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"QUEM SOU, ONDE ESTOU, AONDE ESTOU"
"Embora deixe uma sensação de déja vu, Procurando Dory demonstra ousadia: devolve  à sua protagonista algo de sua memória - e a lança, assim, no sofrimento"


Por: Isabela Boscov

"Em Procurando Nemo, de 2003, Dory era uma coadjuvante cheia de graça: como a peixinha azul se esquecia de tudo o tempo todo, o mundo lhe parecia sempre novo em folha, transbordante de deslumbramento. Procurando Dory (Finding Dory, Estados Unidos, 2016), contudo, já que em sua primeira cena reconfigura esse traço adorável como aquilo que ele verdadeiramente é - uma aflição. No filme, que estreia nesta quinta-feira no país, veem-se em flashback o pai e a mãe de Dory tentando ensinar à sua filhotinha de olhos enormes uma frase simples: 'Sofro de perda de memória recente'. Mal aprende a frase com que deve se apresentar a estranhos, e Dory já a desaprende. Seus pais vivem em tormento: e se sua menina se perder no oceano? Quando a história retorna ao presidente, já se sabe que Dory se separou de seus pais, sim. Mas vive feliz na companhia de Marlin e seu filho Nemo porque não tem a menor lembrança sequer de ter tido pais. Quando uma imagem do passado rasga sua consciência, porém, o sentimento do que ela perdeu se apossa dela. Dory mergulha em uma insatisfação existencial. Topa atravessar os mares junto de Marlin e Nemo, então, à procura de seus pais.
Mais uma vez, a Pixar faz de emoções turbulentas - perda, sofrimento, angústia, arrependimento - o tema de uma animação. E, como em Divertida Mente, trabalha assuntos complexos de forma apropriada ao público infantil, mas sem barateá-los. A façanha só não se iguala aos melhores trabalhos da produtora porque o retorno ao cenário do Procurando Nemo rouba de Dory muito da novidade. O reenquadramento da protagonista é inesperado, e os treze anos de avanços tecnológicos tornam o fundo do mar ainda mais lindo e tátil: mas o percurso que o roteiro segue é familiar, as situações se repetem, e os personagens à volta de Dory percorrem círculos.
É provável que a sensação de déja vu desaponte mais os adultos que as crianças, mas o curta-metragem que precede Procurando Dory nos cinemas só a acentua: Piper - Descobrindo o Mundo, sobre um filhotinho de maçarico que quer aprender a ciscar na areia mas se traumatiza ao levar um 'caldo' de uma onda, é a explosão de encanto e poder narrativo que se espera da Pixar. Não é impossível que, em retrospecto, o espetacular prefira que os fatores estivessem invertidos: seguir o passarinho seria uma proposição bem mais estimulante."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2 484 - Ano 49 - nº 26, pág. 102. 29 de junho de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


SUGESTÃO

Separamos o trailer de Procurando Dory para que você assista. O primeiro está em português, e o segundo, em inglês. As imagens são do YouTube.



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