CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA VIOLÊNCIA!


"O MASSACRE DOS JOVENS"
"Ao explodir uma bomba dentro de um estádio depois de um show da cantora Ariana Grande, o Estado Islâmico aumenta mais um grau em sua barbárie alucinada"



Por: Johanna Nublat

"Após os últimos acordes do show da pop star americana Ariana Grande, na segunda-feira 22, os fãs pegavam as bexigas cor-de-rosa lançadas do alto pela produção no interior da arena Manchester, na Inglaterra, já com as luzes acesas. Aos poucos, eles se encaminhavam em direção à saída para encontrar seus pais ou ir sozinhos para casa. Perto das 22h30, o inglês Salman Abedi, de 22 anos - um ano mais jovem que a artista -, foi até o hall entre a arena, o estacionamento e a estação de trem e, com um detonador do tamanho de uma caneta na mão esquerda, explodiu a bomba que estava em sua mochila azul, espalhando pedaços de pregos, porcas e parafusos por todos os lados. O chão tremeu e o barulho foi ouvido até do lado de fora do complexo. O torso de Abedi foi projetado em direção à arena. Vinte e duas pessoas estavam em um semicírculo atrás do terrorista tiveram o corpo dilacerado e morreram. Quase metade das vítimas tinha menos de 20 anos."


"Depois de um curto silêncio, o pânico tomou conta dos sobreviventes. Quem estava dentro da casa de shows tentou sair correndo pelas escadas. Pais desesperados começaram a buscar suas crianças na multidão. 'Quando me levantei e olhei em volta, havia umas trinta pessoas espalhadas por toda parte, algumas pareciam mortas', afirmou Andy Holey, que esperava a família sair da apresentação e teve o corpo arremessado alguns metros pela explosão. 'Foi uma carnificina. As pessoas derrubavam uma às outras, era uma corrida para sair dali', disse Charlotte Fairclough, de 14 anos, que ganhou o ingresso do show de presente de Natal. 'Podia-se ouvir adultos dizendo às crianças pequenas que o barulho não era mais que a explosão de um balão', afirmou a adolescente, Paul Reid, de 43 anos, contou ter dado apoio à mais jovem das vítimas: Saffie Roussos, de 8 anos. 'Queria mantê-la conversando e perguntei se havia gostado do show, mas ai percebi que ela tinha dificuldade para respirar', disse ele. 'Ela me perguntou: 'Onde está minha mãe? O que aconteceu?'.' Saffie deixou o local em uma ambulância, ainda consciente, mas faleceu logo depois."


"A sobrevivente Abby Mullen, que decidiu sair minutos antes do fim do show para evitar a fila de táxis e acabou vendo a explosão de frente, contou no Facebook que ficou com o corpo banhado em sangue, pele e fezes das vítimas. Em meio ao caos, dois moradores de rua começaram a ajudar as vítimas, chegando a tirar pregos dos braços e do rosto das crianças. Um deles, Chris Parker, contou ter amparado uma mulher cerca de 60 anos, que acabou morrendo em seus braços. 'Não parei de chorar', afirmou. Em torno de 120 pessoas ficaram feridas, e 23 permaneciam sob cuidados especiais. O ataque, o pior na Inglaterra desde as explosões no transporte público de Londres em 2005, foi reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI)."


"Não há nada que possa minimamente justifica um ato de selvageria como o que aconteceu em Manchester. Abedi, que nasceu na Inglaterra, era filho de um casal de exilados que deixou a Líbia para escapar do déspota Muamar Kadafi. Ao fugirem de uma tirania, eles encontraram na Inglaterra o lugar ideal para refazer a vida, mais precisamente em um bairro povoado sobretudo por líbios. A mãe de Abedi, Samia Tabbal, era uma engenharia formada em ciência nuclear. Seu pai, Ramadan, era segurança de aeroporto, Salman, o terceiro filho, chegou a estudar administração na Universidade Salford,  mas deixou o curso no 2º ano para trabalhar em uma padaria. Como outros jovens filhos de imigrantes, Abedi se radicalizou há poucos anos, à vista de todos. Parou de beber álcool e de fumar maconha e deixou a barba crescer. Certa vez, chegou a colocar no telhado uma bandeira islamita preta com escritos em árabe. Ao se aproximar do EI, passou a odiar o Ocidente e os valores intrínsecos à vida em liberdade. No comunicado em que admitiu a autoria do ataque, o EI chamou a arena de um lugar 'despudorado' e os fãs da cantora de 'cruzados'."


"Ariana Grande, que começou sua carreira como atriz, obviamente não é líder de despudorados ou cruzados. Com um visual provocante e ao mesmo tempo ingênuo, ela inspira as meninas e prega o respeito às diferenças sexuais. Na música Dangerous Woman (Mulher Perigosa), do último disco, ela canta: 'Não preciso de autorização. Decidi testar meus limites porque sou eu quem decide'. Ao entoarem suas músicas, as fãs esbanjavam otimismo e capacidade de decidir o próprio destino, coisas que irritam a menta deturpada dos fundamentalistas. Essa não foi a primeira vez que terroristas islâmicos miraram especificamente crianças e adolescentes. Em 2004, islamistas chechenos e árabes invadiram uma escola em Beslan, no interior da Rússia, e massacraram duas centenas de crianças. Em 2014, terroristas mataram 132 alunos numa escola em Peshawar, no Paquistão."


"A polícia inglesa descobriu indícios de que Abedi não agiu sozinho. Ele viajou várias vezes para a Líbia e tinha voltado de lá fazia poucos dias. Após o ataque em Manchester, seu irmão mais novo, Hashem, foi preso pela polícia em Trípoli, capital da Líbia. Ele admitiu pertencer ao Estado Islâmico. O grupo, depois de ter sido expulso de Sirte e dominado parte da costa norte do país, foi derrotado e centenas de seus terroristas espalharam-se pela Líbia, que ainda tenta se recompor da guerra civil que derrubou Kadafi, em 2011. É possível também que Abedi tenha ido à Síria. O explosivo usado na arena era bem elaborado, o que pode indicar que ele o tivesse recebido de alguém. Se comprovadas essas pistas, o atentado de Manchester entrará para a categoria de ataques não apenas inspirados na ideologia do grupo, mas de fato organizados pelo EI, como é o caso da série de explosivos e tiroteios que mataram 130 pessoas em Paris, no fim de 2015, e das bombas no aeroporto e no metrô de Bruxelas, no início de 2016. 'Qualquer pessoa com um passado como o dele e que vai à Líbia deveria ser detida e investigada na sua volta à Inglaterra. Não há duvida de que houve um erro da comunidade de inteligência', diz Anthony Glees, diretor do Centro para Estudos de Segurança e Inteligência da Universidade de Buckingham. Na semana passada, oito pessoas foram detidas sob suspeita de integrar uma célula terrorista ligada a Abedi."


"Nos últimos doze anos, acreditou-se que a Inglaterra estava a salvo de grandes ataques. A ameaça, contudo, sempre esteve presente. Desde 2013, as autoridades frustraram dezoito planos de atentado. Em um dos casos, um suspeito de 27 anos foi interceptado com facas nos arredores do Parlamento, um mês depois do ataque que matou quatro pessoas no mesmo local. O atentado em Manchester ocorre a menos de três semanas das eleições gerais no país. O mais provável é que seja mantida a maioria dos conservadores, do governo da premiê Theresa May, que se mostrou firme após o ataque e tem experiência como ministra do Interior. Na semana passada, os moradores de Manchester, em vigila pelas vítimas, ostentaram cartazes com frase: 'O ódio não vai nos separar'. O mundo vive tempos sombrios."


A matéria acima foi retirada da revista VEJA - Edição 2532 - Ano 50 - nº 22, págs. 78, 79, 80 e 81. 31 de maio de 2017. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.


SUGESTÃO

Separamos um pequeno vídeo-notícia, transmitido pelo jornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, sobre o ataque na Arena Manchester. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.


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