INTERNACIONAL


"APÓS TENTATIVA DE GOLPE, GOVERNO TURCO FECHA 45 JORNAIS E 16 EMISSORAS DE TV"


Por: Patrícia Campos Mello
       DE SÃO PAULO

"O governo turco anunciou nesta quarta (27), o fechamento de 45 jornais e 16 estações de TV do país, segundo a agência estatal Anadolu, e a Justiça local emitiu ordem de prisão contra 47 jornalistas.
Entre eles está o respeitado colunista e cientista político Sahin Alpay, detido em sua casa pela manhã.
Na segunda-feira (25), as autoridades do país já haviam anunciado a detenção de 42 jornalistas, parte dos expurgos contra suspeitos de participar da tentativa fracassada de golpe no país.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusa o clérigo Fethullah Gulen, em auto-exílio nos Estados Unidos desde os anos 1990, de criar um 'Estado paralelo' e instigar o golpe de Estado.
Gulan nega envolvimento.
Desde a tentativa de golpe em 15 de julho, o governo turco suspendeu ou deteve mais de 60 mil soldados, juízes, policiais, professores e jornalistas acusados de terem ligações com Gulen. Dentre esses, mais de 15 mil estão presos.
Sahin Alpay era colunista do 'Zaman', maior jornal do país até ser interditado em março. A publicação era ligada a Gulen. Mas Alpay era um conhecido ativista de esquerda e secular, sem ligação clara com o clérigo, e era ex-integrante do CHP, o principal partido de oposição secular.
'Essas prisões são uma caça às bruxas, uma tentativa de criminalizar opiniões críticas ao governo', disse à Folha o turco Timur Kuran, professor de economia, ciência política e estudos islâmicos da Universidade Duke.
'Alpay simplesmente trabalhava em um jornal ligado ao movimento de Gulen e simpatizava com as atividades de caridade do movimento, não tem nenhuma ligação com terrorismo ou tentativa de derrubar o governo'.
Alpay e outros jornalistas foram presos pela divisão antiterrorismo do governo, acusados de 'participação em organização terrorista' e 'tentativa de dissolver o governo da República turca'.
Segundo Kuran, há indícios de que o movimento de Gulen, aliado a outros grupos, estaria envolvida na tentativa de golpe. 'Mas a repressão que veio com o contragolpe, com a prisão imediata de milhares de dissidentes, muitos dos quais não têm nada a ver com Gulen, são apenas opositores de direita ou esquerda, mostra que o governo buscava apenas de um pretexto para prender pessoas'.
A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) condenou as ordens de prisão nesta quarta.
'Criticar o governo ou trabalhar para veículos de mídia que apoiam o movimento Gulen não são prova de envolvimento no golpe fracassado. Se as autoridades não conseguirem apresentar indícios mais concretos, serão culpadas de perseguir as pessoas por causa das opiniões delas, e isso é inaceitável', disse Johan Bihr, chefe do RSF para Europa do leste e Ásia central.
A Turquia está em 151 lugar no ranking de Liberdade de Imprensa no Mundo, que avalia 180 países.
O jornalista Yavuz Baydar, que também está na mira do governo, saiu do país e não pretende voltar para a Turquia enquanto vigorar o estado de emergência decretado na quinta-feira (21). Com o decreto de emergência, os dias de prisão preventiva legal passaram de quatro a 30 e mais 2.000 instituições foram dissolvidas.
Baydar conversou com Alpay há quatro dias. Ele disse estar preocupado, porque Alpay tem 72 anos e problemas respiratórios. 'Disse que ele deveria ir para a Grécia ou algum outro lugar esperar a situação se acalmar. Ele me disse: 'Estou muito velho para isso, vou esperar meu destino aqui mesmo'.
Governos ocidentais e grupos de direitos humanos, ao mesmo tempo em que condenaram a tentativa de golpe que resultou em 246 mortos e cerca de 2.000 feridos, expressaram preocupação com a reação de Erdogan, sugerindo que o presidente turco esteja usando a tentativa de golpe para reprimir opositores e aumentar seu poder."

Notícia retirada do site FOLHA DE S. PAULO, 27 de julho de 2016 (Acesso: 27/07/2016)

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