CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SAÚDE!
"EXAMES QUE SALVAM VIDAS"
"Diagnosticar um tumor em estágio inicial é decisivo para ter sucesso no tratamento. Entenda quando os testes merecem entrar em cena para surpreender e barrar a doença"
"Georgios Papanicolau (1883-1962) era péssimo vendedor de tabletes no centro de Nova York. Médico formado na Grécia, ele migrou para os Estados Unidos em 1913. Após alguns meses e poucas oportunidades, o jovem doutor recebeu uma carta que mudou sua vida: tinha sido admitido como pesquisador da Universidade Cornell. Sua missão no laboratório era estudar o ciclo menstrual de porquinhas-da-índia. Foi lá que o cientista aprendeu a coletar e observar as células do útero das cobaias. Nos anos seguintes, ele expandiu a experiência para mulheres e percebeu que a análise do material obtido era capaz de indicar a presença de unidades defeituosas, o embrião de um tumor maligno. Surgia, assim, o papanicolau, teste empregado até hoje para flagrar a doença no colo uterino e o primeiro método de rastreamento frente ao câncer.
Papanicolau, e a técnica que leva seu nome, inaugurava uma nova fase na oncologia: a chamada prevenção secundária. 'Ela envolve a realização desse e de outros exames, como a mamografia e a colonoscopia, em um grande número de pessoas saudáveis, com o objetivo de revelar um câncer numa fase precoce', resume Paulo Hoff, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Tal checkup, normalmente anual, é um complemento à prevenção primária, ou seja, a adoção de hábitos que minimizam o risco de um tumor aparecer - como praticar exercícios, comer direito e não fumar."
"Mas o que justifica fazer um teste em sujeitos sem queixas e aparentemente numa boa? Primeira razão: a doença costuma ser silenciosa, mal ou nunca dá sintomas no início. 'Em segundo lugar, a detecção precoce faz subir a chance de cura', diz o radio-oncologista Rubens Chojniak, do A.C. Camargo Center Cancer, na capital paulista. As estatísticas falam por si: 90% das mulheres com câncer de mama inicial sobrevivem, ante 15% daquelas que descobrem em fase avançada. Dados similares figuram entre os tumores de próstata, intestino, pulmão..."
"Os estudos demonstram que a melhor maneira de detectar cedo o tumor nas mamas é a mamografia, que utiliza raios X para apurar nódulos no tecido. Se o resultado inicial for positivo, uma biópsia faz a confirmação do diagnóstico. O que gera controvérsia é a idade de início dos exames. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estabelece que mulheres entre 50 e 59 anos devam fazê-los uma vez de dois em dois anos. O governo dos Estados Unidos sugere começar aos 45 anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) acreditam que as mulheres daqui precisam do teste antes, a partir dos 40 anos, uma vez a cada 12 meses. 'Nossa realidade é diferente da americana, em que uma em cada seis delas terá câncer de mama: aqui, uma entre quatro desenvolverá a doença', defende o mastologista Ruffo de Freitas Junior, presidente da SBM."
"Apesar de as vantagens do diagnóstico precoce parecerem incontestáveis, exames de rotina para surpreender o câncer são motivo de uma controvérsia entre experts em saúde pública. Um artigo recente do periódico British Medical Journal causou polêmica ao criticar os esquemas de rastreamento atuais. O texto manifesta a ideia de que não é possível cravar que esses checkups salvam mesmo vidas. 'Não existem provas claras de que eles melhorem os números da mortalidade por câncer', diz o oncologista Vinay Prasad, um dos autores do documento. Professor da Universidade de Saúde e Ciências de Oregon, nos Estados Unidos, ele acredita que seria mais sensato procurar o médico e passar por testes quando pintar algo errado.
O mesmo artigo chama a atenção para os perigos em potencial do rastreamento. 'O povo precisa estar ciente de que existem riscos, como a exposição a muita radiação ou casos de falso positivo, quando o resultado conclui de forma equivocada a presença de um tumor, o que tem um impacto psicológico', diz o médico Gustavo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Não é a toa que, antes de serem liberados, os métodos de detecção passam por estudos envolvendo milhares de pessoas. Só assim é possível atestar que os ganhos de descobrir o problema mais cedo superem possíveis danos da maratona de exames."
"A tecnologia evoluiu tanto que atualmente se avistam massas cancerosas cada vez menores e mais escondidas. 'Daí, às vezes se trata de maneira contundente um tumor que talvez nem se desenvolverá', conta Chojniak. Isso significa submeter alguém saudável a cirurgias ou a doses pesadas de quimio e radioterapia. Buscando uma abordagem mais nacional, hoje especialistas já acompanham a progressão de alguns tipos de câncer, como o de próstata, sem iniciar, de fato, o contra-ataque terapêutico. 'Estamos conseguindo avaliar cada caso e adaptar a recomendação segundo o perfil do paciente e a agressividade da doença', destaca Chojniak."
Papanicolau, e a técnica que leva seu nome, inaugurava uma nova fase na oncologia: a chamada prevenção secundária. 'Ela envolve a realização desse e de outros exames, como a mamografia e a colonoscopia, em um grande número de pessoas saudáveis, com o objetivo de revelar um câncer numa fase precoce', resume Paulo Hoff, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Tal checkup, normalmente anual, é um complemento à prevenção primária, ou seja, a adoção de hábitos que minimizam o risco de um tumor aparecer - como praticar exercícios, comer direito e não fumar."
"Mas o que justifica fazer um teste em sujeitos sem queixas e aparentemente numa boa? Primeira razão: a doença costuma ser silenciosa, mal ou nunca dá sintomas no início. 'Em segundo lugar, a detecção precoce faz subir a chance de cura', diz o radio-oncologista Rubens Chojniak, do A.C. Camargo Center Cancer, na capital paulista. As estatísticas falam por si: 90% das mulheres com câncer de mama inicial sobrevivem, ante 15% daquelas que descobrem em fase avançada. Dados similares figuram entre os tumores de próstata, intestino, pulmão..."
"Os estudos demonstram que a melhor maneira de detectar cedo o tumor nas mamas é a mamografia, que utiliza raios X para apurar nódulos no tecido. Se o resultado inicial for positivo, uma biópsia faz a confirmação do diagnóstico. O que gera controvérsia é a idade de início dos exames. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estabelece que mulheres entre 50 e 59 anos devam fazê-los uma vez de dois em dois anos. O governo dos Estados Unidos sugere começar aos 45 anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) acreditam que as mulheres daqui precisam do teste antes, a partir dos 40 anos, uma vez a cada 12 meses. 'Nossa realidade é diferente da americana, em que uma em cada seis delas terá câncer de mama: aqui, uma entre quatro desenvolverá a doença', defende o mastologista Ruffo de Freitas Junior, presidente da SBM."
"Apesar de as vantagens do diagnóstico precoce parecerem incontestáveis, exames de rotina para surpreender o câncer são motivo de uma controvérsia entre experts em saúde pública. Um artigo recente do periódico British Medical Journal causou polêmica ao criticar os esquemas de rastreamento atuais. O texto manifesta a ideia de que não é possível cravar que esses checkups salvam mesmo vidas. 'Não existem provas claras de que eles melhorem os números da mortalidade por câncer', diz o oncologista Vinay Prasad, um dos autores do documento. Professor da Universidade de Saúde e Ciências de Oregon, nos Estados Unidos, ele acredita que seria mais sensato procurar o médico e passar por testes quando pintar algo errado.
O mesmo artigo chama a atenção para os perigos em potencial do rastreamento. 'O povo precisa estar ciente de que existem riscos, como a exposição a muita radiação ou casos de falso positivo, quando o resultado conclui de forma equivocada a presença de um tumor, o que tem um impacto psicológico', diz o médico Gustavo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Não é a toa que, antes de serem liberados, os métodos de detecção passam por estudos envolvendo milhares de pessoas. Só assim é possível atestar que os ganhos de descobrir o problema mais cedo superem possíveis danos da maratona de exames."
"A tecnologia evoluiu tanto que atualmente se avistam massas cancerosas cada vez menores e mais escondidas. 'Daí, às vezes se trata de maneira contundente um tumor que talvez nem se desenvolverá', conta Chojniak. Isso significa submeter alguém saudável a cirurgias ou a doses pesadas de quimio e radioterapia. Buscando uma abordagem mais nacional, hoje especialistas já acompanham a progressão de alguns tipos de câncer, como o de próstata, sem iniciar, de fato, o contra-ataque terapêutico. 'Estamos conseguindo avaliar cada caso e adaptar a recomendação segundo o perfil do paciente e a agressividade da doença', destaca Chojniak."
CÂNCER COLORRETAL
O rastreamento dos tumores de intestino grosso está entre os campeões em quantidade de evidências científicas que comprovam a sua efetividade. O dilema está na baixa adesão ao método. A colonoscopia requer sedação e consiste em introduzir um tubo flexível com uma câmera pelo ânus. 'Muita gente tem medo e vergonha de fazer o exame', relata o médico Fábio Guilherme Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. As diretrizes também variam: quando há histórico familiar de câncer colorretal ou fatores de risco envolvidos (como doenças preexistentes), o checkup deve ser feito com maior frequência e antecedência em relação ao resto da população. Outra possibilidade é apurar a presença de sangue oculto nas fezes. 'É um método mais barato e simples que a colonoscopia, mas suas conclusões não tão confiáveis', compara Campos.
EXAME
Colonoscopia
QUEM DEVE FAZER
- Quando há histórico familiar: a partir dos 40 anos.
- Quando não há histórico familiar: a partir dos 50 anos.
PERIODICIDADE
A cada cinco anos, se não forem encontradas alterações nos exames.
CÂNCER DE FÍGADO
Quadros de cirrose, problema irreversível causado por consumo excessivo de álcool, depósito de gordura no órgão ou infecções virais, elevam o risco de câncer hepático. A sugestão é realizar averiguações periódicas com ultrassom - e abolir, claro, os fatores de agressão ao fígado.
CÂNCER DE ESTÔMAGO
Os tumores gástricos são os que provocam mais mortes em países como Japão, China e Taiwan. Por isso, descendentes de asiáticos devem consultar o médico e, caso necessário, passar por endoscopias para visualizar úlceras no órgão. Do contrário, o exame é indicado apenas quando há sintomas.
CÂNCER DE PRÓSTATA
Investigar uma das doenças mais prevalecentes (e preocupantes) na ala masculina vira e mexe suscita polêmica. O Inca não dá aval a programas de rastreamento do problema. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), por sua vez, pede que os homens com mais de 50 anos façam anualmente os exames de sangue, para impedir os níveis do PSA, e de toque retal. 'Indicamos os dois porque em 20% dos tumores não há alterações nos testes sanguíneos', justifica o urologista Henrique Rodrigues, da SBU. Segundo a entidade, negros e indivíduos com familiares afetados devem estrear o checkup antes, aos 45 anos.
EXAMES
PSA e toque retal
QUEM DEVE FAZER
- Homens negros e quando há histórico familiar: a partir dos 45 anos.
- Quando não há histórico familiar: a partir dos 50 anos.
PERIODICIDADE
Uma vez por ano
"A tendência atual é individualizar as recomendações de rastreamento e restringir a prescrição dos exames a um grupo específico de pacientes, que apresentam uma probabilidade elevada de propagação da doença. É o caso, por exemplo, da tomografia anual para o câncer de pulmão, indicada a fumantes com mais de 55 anos, ou a avaliação da próstata que começa cedo em afrodescendentes, etnia com incidência elevada da enfermidade. 'Essa racionalização é essencial a fim de minimizar os danos à população e alocar os recursos financeiros de forma eficiente', analisa Hoff.
Embora se fale muito sobre a idade inicial para a rotina de testes, ainda não está claro quando eles deveriam parar de ser indicados. 'Nos mais velhos, são diagnosticados tumores de crescimento lento, em que aumenta o risco de morrer por outras causas, como infarto ou derrame', explica o epidemiologista Arn Migowski, da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do Inca. Ou seja: o sujeito não teria sintomas e morreria com o tumor, mas não em decorrência dele. Geralmente, os especialistas ponderam a situação e, se concluírem que a expectativa de vida da pessoa é inferior a dez anos, não há sentido em continuar pedindo mamografia e companhia ilimitada.
O ideal é que médico e paciente compartilhem impressões e decidam, juntos, quando e como fazer o checkup. 'Até porque o exame é apenas um pedaço de papel que não trata ninguém', diz Fernandes. É preciso colocar na balança histórico familiar, fatores de risco e as vantagens e desvantagens de um eventual tratamento de acordo com a situação. 'A chave está em criar um vínculo com o paciente e, a partir daí, estabelecer um programa de cuidados com a saúde, que pode incluir um rastreamento', completa. Desde a invenção do grego Papanicolau, a mira para flagrar o câncer ficou, sem dúvida, mais certeira. Mas é o uso consciente dessa arma (e a escolha dos alvos) que tornará a guerra contra o câncer mais inteligente e efetiva."
CÂNCER DE PELE
Quem possui a pele clara precisa ficar atento a mudanças em pintas e verrugas. Vale checar durante o banho, na frente do espelho... É um exame fácil e barato para um mal que vem crescendo no país. Se você perceber algo estranho, procure o dermatologista.
CÂNCER DE OVÁRIO
Levantamentos recém-publicados experimentaram o uso de ultrassom e testes que medem a concentração do marcador CA-125 no sangue. Mas, infelizmente, a tática não demonstrou resultado: o índice de falsos positivos ainda é elevado.
CÂNCER DE PULMÃO
O tumor que mais mata no mundo entrou recentemente no rol dos rastreáveis, após o término do National Lung Screening Trial, estudo americano que acompanhou 53 mil tabagistas. Metade deles fez tomografias de tórax de baixa dose de radiação, enquanto a outra parcela passou por radiografias. 'A experiência precisou ser encerrada antes do prazo porque no grupo de tomografia foi observada uma redução de 20% na mortalidade pela doença', conta o cirurgião de tórax Ricardo Sales dos Santos do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. O exame anual começou a ser prescrito nos Estados Unidos a quem fuma ou fumou um maço diário de cigarros por mais de 30 anos. 'Trabalhamos agora na classificação dos nódulos nos pulmões para saber qual será a conduta médica após o diagnóstico primário', detalha Santos, investigador do ProPulmão, pesquisa com cerca de 800 voluntários que analisa a adoção da estratégia em terras brasileiras.
EXAME
Tomografia computadorizada de baixa dosagem
QUEM DEVE FAZER
- Tabagistas ou quem parou de fumar há menos de 15 anos.
- Indivíduos que fumaram um maço diário nas últimas três décadas, com idade entre 55 e 74 anos.
PERIODICIDADE
Uma vez ao ano.
CÂNCER DE COLO DE ÚTERO
'O papanicolau é um exame extremamente bem-sucedido, capaz de baixar em até 80% a incidência do câncer de colo de útero', elogia o virologista alemão Harald zur Hausen, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 2008, após desvendar o papel do vírus do papiloma humano (HPV) na enfermidade. Ele também aposta em métodos complementares na detecção, como testes de DNA que descobrem partículas de HPV em nosso material genético. 'Além disso, a vacinação contra o vírus, aplicada em crianças e adolescentes, ajuda a evitar lesões pré-cancerosas', completa.
EXAME
Papanicolau
QUEM DEVE FAZER
Todas as mulheres entre 25 e 64 anos
PERIODICIDADE
Uma vez ao ano - após dois resultados negativos consecutivos, o exame pode ser feito a cada três anos.
A matéria acima foi retirada da revista SAÚDE É VITAL - nº 401, págs. 24, 25, 26, 27, 28 e 29. Março de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista SAÚDE É VITAL e a Editora Abril.
A matéria acima foi retirada da revista SAÚDE É VITAL - nº 401, págs. 24, 25, 26, 27, 28 e 29. Março de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista SAÚDE É VITAL e a Editora Abril.
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