SOCIEDADE


"PARA ESPECIALISTAS, PROBLEMA ESTÁ NO RACISMO"
"Profissionais negros são minoria no topo da hierarquia das empresas, problema que vem despertando iniciativas"


"Falta disposição dos gestores para contratar profissionais negros, afirma consultora de RH especializada.
O impacto da recessão econômica foi maior sobre negros do que sobre brancos porque eles estão concentrados no setor informal, mais vulnerável a oscilações, mas também, segundo especialistas, pela sobrevivência de uma visão racista no mercado de trabalho, à qual profissionais qualificados no setor formal não estão imunes.
'Além de serem preferencialmente demitidos, os negros também são preferencialmente recusados', afirma Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, que desde 2001 estuda o perfil racial e de gênero das 500 maiores empresas com atuação no Brasil."


"Segundo a edição mais recente do estudo, publicada em 2016, os negros concentram-se nos níveis de aprendiz (57,5%), estagiário (28,8%) e trainee (58,2%), cenário que reflete a ampliação do acesso ao ensino superior resultado das políticas de financiamento ProUni e Fies.
Conforme se sobe na hierarquia empresarial, porém, o percentual de negros cai para 6,3% no nível de gerência, 4,7% no quadro executivo e 4,9% no conselho de administração, aponta o estudo.
'Existe uma percepção cultural inconsciente de que, para uma mesma tarefa, o branco vai ser melhor que o negro', diz o diretor do Ethos.
Um estudo recente do que Magri se refere foi denunciado pelo presidente da filial brasileira da multinacional Bayer, Theo Van der Loo. Segundo o executivo, um conhecido negro 'com uma excelente formação e currículo' foi reprovado em processo seletivo por sua cor.
'Quando o entrevistador viu sua origem étnica, disse à pessoa de RH que ele não sabia deste detalhe e que não entrevistava negros!', afirmou em rede social.
O profissional, que atua na área de tecnologia da informação, afirmou em entrevista à 'BBC Brasil' que essa não foi a primeira vez que foi vítima de racismo em sua carreira - já foi chamado de 'macaco' e ouviu que tinha sorte por 'não ser burro'.
Ele não quis ser identificado por receio de ser estigmatizado como 'vitimista'.
Na tentativa de promover maior diversidade, o Ethos lançou na terça-feira (16) a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, iniciativa com o Banco Interamericano do Desenvolvimento. Vinte empresas aderiram ao projeto, como a Coca-Cola e a Natura."


"EMPREGUEAFRO"

"A situação não é novidade para Patrícia Santos, 37, especialista em recursos humanos. Há 12 anos, ela fundou a Empregueafro, empresa especializada na colocação profissional de negros e que presta serviços para empresas como Avon, Carrefour e Basf.
'Nas empresas em que trabalhei notei a falta de negros nos processos seletivos. Eles nem se candidatavam. Por isso criei a Empregueafro como um projeto social para ajudar negros na preparação de currículos e para entrevistas'.
À época, ela acreditava que bastava ampliar o número de candidatos para que o número de contratados também aumentasse. Passados 12 anos, porém, a empresa conseguiu recolocar apenas 120 profissionais.
'Comparada a uma consultoria de RH comum, nossos números são muito baixos. Mas isso porque percebi que a decisão de contratação cabe unicamente ao gestor. O que precisamos é de conscientização e engajamento', afirma." (Fernanda Perrin)


Notícia retirada do jornal FOLHA DE S. PAULO - EDIÇÃO DIGITAL - Ano 97 - nº 32.189, págs. A25. Mercado. 20 de maio de 2017, Sábado (Acesso: 20/05/2017)

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