos 20 anos. O dinheiro virá de fundações, filantropos e fundos de pensão. No Brasil, estudos mostram que há pelo menos 50 bilhões de reais para as finanças sociais até 2020."
RENATA VIEIRA (EXAME): "Há evidências de que pode dar resultado?"
Ronald Cohen: "Até 2010 ninguém acreditava nisso. Mas essa percepção mudou com o advento de um dos modelos de investimento social, os títulos de impacto social."
RENATA VIEIRA (EXAME): "Como funciona esse modelo?"
Ronald Cohen: "Na primeira experiência, comparamos o custo do governo para manter um detento com o de ressocialização de um ex-detento. A reabilitação eficiente de 1000 prisioneiros faz o governo inglês economizar 22 milhões de libras por ano - o que pode gerar o retorno de 5 milhões de libras aos investidores que bancaram essa reabilitação. Ainda assim sairá mais barato para o governo repassar parte desse ganho do que gastar com presos reincidentes. Hoje, há outras 30 parcerias como essa em funcionamento só no Reino Unido."
RENATA VIEIRA (EXAME): "Esse tipo de investimento ainda não chegou a muitos países em desenvolvimento. Como avançar?"
Ronald Cohen: "Esse é o próximo passo. No Grupo Global de Gestão de Investimento de Impacto Social, que reúne representantes do G20, propagamos boas experiências. No Brasil, temos parceiros como o empresário Antônio Ermírio de Moraes Neto, do fundo Vox Capital."
RENATA VIEIRA (EXAME): "No caso do Brasil, como as finanças sociais podem ganhar espaço?"
Ronald Cohen: "A primeira condição é ter o governo como parceiro. Depois da experiência inglesa, outros exemplos começam a aparecer no mundo. Nos Estados Unidos, há projetos em Chicago para melhorar o desempenho escolar de crianças com dificuldade de aprendizado. Em Israel, há iniciativas para conter a evasão nas universidades. Agora começam a surgir esforços na África no combate à malária."
RENATA VIEIRA (EXAME): "Como tornar esse tipo de investimento viável num momento de crise?"
Ronald Cohen: "Numa crise falta emprego, e as desigualdades se acentuam. O investimento de impacto é capaz de aportar o dinheiro que o governo não tem para lidar com os problemas sociais. Em vez de arcar com o custo desses problemas, é mais inteligente gastar para preveni-los."
A entrevista acima foi retirada da revista EXAME, edição 1099, ano 49, nº 19, pág. 190. 14 de outubro de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista EXAME e a Editora Abril.
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