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CAPÍTULO 2: IDADE MÉDIA - O PODER DA IGREJA
FORÇA ILIMITADA
Dona de grande poder político e econômico, a Igreja foi a principal instituição da Europa medieval
Nenhuma instituição foi tão rica, bem organizada e poderosa durante a Idade Média na Europa quanto a Igreja Católica. Com a transformação do cristianismo em religião oficial do Império Romano, em 391. durante o reinado de Teodísio, a Igreja passou a acumular fortunas e vastos territórios, tornando-se altamente influente também no âmbito político.
No século V, já durante a Idade Média, a instituição tinha uma organização hierárquica definida - com padres e sacerdotes na base da pirâmide, bispos logo acima e o papa no topo - e estava bem instalada no continente. Os religiosos dedicaram-se a converter os bárbaras e a promover sua integração com os romanos, ganhando prestígio e passando a assumir funções administrativas nos novos reinos. Dessa forma, a Igreja garantiu uma unidade religiosa, política e cultural em uma sociedade altamente desagregada.
O poder do catolicismo esteve intrinsecamente ligado às estruturas do feudalismo, o sistema social predominante na Europa durante a Idade Média. Ao afirmar que tudo o que acontece na Terra é a representação da vontade divina, a própria divisão social no sistema era justificada como desejo de Deus. Segundo o conceito defendido pela Igreja, Deus determinou que existissem os que rezam, os que lutam e os que trabalham. Por isso, as contestações ao sistema e ao poder católico não eram comuns no auge do feudalismo.
PECADOS E DOGMAS
Uma das provas do poder da Igreja Católica durante a Idade Média foi a utilização do conceito dos Sete Pecados Capitais, surgido antes mesmo do cristianismo, mas brilhantemente apropriado pelo catolicismo. Pecado Capital, segundo a definição da própria Igreja, é aquele que, uma vez cometido, não é passível de perdão. São eles: gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e soberba. A ameaça de punição eterna para quem cometesse um dos pecados garantia o controle sobre a população e ajudava a Igreja a preservar seu poder.
Ao longo dos séculos, a Igreja também estabeleceu uma série de dogmas - doutrinas aceitas como verdades que não admitem contestação. Segundo a pregação católica, ao seguir essas regras, os fiéis garantiriam um lugar no paraíso. Além de manter a população sob controle ao regular todos os aspectos da vida da população medieval, a Igreja também pedia doações de bens aos fiéis com a justificativa de ajudar a propagar a missão.
INQUISIÇÃO
Com tanto poder nas mãos, as autoridades católicas fizeram de tudo para aumentá-lo ainda mais. Para isso, muitas vezes usavam como pretexto o suposto combate à heresia (prática contrária à doutrina da Igreja). O símbolo máximo dessa repressão foi a instauração, em 1231, dos tribunais do Santo Ofício, ou Inquisição, que tinham poderes para julgar e condenar à morte os réus considerados infiéis. Na verdade, quase todos os condenados eram simplesmente pessoas que discordavam dos desmandos católicos ou opositores dos aliados da Igreja. Uma das vítimas famosas da Inquisição foi a camponesa Joana D'Arc, queimada viva em 1431, sob a acusação de bruxaria.
A intensa participação dos clérigos nas questões terrenas provocou reações de alguns cristãos, que se isolaram para viver de forma simples, sob votos de castidade e pobreza. Desse setor nasceram as ordens monásticas, cujos membros habitavam mosteiros e se dedicavam ao trabalho intelectual e à oração. A Ordem dos Beneditinos, fundada por São Bento, em 525, consolidou a estrutura dessas organizações.
Além da versão medieval, aplicada entre os séculos XIII e XV, a Inquisição também foi retomada entre os séculos XV e XIX. Concentrada em Portugal e na Espanha, a Inquisição moderna foi uma resposta à expansão das doutrinas protestantes.
FILOSOFIA MEDIEVAL
Além de deterem poder político e econômico, os sacerdotes formavam a elite que sabia ler e escrever e passaram a encerrar em si o monopólio do conhecimento. O pensamento filosófico da época foi intensamente influenciado pelo cristianismo. confundindo-se com a teologia.
Em termos ideológicos e filosóficos, podemos dividir o pensamento católico na Idade Média em duas partes: durante a Alta Idade Média (secs. V a X), fase na qual o poder da Igreja era incontestável, e durante a Baixa Idade Média (sécs. X a XV), fase de declínio das estruturas feudais e, consequentemente, do poder católico. As diferentes filosofias do pensamento católico. As diferentes filosofias no período podem ser entendidas como uma mudança de mentalidade, decorrente das transformações econômicas e sociais da Baixa Idade Média.
Refletindo a influência da Igreja na sociedade, os maiores expoentes da filosofia medieval eram religiosos:
- SANTO AGOSTINHO Pode ser considerado o primeiro grande teórico católico. Viveu entre os séculos IV e V, época do declínio do Império Romano e do fortalecimento da Igreja Católica. Para ele, o único motivo para o homem filosofar é buscar a felicidade, por meio da aproximação com o divino. A fé seria, portanto, a única forma de se alcançar a felicidade eterna, ou seja, a beatitude. Assim, a felicidade estaria nas coisas de Deus e não no mundo terreno, aproximando-o do pensamento de Platão. A alma, por isso, é hierarquicamente superior ao corpo. Apesar da defesa da supremacia da fé, Agostinho valorizava a razão humana, uma vez que crer é um exercício humano, logo, racional. Segundo ele é necessário "intellige ut credas, crede ut intelligas" (compreender para crer e crer para compreender).
- SÃO TOMÁS DE AQUINO Viveu durante o século XIII, em uma fase na qual se iniciava a contestação do poder absoluto da Igreja Católica. Seu grande desafio foi o de conciliar a filosofia aristotélica aos dogmas do catolicismo. Bastante popular, Aristóteles chegou a ser proibido pelo papa Gregório IX, no início do século XIII, por ignorar a concepção de um Deus criador e da alma imortal, afirmando que ela nasce e morre com o homem. O processo de cristianização de Aristóteles, efetuado por Tomás de Aquino, partiu do conceito clássico da distinção entre essência e existência. Para Aristóteles, a essência do ser humano é ser um animal racional, podendo ou não ter uma existência individual, já que as qualidades acidentais (cor, sexo, idade) não constituem essa essência. Já para Aquino, a essência dos seres humanos está ligada a suas características individuais, fruto da vontade do Criador. Por isso, as criaturas não existem por si mesmas, mas graças a uma realidade estranha ao mundo concreto. Desta forma os conceitos de criação e de criador são resgatados em sua obra. Aquino foi um dos maiores representantes da escolástica, método de pensamento crítico responsável pela tentativa de conciliação entre a fé cristã e o racionalismo, particularmente o defendido pela filosofia grega.
SAIBA MAIS
ARQUITETURA MEDIEVAL
Durante o auge do feudalismo, o estudo romântico predominou e, no período de crise, foi a vez do gótico se destacar. Conheça mais sobre os dois principais estilos arquitetônicos que caracterizam as construções da Idade Média.
ROMÂNICO (séculos XI a XIII)
Suas características marcantes são a monumentalidade da construção e a horizontalidade, com grossas paredes de pedra, maciços pilares e abóbadas circulares (herança da arte romana, de onde deriva seu nome). As Igrejas românicas representavam "fortalezas de pedra", locais em que os homens experimentavam a proteção de Deus e a sua autoridade, assumindo uma atitude introspectiva (provocada pela pouca luz e pelo predomínio da horizontalidade). O estilo também foi amplamente utilizado na construção de castelos.
GÓTICO (séculos XIII a XV)
Ao contrário do românico, o estilo gótico apresenta paredes finas, sustentadas por arcobotantes (suportes externos ao edifício), janelas enormes e vitrais luminosos, arcos em forma de ogiva, torres esguias e pontiagudas. A construção gótica expressava uma concepção teológica, a da escolástica nascente: é uma arquitetura de luz, lucidez e lógica. Na Igreja gótica, o homem sente-se participante da criação divina e assume uma atitude de busca de Deus através da transcendência, caracterizada pela verticalidade das construções.
Págs. 26 e 27 (GE: HISTÓRIA: VESTIBULAR+ENEM 2018)
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