TRABALHO


"DIFERENÇA DE RENDA ENTRE BRANCOS E NEGROS CRESCE COM DESEMPREGO"
"Rendimento de pretos e pardos caiu desde 2015, enquanto o de brancos melhorou, mostra IBGE"


Por: Fernanda Perrin
        DE SÃO PAULO

"Diferenças nos tipos de empregos ocupados por cada um dos grupos explica esse impacto, afirmam especialistas.
O avanço do desemprego fez a desigualdade de renda entre brancos e negros voltar a crescer, interrompendo um processo de redução que se iniciara na década passada.
Entre 2015 e o primeiro trimestre deste ano, a remuneração recebida por em todos os trabalhadores teve variação positiva de 0,8%. Já o rendimento de pardos caiu 2,8% no período, e o de pretos, 1,6%, de acordo com dados e classificação do IBGE.
Até então, a situação era inversa: entre o primeiro de trimestre de 2012, início da série histórica, e o último de 2014, o rendimento de pretos cresceu 8,6%, o de pardos, 6,5%, e o de brancos, 5,6%. 
O resultado é que um negro ganha 56% do rendimento médio de um branco, ante 59% no último trimestre de 2014. Já a renda do trabalho dos pardos é equivalente a 55% da que brancos têm - no fim de 2014, era de 57%.
A principal explicação para o retrocesso é a diferença de inserção profissional. Enquanto quase metade dos brancos está empregada com vagas em carteira, os negros concentram-se no mercado informal, em vagas sem carteira ou como autônomos, segundo dados de 2015 do Ipea.



Apesar dessa distribuição desigual, os rendimentos de negros vinham crescendo mais rápido do que os de brancos. Entre 2001 e 2011, o rendimento da população negra aumentou 41,6%, ante aumento de 18,9% na renda dos brancos nesse mesmo período, de acordo com Ipea.
Isso aconteceu graças às políticas de valorização do salário mínimo e do crescimento dos setores de serviços e construção civil, em que a participação de negros é expressiva, diz o economista Marcelo Paixão, professor da Universidade do Texas em Austin (EUA) e coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas de Relações Raciais (Laeser).
'O problema é que esses são os piores trabalhos, mais instáveis, de alta rotatividade', afirma Antonio Teixeira, pesquisador da coordenação de gênero e raça do Ipea.
'A contradição desse processo é que você teve uma melhora substantiva, mas ela se deu na base da pirâmide de rendimentos, motivo pela qual a desigualdade continuou elevada. O efeito esperado de um período de crise é que essa base seja mais impactada, por causa do tipo de emprego que ocupa', diz.
Os setores de construção e serviços entre os mais afetados pela recessão. Reflexo disso, a diferença na taxa de desemprego entre brancos, pretos e pardos, que gritava em torno de três pontos percentuais em 2014, aumentou para seis pontos este ano."



Notícia retirada do jornal FOLHA DE S. PAULO - EDIÇÃO DIGITAL - Ano 97 - nº 32.189, pág. A23. Mercado. 20 de maio de 2017, Sábado (Acesso: 20/05/2017)

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