ESPECIAL STAR WARS:
O FUTUTO DA SAGA

Antes mesmo de sua aguardada estreia nos cinemas do mundo, inclusive no Brasil, a saga Star Wars já reunia uma multidão de fãs que aguardavam ansiosamente pela próxima história de batalhas entre o universo exclusivo da franquia. Até mesmo quem não era nascido no ano em que o primeiro filme surgiu, em 1977 - Guerra nas Estrelas, compreendia a grandiosidade deste enredo que, revolucionou o cinema e o universo cinematográfico. Assim, George Lucas criou este universo excepcionalmente criativo e único, em todo o planeta. Pensando nisso, o blogger Conhecimento Cerebral, não podia ficar de fora, e homenagear Star Wars, no seu mais recente episódio VII: O Despertar da Força, em cartaz no país desde 17 de dezembro. Prontos para a aventura? Então, que a força esteja com todos!!!


TODA FORÇA À FRENTE
O Despertar da Força, o sétimo episódio de Star Wars respeita os fundamentos que fizeram desta a mais amada franquia do cinema - mas também aponta para um futuro de grandes filmes e novos fãs


Por: Isabela Boscov

As razões não são perfeitamente compreendidas, mas o fato é evidente: Star Wars é um objeto de paixão e de devoção, e tem importância real na vida de milhões de fãs. Portanto, ver vários deles chorando no fim de uma sessão de Star Wars - O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens, Estados Unidos, 2015), já em cartaz no Brasil e na maior parte do mundo, provoca uma emoção também ela genuína: pela primeira vez desde 1983, quando foi lançado O Retorno de Jedi, um filme da série recompensa o apego que lhe é tão largamente dedicado. Desde as vistas do deserto do planeta Jakku que abrem O Despertar da Força, entende-se por que tanta confiança foi depositada no diretor J. J. Abrams - as dunas de Jakku só revelam sua imensidão verdadeira quando se percebe como ficam pequenas, perto delas, as carcaças das naves gigantescas que restaram ali de alguma batalha; e só se nota quão enormes são essas carcaças quando se vê, ao lado delas, a figura de Rey (Daisy Ridley), uma jovem solitária que vive de catar e vender sucata espacial em Jakku. Tudo, em O Despertar da Força, é sublinhado por essas diferenças dramáticas de escala. É uma forma de declarar, à plateia, que um ingresso para uma sessão de Star Wars não pode ser meramente uma passagem para uma galáxia distante, muito tempo atrás; Star Wars tem de tratar sobretudo do drama bem mais próximo e familiar da experiência humana, e imaginar como ele se desenrolaria nessa galáxia devorada por uma guerra civil que nunca termina e que empurra cada homem e cada mulher para um de seus lados - o lado sinistro da Primeira Ordem, o Estado fascista que se ergueu a partir dos escombros do Império, ou o lado bom da Força, que a Resistência quer restaurar.


E como há drama em O Despertar da Força - e aventura, humor e até romance, todos dosados com a sensibilidade que cada vez mais se revela a qualidade preponderante do trabalho de J. J. Abrams. O diretor de 49 anos já demonstrara sua capacidade de ir diretamente ao coração do que cativa o fã de uma criação pop na sua excepcional reformatação de Star Trek. Aqui, seus instintos certeiros impressionam ainda mais: pode soar paradoxal, mas Abrams tinha contra si o fato de ser ele próprio um fã de primeira hora (ocorrida há 11 anos, em um cinema de Los Angeles) de Star Wars. A paixão com frequência turva o julgamento; como reduzir algo à sua essência se tudo o que está ao redor dela às vezes parece igualmente relevante para o fã? Essa miopia, a da crença de que o fã quer mais porque é possível dar mais a ele, foi o que desnaturou os episódios I, II e III, lançados entre 1999 e 2005. De novo se tem aí um paradoxo: George Lucas, o pai da criança, é quem deveria conhecê-la a fundo, mas ele fez exatamente aquilo que tantas vezes os pais fazem - atribuiu a seu filho qualidades que ele não tinha, e deixou de enxergar nele as virtudes reais (Lucas se acreditou também um cineasta, o que nunca foi o seu talento). Mais efeitos digitais, mais criaturas estranhas, mais personagens; isso foi o que ele proporcionou, sem ver que estava subtraindo da saga seu corpo, e deixando nela só o figurino.


Já Abrams, pelo que se vê, não teve dificuldade em separar o garoto de 11 anos que ficou boquiaberto na sala do cine Avco, em 1977, do diretor que, depois de alguma hesitação, topou dar nova vida a um material muito amado, mas bastante dilapidado pela triologia da década passada. Não é só que os fundamentos estão primorosamente cobertos em O Despertar da Força: o argumento que nasce de maneiro lógica dos eventos descritos em O Retorno de Jedi, o roteiro de arquitetura engenhosa, os diálogos saborosos, a concepção visual que respeita e amplifica tudo o que há de melhor na primeira triologia, ou as transições virtuosísticas de tom. O que faz o novo Star Wars ser mais que um ótimo filme para se tornar uma experiência tão prazerosa e eletrizante é que Abrams acerta nos detalhes - cada um deles. Era preciso bolar um novo androide para acompanhar a heroína Rey? É difícil imaginar algo mais gracioso que o redondinho BB-8. Rey tem de trombar com Finn (John Boyega), um stormtrooper (um daqueles soldados de uniforme e capacetes brancos) que desertou da Primeira Ordem por causa de sua aversão a matar? Nem aqueles diretores dos anos 30 e 40 que transformavam comédias românticas em ouro teriam tratado esse primeiro encontro com mais leveza e humor. Os fãs querem criaturas estranhas? Nada de Jar Jar Binks: comedido no departamento do exotismo biológico, o diretor se concentra em Maz Kanata, uma velhinha que toca uma bodega intergaláctica - a quem a atriz Lupita Nyong'o dá uma expressividade rica e uma voz de timbres quentes. Até Kylo Ren (Adam Driver), que tem tanto ódio e tanto poder com o lado negro da Força, tem de se sentir apequenado na presença do Líder Supremo Snoke (Andy Serkis)? Pois há um jeito simples e lógico de a presença de Snoke parecer esmagadora.


A ação, além disso, corre sem pausa, sempre com um mesmo objetivo (reencontrar Luke Skywalker, que se retirou do mundo para um destino desconhecido) e conduzida todo o tempo por Rey. Esta é a hora de dizer que não há gente fraca no elenco e alguns dos atores, como Adam Driver, vêm com muita força (sem trocadilho). A inglesa Daisy Ridley, sobretudo, é um estrondo que vai ser ouvido em toda a galáxia: Daisy, de 23 anos, reúne qualidades que poucas vezes ocorrem de maneira simultânea numa atriz - é tanto carisma, frescor, simplicidade e competência juntos que se tem a impressão de que o enredo flui espontaneamente dela. Rey, sempre tão só no mundo, descobre em Han Solo uma figura paterna, e faz sentido então que Harrison Ford desempenhe no filme um papel de verdade, não apenas a aparição honorária que se imaginava. Sem nem saber como, Rey resiste à tortura de Kylo Ren, e começa a adivinhar em si um desejo, ou talvez um chamado, ao qual ainda não consegue dar nome - mas que é forte o suficiente para que Finn o perceba, e sinta uma certa coragem despertar também nele.
Contar qualquer coisa mais sobre a trama de O Despertar da Força seria um desrespeito - mas é surpreendente o tanto que o próprio filme revela sobre as motivações dos personagens e os laços que os ligam. Em alguns momentos, inclusive, o diretor tira o chão à plateia com sua ousadia. Uma das criações mais célebres de J. J. Abrams foi a série Lost, e, embora ele já estivesse afastado do dia a dia da produção nas últimas temporadas, é certo que aprendeu muito sobre o perigo de ir criando mistérios sem nunca dar a eles uma solução. Neste episódio inaugural de sua nova triologia, Star Wars deixa alguns ganchos espetaculares para as próximas continuações, mas não sem ter antes colocado uns tanto pontos finais aqui e ali. Não há maneira melhor de compreender a determinação com que O Despertar da Força aponta para o futuro, porém, do que observando o cuidado com que foi escolhida a nova porção de seu elenco, e o preparo que ela demonstra: assim como George Lucas passou a Lucasfilm adiante à Disney, para que realizadores como Abrams pudessem imprimir à saga a energia que ela exige, a velha geração de atores passa o bastão adiante, para que novos fãs se deixem conquistar. Essa é uma história que ainda vai longe - muito longe.


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - edição 2 457 - ano 48 - nº 51, págs. 110, 111, 112, 113, 114 e 115. 23 de dezembro de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.

SUGESTÃO

Separamos o Trailer Oficial do filme Star Wars: O Despertar da Força. As imagens são do You Tube e o vídeo, está legendado.


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