CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA POLÊMICA!
"MACONHA MEDICINAL"
"Empresas estrangeiras facilitam a importação de medicamentos à base de canabidiol, derivado da Cannabis sativa eficaz no tratamento de epilepsia e mal de Parkinson"
Por: Camilla Brandalise
"Epiléptico desde o nascimento e com paralisia cerebral, Guilherme Gurgel, 12 anos, esperou quase dois anos para usar um produto a base de canabidiol, substância encontrada na planta da maconha. Foi a alternativa encontrada pela família e pelo médico para aliviar suas fortes crises, que hoje aparecem com menos intensidade, segundo a mãe, Karla Eduardo Gurgel, 38 anos. Depois de pedir subsídio governamental e enfrentar um longo caminho de burocracias, a família decidiu arcar com as altas despesas e importou o Purodiol, produzido por uma empresa britânica que recentemente abriu representação no Brasil para facilitar a compra do produto. Com a intermediação, o remédio, produzido na Inglaterra, chega na porta da casa de Karla em sete dias. Atualmente, há pelo menos 20 companhias que fazem esse trabalho de facilitação no País: dão orientação sobre os documentos necessários, organizam a burocracia junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e enviam os produtos. Uma grande evolução desde 2014, quando os primeiros pedidos para a importação de um remédio à base de maconha chegaram até o governo. Naquela época, a regulamentação era inconsistente, a burocracia, grande, e o preconceito, maior ainda. Entre a compra e o recebimento se passava, pelo menos, um mês. Isso quando o medicamento não era retido na alfândega. Com o avanço da legislação, as empresas planejam vender os remédios nas farmácias brasileiras em 2019."
"POTENCIAL TERAPÊUTICO"
"O canabidiol, também conhecido com CBD, é um dos 400 compostos encontrados na planta da maconha. Faz parte do grupo dos canabinoides, substâncias que encontram receptores no corpo humano. O CBD e o THC, os tetrahidrocanabinol, são as duas principais e mais estudadas por causa de suas capacidades medicinais. Enquanto o primeiro é ansiolítico, o segundo é estimulante, e cada um é indicado para doenças ou sintomas específicos, como epilepsia refratária, mal de Parkinson e esclerose múltipla. Por isso, há a preocupação das empresas de isolar um ou outro de acordo com o caso. Em 2014, quando a Anvisa ainda estudava autorizar ou não a importação do remédio à base de CBD, um dos obstáculos se dava porque o produto em questão continha THC, que na época nem se cogitava ser liberado para uso medicinal. Atualmente, as duas substâncias são regulamentadas. 'O THC e o canabidiol são dois canabinoides que, embora tenha uma estrutura química semelhante, podem apresentar efeitos diversos e, em alguns casos, até opostos. Assim, é importante que suas indicações e efeitos indesejados sejam estudados isoladamente', afirma o professor da Universidade de São Paulo (USP) Antonio Waldo Zuardi, coordenador de pesquisas pioneiras sobre o potencial terapêutico da canabinoides. No caso da epilepsia refratária, a indicação é que o paciente use apenas CBD, por isso os laboratórios fazem questão de esclarecer que a substância é isolada."
"Para o farmacêutico Fabrício Pamplona, diretor de desenvolvimento de produtos à base de Cannabis na startup farmacêutica Entourage Phytolab, o trabalho das empresas estrangeiras foi e está sendo bastante importante para que mais pacientes tenham acesso aos medicamentos. Mas, avalia, é um mecanismo de curto prazo. 'Foi ótimo por um momento, mas é passageiro. Esses compostos já podem ser produzidos no Brasil, já que há 'know-how' e pessoas capacitadas', afirma. Os obstáculos para que os remédios com substâncias da maconha sejam produzidos no País são basicamente dois, e ambos resvalam no preconceito em torno da planta. Primeiro, há a burocracia para as pesquisas. Mesmo com documentos de instituições de ensino provando que plantas e compostos são importados para o trabalho científico, muitos produtos, até hoje, são retidos. 'Ter acesso ao insumo sempre foi a contínua sendo muito difícil', diz Pamplona. Segundo, há resistência entre os próprios médicos, que temem ser julgados por reescreverem um remédio à base de uma droga proibida. 'Muitos médicos já tem um padrão de trabalho e não querem abrir ao novo. Percebemos que os jovens se mostram mais interessados', afirma Caroline Heinz, diretora de operações da HempMeds Brasil. Morando na Califórnia, Estados Unidos, Caroline compara a situação de alguns estados americanos que já tem uma regulamentação mais avançada com o atual cenário brasileiro. 'Ainda existe essa discussão de o que vai ser liberado e como vai liberar. Nos EUA o uso de CBD já existe há muito tempo e o mercado é gigante, os produtos são vendidos como suplemento alimentar e são encontrados em até supermercados'."
A matéria acima foi retirada da revista ISTOÉ - Ano 41 - nº 2515, págs. 54 e 55. 7 de março de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista ISTOÉ e a Editora Três.
SUGESTÃO
Após a leitura, sugerimos que assista ao vídeo-reportagem sobre o uso medicinal da maconha e remédios legalizados ou não, no Brasil, do programa jornalístico Panorama, da TV Cultura. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.
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