VIOLÊNCIA
"COM 63.880 VÍTIMAS, BRASIL BATE RECORDE DE MORTES VIOLENTAS EM 2017"
"Foram 175 mortes por dia, o equivalente a 7 por hora, informou o Fórum Brasileiro de Segurança Pública nesta quinta-feira. Letalidade pela polícia registra alta de 20%"
Por: Marco Antonio Carvalho
O ESTADO DE S. PAULO
"O Brasil bateu em 2017 o recorde de mortes violentas intencionais, como homicídios e latrocínios, da sua história. Foram 63.880 vítimas, o equivalente a 175 por dia ou 7 por hora. A taxa de mortes por 100 mil habitantes atingiu a marca de 30,8. Os dados foram revelados nesta quinta-feira, 9, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em São Paulo. Em 2016, o País havia registrado 61,6 mil mortes violentas. Em um ano, o crescimento da taxa foi de 2,9%.
Doze unidades da Federação apresentaram crescimento das mortes violentas no País, puxando a taxa nacional. O Rio Grande do Norte assumiu a liderança entre os Estados mais violentos, com uma taxa de 68 por 100 mil habitantes, seguido pelo Acre (63,9) e Ceará (59,1). Foi também o Ceará que viveu o maior crescimento populacional da violência: 48,4%. As menores taxas foram constatadas em São Paulo (10,7), Santa Catarina (16,5) e Distrito Federal (18,2).
Dos 63,8 mil casos, 16.799 ocorreram nas capitais, com destaque negativa para Rio Branco, com a maior taxa (83,7), seguido por Fortaleza (77,3) e Belém (67,5). Na outra ponta, são consideradas as capitais menos violentas São Paulo, com taxa de 11,1, Campo Grande, com 13,7, e Brasília, com 18,2 mortes violentas por 100 mil habitantes.
O número total de latrocínios (roubos seguidos de morte) chegou a 2.460 casos, queda de 8,2%. As lesões corporais seguidas de morte, também computadas no índice, somaram 955 registros, alta de 12,3%. O número de estupros registrados chegou a 60 mil."
"Vivemos uma guerra aberta entre as organizações criminosas em busca de territórios e dinheiro. Isso agravou a situação de crescimento (de homicídios), como no Acre e no Rio Grande do Norte. Essa nova dinâmica do crime chega com uma camada de crueldade, em casos recorrentes de decapitação das vítimas, por exemplo', diz o diretor-presidente do Fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima.
Para o sociólogo, os Estados têm de agir de forma diferente, intensificando a capacidade investigativa das polícias civis para agir com inteligência contra as finanças do crime organizado, por exemplo. 'Diante dessa nova dinâmica, o Estado, em diversas esferas, se viu perdido e resolveu responder da forma em que sempre fez, com mais policiamento ostensivo militarizado. Isso está gerando resultados extremamente ruins em termos de cidadania, em gasto público, e não há o efeito esperado na redução da violência'.
Para o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), os números demonstram a falência da política nacional de Segurança Pública. 'O Brasil hoje vive uma situação gravíssima nessa área, uma situação que se deteriora a cada ano, e essa deteriorização em 2017 é bastante acentuada. Isso é fundamental porque fragiliza a nossa democracia'.
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rafael Alcadipani cobra uma 'Lava-Jato contra o crime organizado'. 'Por que não é uma força-tarefa contra o PCC? O crime organizado está cada vez mais atuando de forma refinada e o aparato estatal não muda. As brigas entre facções têm relação direta com o aumento dos homicídios', diz.
Outros crimes também registraram aumento. As mortes decorrentes de ações policiais chegaram a 5,1 mil, crescimento de 20% em relação a 2016. A situação é considerada preocupante no Rio, que teve 1.127 pessoas mortas por agentes de segurança em 2017, taxa de 6,7 por 100 mil habitantes, a mais alta do País. Em São Paulo, essa quantidade chegou a 940, mas a taxa é de 2,1. Outras taxas elevadas foram constatadas no Acre (4,6), Pará (4,6) e Amapá (6,6).
Diretora-executiva do Fórum, Samira Bueno pesquisa a letalidade policial. Segundo ela, a liderança do Rio se deve a um padrão de confronto adotado pelo governo do Estado e características do armamento nas dos criminosos. 'No Rio, o padrão é de armas pesadas, como fuzis. O tipo de armamento que circula está relacionado à violência policial. Sabendo que um fuzil circula com frequência no local, o policial não vai pensar duas vezes antes de atirar', explica.
No período, 367 policiais foram mortos no País, uma queda de 4,9%. Ainda assim, o cenário é considerado de risco para a profissão. 'O policial é espremido por uma lógica que aposta no tiroteio e sucateia a investigação policial. É dada a arma na mão dele e a missão de resolver o problema, mas o agente só é efetivamente lembrado quando é morto. Aí, passa a ser tratado como herói', diz Renato Sérgio de Lima.
No ano passado, o Brasil teve 119,4 mil armas apreendidas pelas polícias, uma variação de 0,2%. O Fórum destacou que 13,7 mil armas legais passaram para o circuito ilegal no período. Segundo a instituição, 94,9% do armamento apreendido não foi cadastrado no sistema da Polícia Federal, o que dificultaria o rastreamento da origem da arma."
"FACÇÕES MATARAM MAIS DE UMA CENTENA NO COMEÇO DE 2017"
"O ano de 2017 foi marcado por brigas entre facções criminosas que causaram, já no primeiro dia do ano, 56 homicídios no interior do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Copaj), em Manaus. O massacre se repetiria com intensidade similar em Boa Vista, na Penitenciária Agrícola Monte Cristo, onde 33 morreram, e na Penitenciária de Alcaçuz, na Grande Natal, onde ao menos 26 foram mortos.
O contexto de confronto entre essas organizações criminosas, cujos expoentes são o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), permaneceu fora das prisões, elevando o número de assassinatos cometidos nas ruas em diversos Estados. Mais de um ano depois dos assassinatos marcados pela crueldade, com decapitações e esquartejamentos, o Estado constatou que a superlotação e as condições precárias ainda são uma realidade quase intocada nos presídios, em meio ao fortalecimento das facções e uma violência que só avança nas cidades./ COLABOROU JULIANA DIÓGENES."
Notícia retirada do site ESTADÃO, 09 de agosto de 2018 (Acesso: 09/08/2018)
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