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O AVANÇO DAS TRAGÉDIAS

Ao ignorar solenemente o 'mapa das enchentes' nas sete cidades, publicado no domingo neste Diário, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC deixa transparecer o quanto está interessado em solucionar problema que, na última década, deu fim à vida de oito moradores da região. Baseado em consultas ao seu banco de dados e às prefeituras, o jornal apresentou minucioso levantamento com todos os locais propícios a enchentes. Se estivesse realmente disposta a resolver a questão, a entidade poderia dar início imediato ao trabalho.

Todavia, ao ser questionado sobre a contribuição do jornal para a equação do problema, representante do Consórcio disse ontem que não tinha nada a declarar. Interessante notar que a entidade pretende gastar R$ 1,2 milhão pela informação que o Diário lhe ofereceu de graça - ou, melhor dizendo, por R$ 4, que é o preço de nossa edição dominical nas bancas.

É evidente que não se pode duvidar da boa-fé dos componentes da entidade regional, mas necessário questionar os procedimentos que adotaram nas sete cidades. A procrastinação virou método! Para resolver problema típico de verão, época em que mais se registram enchentes, contrataram empresa que só pretende entregar o estudo quando a estação tiver terminado - no momento, para se ter ideia, os funcionários curtem férias.

Enquanto o marasmo e o descaso predominam, os números de mortos aumentam com triste velocidade. No último temporal, registrado no Grande ABC, há menos de duas semanas, morador de Mauá foi surpreendido ao voltar do trabalho, de bicicleta, e, arrastado pela força da enxurrada; morreu afogado na enchente. A tragédia deveria servir para que o presidente do Consórcio, Luiz Marinho (PT), convocasse reunião extraordinária de seus pares para debater intervenções imediatas, já que a previsão é de mais chuvas fortes até o fim do verão, em março. Mas nada parece abalar a convicção dos prefeitos de que o ritmo adotado é o correto. Mesmo que as vítimas cresçam a cada dia.

EDITORIAL retirado do jornal DIÁRIO DO GRANDE ABC, 19 de janeiro de 2016