CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA MUNDO ANIMAL!


"NO REINO DOS PANDAS-GIGANTES"
"Donos dos únicos pares de orelhas desejados e apreciados no mundo inteiro, os pandas-gigantes têm conseguido aproximar cada vez mais o Estado chinês da preservação da natureza"


Por: Renata Valério de Mesquita

"O excesso de fofura dos pandas-gigantes conseguiu mais um feito histórico. A China, país há tempos visto como pouco comprometido com a preservação ambiental, pretende criar seu primeiro parque nacional, especialmente por causa desses grandotes peludos, preguiçosos e encantadores. O parque deverá envolver três províncias no sudoeste do país (Sichuan, Gansu e Shaanxl) e interligará 67 reservas já existentes para proteção e procriação da espécie.
Com 27.134 quilômetros quadrados, extensão quase igual à área do Parque do Xingu, o espaço do parque é superlativo. A ideia, com ele, é reverter o desmatamento - que reduz a oferta de bambu, alimento preferido dos pandas - e conter a perda de habitat, causada pela expansão da atividade humana e potencializada pelas mudanças climáticas. Segundo um estudo chinês publicado na revista 'Biological Conservation', de 52,9% a 71,3% do habitat dos pandas-gigantes pode sumir com o aquecimento global.
Dados graúdos com os citados acima são característicos da China. O terceiro maior país do mundo em extensão, que abriga um quinto dos habitantes do planeta (mais de 1,4 bilhão de pessoas); já impressiona de entrada. Mesmo saindo de um país como o Brasil, que não tem nada de pequeno, visitar a República Popular da China nos ensina outras proporções.
Desde os primórdios dessa civilização, que já conta mais de 4 mil anos, as obras são colossais. Igualmente descomunal é o impacto de pisar na sua Grande Muralha, a maior estrutura já construída pelo ser humano, com 8.850 km de extensão; ou de andar pelas 980 construções que formam a Cidade Proibida, palácio imperial desde a dinastia Ming: ou deparar com 8 mil estátuas de soldados da terracota (os Guerreiros de Xian), criadas para proteger a tumba do primeiro imperador chinês. Ainda nos dias atuais, aeroportos, praças, parques, avenidas, metrôs parecem superdimensionados, até os horários de pico provam que tudo deveria ser ainda maior.
A indústria do turismo sabe bem disso - ela simplesmente não precisa de estrangeiros. A maioria gritante de locais gera até momentos de celebridades entre aqueles sem traços físicos locais. Meus 15 dias de fama aconteceram durante minha viagem à China.  Muitas vezes fui parada por chineses que me mostravam simplesmente a câmera sugerindo uma foto ou arriscavam um 'Picture?' e apontavam para mim e para si mesmos indicando que queriam sair ao meu lado."

"OLHARES E OLHEIRAS"

"Mas com os pandas não é possível competir. Ali dentro da Base de Pesquisa e Reprodução do Panda-Gigante de Chengdu não me pediram uma foto sequer. Todos os olhares estavam voltados para os movimentos lentos e graciosos desses glutões. Uma prova de que o animal símbolo da China não fica atrás das outras imensas atrações do país.
Esses animais (cujo nome científico é Ailuropoda melanoleuca) podem chegar a pesar 160 quilos e medir quase 2 metros, sobretudo os machos, mas em média têm 90kg e 1,5m. Apesar do tamanho, não têm nada de assustador - ao contrário, dão vontade de abraçar. Mas esse sonho não é barato. Estar com um filhote por menos de cinco minutos nesse zoológico custa uma 'doação compulsória' de pouco mais de US$ 300 (cerca de R$ 1.000)."


"Chengdu é a quarta maior metrópole chinesa e capital Sichuan, província considerada a terra natal dos pandas-gigantes, onde estão 80% deles. Os demais vivem nas montanhas de Gansu e Shaanxi. Com 100 hectares, a Base de Pesquisa e Reprodução do Panda-Gigante de Chengdu foi o primeiro centro de preservação da espécie no país e é referência na área. Começou com seis exemplares, em 1987, mas seu berçário já viu nascer mais de 180 filhotes desde então."


"Se 1980 havia menos de 1.000 desses animais no mundo, a situação atual é bem mais confortável. Em 2015 se contavam 1.864 pandas-gigantes vivendo em liberdade em seus habitats e 422 em cativeiro, segundo o mais recente levantamento feito pela Administração Nacional dos Recursos Florestais. O objetivo é ampliar a população livre para 2 mil pandas-gigantes até 2025. (Conheça os desafios da reprodução e introdução na natureza no quadro abaixo). O trabalho para recuperar esse tesouro nacional alcançou um forte reconhecimento internacional em 2016, quando a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) tirou a espécie da lista vermelha de extinção e a passou à categoria de vulnerável."

"EMBAIXADORES CHINESES"

"O mesmo punho de ferro usado pelo Estado chinês para manter as altas taxas de crescimento ergue e sustenta a bandeira da preservação do panda-gigante dentro e fora do seu território. A espécie é instrumento de relações internacionais para o governo. De acordo com o jornal estatal 'China Daily', 48 pandas vivem atualmente no exterior, em 14 países. Os exemplares são emprestados por 15 anos a zoológicos para projetos de pesquisa conjuntos sobre a espécie, dentro do que se conhece como 'diplomacia do panda'."


"MULTIPLICAÇÃO COMPLEXA"


"Os pandas-gigantes passam a maior 
parte do tempo comendo e dormindo, 
e lhes resta pouca disposição para 
o acasalamento. Seu período de 
excitação sexual dura poucos dias por
ano. A baixíssima taxa de natalidade
é uma enorme ameaça para a 
continuidade da espécie.

O futuro parque nacional deverá
oferecer mais oportunidades de
interação e reprodução entre
grupos variados, principalmente
para enriquecer a diversidade de
genes - outro fator que influencia
na probabilidade de sobrevivência
desses animais.

Mesmo com inseminação artificial e
procriação em cativeiro, as perdas
são consideráveis: dos 64 filhotes
nascidos em 2017, por exemplo, 54
(84,4%) sobreviveram, segundo a
Administração Nacional dos Recursos 
Florestais. Além de os pandas-
gigantes nascerem minúsculos
e superfrágeis (com cerca de 15
centímetros e 100 gramas), as mães
tendem a cuidar de apenas uma cria, 
mesmo que tenha tido dois filhotes.

A introdução deles na natureza, 
quando nascidos em centros
especializados, é outro desafio. Nas 
primeiras tentativas, feitas em 2007 em
Sichuan, houve o caso de um panda
morto por outros machos selvagens.
Em liberdade, a expectativa de vida
desses animais não chega a 15 anos.
Em cativeiro a situação muda. Basi, a 
representante mais velha dos pandas-
gigantes, morreu em setembro de
2017 aos 37 anos (equivalente a 100
dos humanos), 33 deles vividos em
cativeiro. Foi para o Livro dos Recordes
dos Guiness e ganhou um museu, 
mas nunca gerou um filhote."


"Isso não é de hoje. Surgiu dessa política a marca registrada de uma das maiores organizações mundiais de conservação da natureza, a World Wildlife Fund (WWF). Os contornos em preto e branco do famoso logotipo foram inspirados no panda-gigante Chi Chi, quando chegou ao zoológico de Londres, em 1961, vindo de Beijing. A tática segue forte até hoje. Em meados de 2017, a primeira-ministra alemã Angela Merkel e o presidente chinês Xi Jiping estiveram na primeira aparição pública de Meng Meng e Jiao Qing no zoológico de Berlim, pouco antes da abertura da cúpula do G20, em Hamburgo.
Diferentemente dessa estratégia que favorece somente os pandas-gigantes, o primeiro parque nacional chinês, embora dedicado a eles, beneficiará outras espécies de flora e fauna do país. Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, cerca de 8 mil animais e plantas ameaçadas de extinção também serão protegidas ali. Além disso, a China dá o primeiro - e largo - passo para ser mais associada à preservação da natureza.
Mas nem todos os chineses comemoram a iniciativa. Cerca de 170 mil moradores da região terão de ser removidos. A imagem do país, no entanto, ganha crédito na área ambiental com essa situação. Até então, a maioria das mudanças de residência forçadas pelo Estado tinha como objetivo abrir espaço para a urbanização. Só para as Olimpíadas de Beijing, em 2008, 2 milhões de pessoas foram deslocadas."


"Hou Rong, diretor da Base de Pesquisa e Reprodução do Panda-Gigante, que propôs em 2014 a criação do parque, promete que esses moradores desalojados receberão casa e trabalho em outros endereços. Ele ainda sugere que alguns poderiam ser empregados na construção da infraestrutura local ou como guias turísticos da nova atração. 'Dessa forma, as pessoas e a natureza poderão se beneficiar mutuamente', afirma."


A matéria acima foi retirada da revista PLANETA - Ano 46 - Edição 540, págs. 48, 49, 50, 51, 52 e 53. Maio de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista PLANETA e à Editora Três.


SUGESTÃO

Abaixo, um pequeno vídeo que mostra bebês pandas. As imagens são do You Tube.


Neste outro vídeo, um documentário sobre os pandas produzido pela National Geographic. As imagens são do YouTube, e o idioma é o português.


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