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ORIENTE MÉDIO

DISPUTA REGIONAL EM ALTA TENSÃO
Retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã acirra as rivalidades no Oriente Médio e reforça a formação de alianças entre os países


Como se não bastasse a sangrenta Guerra na Síria, a turbulenta região do Oriente Médio sofreu um novo abalo com a decisão dos Estados Unidos (EUA) de romper o pacto nuclear com o Irã, em maio deste ano. O presidente norte-americano, Donald Trump, justificou uma de suas controversas ações em política externa como forma de impedir que "o maior patrocinador mundial do terrorismo" obtivesse a bomba atômica.

O acordo nuclear com o Irã foi fruto de anos de negociações até ser assinado em 2015, em um complexo esforço diplomático que envolveu o chamado P5+1, grupo formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) - EUA, França, Reino Unido, China e Rússia - e mais a Alemanha. À época havia a desconfiança de que o programa nuclear iraniano fosse voltado para a produção de bomba atômica. Em razão dessa suspeita, diversas sanções econômicas foram aplicadas contra o Irã.


O regime persa alegava que o enriquecimento de urânio era destinado para fins pacíficos, como aplicações medicinais e geração de energia, mas o Irã passou a utilizar o seu programa nuclear como forma de projetar poder regional e extrair concessões dos EUA e das demais potências ocidentais - seus rivais diretos desde a Revolução Islâmica, em 1979, que instaurou o atual regime teocrático liderados pelos aiatolás.

Basicamente, o acordo dizia que o Irã deveria reduzir o estoque de urânio enriquecido e o número de centrífugas que enriquecem urânio, de modo a permitir o uso civil da tecnologia nuclear, mas manter o país longe de obter a bomba atômica. O cumprimento dessas determinações deveria perdurar por um período de 10 a 15 anos e seria monitorado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em contrapartida, foram retiradas sanções comerciais que provocaram perdas significativas na economia iraniana. O embargo ocidental ao petróleo iraniano foi suspenso, e o Irã teve acesso a 50 bilhões de dólares em reservas internacionais que estavam congelados em bancos estrangeiros.

Mas, com apenas uma assinatura, Trump rompeu com o acordo e determinou a reintrodução das sanções norte-americanas contra o Irã. A decisão frustrou as potências europeias. Para França, Alemanha e Reino Unido, ainda que imperfeito, o acordo estava sendo bem-sucedido em manter o Irã longe da bomba atômica - ao contrário do que aponta o governo norte-americano, segundo a AIEA, o Irã vinha cumprindo normalmente com suas obrigações nucleares.

Além disso, o acordo nuclear e o fim das sanções permitiam a criação de diversas oportunidades de negócios entre as empresas europeias e o Irã, que podem ruir agora. Apesar de o rompimento de Trump ser unilateral, os EUA também irão impor sanções as empresas estrangeiras que fizerem negócios com o Irã, impedindo-as de se relacionar com companhias norte-americanas. França, Alemanha e Reino Unido já solicitaram formalmente aos norte-americanos a isenção dessas sanções.  A salvação do acordo nuclear sem os EUA depende da manutenção dos negócios entre europeus e iranianos. Caso isso não seja possível, o governo do Irã anunciou que voltará a colocar as centrífugas para funcionar e a enriquecer o urânio em níveis acima do estipulado pelo pacto, elevando a tensão nuclear em nível mundial.


GLOSSÁRIO 

ISLAMISMO Religião monoteísta que surgiu no século VII, baseada nos ensinamentos de Maomé. De acordo com o profeta do islamismo, i anjo Gabriel lhe trouxe a palavra de Deus (Alá), que foi registrada posteriormente em um livro, o Alcorão. Após a morte de Maomé houve uma disputa por sua sucessão, o que levou a um cisma na religião.

SUNITAS Grupo que defendia como sucessor de Maomé qualquer pessoa pertencente à tribo do profeta, escolhida por consenso na comunidade. O nome vem do termo sunna (tradição). Liderados pelos sauditas, os sunitas representam hoje 85% dos muçulmanos e estão presentes principalmente no norte da África, no Oriente Médio e na Indonésia.

XIITAS Durante a disputa pela sucessão de Maomé, defendiam que o sucessor fosse alguém da família do profeta. O nome vem da expressão Shiat Ali (Partido do Ali, primo e genro de Maomé). Os xiitas representam 15% dos muçulmanos e são maioria no Irã, no Iraque e no Bahrein (apesar de ser governado por uma monarquia sunita).

IRÃ x ARÁBIA SAUDITA

A decisão de Trump tem influência direta na disputa geopolítica do Oriente Médio. De modo geral, a região está dividida em dois polos que buscam a hegemonia local: um liderado pelo Irã e o outro pela Arábia Saudita (veja mais à frente). Israel, outro ator de peso na região, rivaliza com o eixo iraniano e, se não mantém relações exatamente amistosas com os sauditas e seus aliados, possui vários interesses em comum, como a ditadura em parceria estratégica com os EUA.

Por trás dessa rivalidade entre Arábia Saudita e Irã, há importantes questões religiosas envolvidas. Os sauditas são guardiões das tradições sunitas e abrigam alguns dos locais mais sagrados do islamismo. Seu regime, baseado em uma monarquia absolutista, é extremamente fechado. O Irã, por sua vez, é uma república islâmica conservadora, mas dentro da ramificação xiita. Ambos, portanto, disputam a liderança no mundo muçulmano (veja box acima). 

No entanto, mais do que uma disputa religiosa, o antagonismo entre xiitas e sunitas está ligado a disputas econômicas e geopolíticas. Desde a assinatura do acordo em 2015, o Irã conseguiu recuperar parcialmente sua economia, ainda que o desemprego elevado tenha provocado uma onda de manifestações populares no início de 2018. O fim das sanções ao Irã também permitiu aos persas retornarem ao mercado internacional de petróleo, o que desagradou aos competidores sauditas. Mas o mais importante é que o país mostrou ser uma influente força regional, desafiando a hegemonia da Arábia Saudita na região. Logo, ao romper com o pacto nuclear, Trump consolidou o alinhamento internacional dos EUA com Israel e Árabia Saudita e agora busca conter a projeção do Irã sobre o Oriente Médio.

Nessa disputa por influência regional, sauditas e iranianos se enfrentam em pelo menos três frentes:

LÍBANO As frequentes instabilidades políticas no país são influenciadas pela disputa entre sauditas e iranianos, que tentam interferir no delicado equilíbrio de poder entre cristãos, sunitas e xiitas no Líbano. Nós últimos anos, a Arábia Saudita vem exercendo forte ascendência sobre o primeiro-ministro libanês, que, por um acordo de 1943, deve ser sempre sunita. Já o Irã possui uma aliança com o Hezbollah, grupo político com grande expressão parlamentar, que mantém uma poderosa milícia capaz de alvejar alvos em Israel.



IÊMEN O país está em guerra civil, na qual há embates indiretos entre as duas potências do Oriente Médio. De um lado do confronto estão as tropas do presidente sunita Abdo Rabu Mansur Hadi, apoiadas por uma coalizão internacional liderada pelos sauditas. Do outro, está o movimento houthi, de inspiração zaidita (uma das divisões dos xiitas), que recebe ajuda do Irã. O conflito começou em janeiro de 2015, quando os houthis depuseram Hadi e passaram a controlar a capital, Saana, e áreas ao oeste e norte do Iêmen. Devido à guerra, o Iêmen enfrenta grave crise humanitária, com pessoas passando fome e uma epidemia de cólera. Mais de 10 mil pessoas já morreram.

SÍRIA Ao lado da Rússia, o Irã tem sido o principal pilar de sustentação do regime de Bashar al-Assad na Guerra da Síria. Além de apoio militar, os iranianos oferecem seus serviços de inteligência e disponibilizam recursos financeiros e petróleo para o governo sírio. Já os sauditas patrocinam os diversos grupos rebeldes anti-Assad com ajuda militar e financeira. (Leia clicando aqui).




IRÃ x ISRAEL

Irã e Israel protagonizam outra ferrenha disputa no Oriente Médio. Os israelenses possuem armas atômicas como importante forma de contenção à ameaça do Irã e tentam impedir a todo custo o avanço do programa nuclear rival. Preocupado com o aumento da projeção regional do Irã, o primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu, pressionou Trump a abandonar o pacto nuclear, no que foi bem-sucedido.

Embora essa rivalidade não tenha avançado muito além da retórica agressiva, a situação entrou em um perigoso estágio bélico em maio. Em sua frente de apoio ao governo da Síria, o Irã passou a manter bases militares em diversos pontos do território sírio para o combate aos grupos que tentam derrubar Assad. Mas essa estratégia também é uma forma de o Irã estabelecer bases avançadas mais próximas a fronteira israelense, o que é visto como uma ameaça pelo Estado judeu.

Em maio, logo após o anúncio da retirada dos EUA do pacto com o Irã, o governo israelense bombardeou diversos alvos iranianos na Síria. O Irã respondeu com o lançamento de foguetes contra as Colinas de Golã, território sírio ocupado por forças israelenses. Foi a maior ofensiva realizada por Israel na Síria desde a Guerra de Yom Kipur, em 1973, e o episódio marcou o início dos ataques diretos entre iranianos e israelenses, o que pode dar novos contornos à Guerra da Síria.


ISRAEL x PALESTINOS

Além de se preocupar dos avanços do Irã na região, Israel mantém a longa disputa territorial com os palestinos em alta tensão. O reconhecimento de Jerusalém pelos EUA como capital de Israel insuflou ainda mais os ânimos. Isso porque os palestinos reivindicam a parte oriental de Jerusalém como a capital se seu futuro Estado. A decisão dos EUA tornou ainda mais difícil um entendimento visando a desocupação de Israel dos territórios palestinos na Cisjordânia e à criação de um Estado próprio controlado pela Palestina.

Em maio, quando os EUA oficializaram a transferência de sua embaixada em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, houve protestos na Faixa de Gaza, território a oeste de Israel controlado pelos palestinos. As tropas israelenses atacaram os manifestantes, matando ao menos 60 civis e ferindo mais de 2.700 pessoas, todas palestinas. A comunidade internacional de um modo geral condenou a atitude de Israel. França, Alemanha e Reino Unido criticaram o uso de força letal e desproporcional pelas tropas israelenses, enquanto Netanyahu evocou o direito de autodefesa.


ESTADO ISLÂMICO

Em meio à rivalidade entre Irã e Árabia Saudita e ao longo conflito árabe-israelense, uma outra força entrou em ação nos últimos anos para provocar ainda mais tensão no Oriente Médio: o Estado Islâmico (EI). O grupo extremista aproveitou a instabilidade no Iraque e na Síria para ocupar vastas áreas nesses países a partir de 2014, onde instalou bases militares e um governo próprio, sustentado a partir da cobrança de impostos, venda ilegal de petróleo, sequestros e extorsões. 

O grupo tem como característica as brutais formas de dominação, que incluem decaptações e execuções em massa, e a capacidade de atrair jovens muçulmanos em diversas partes do mundo. Mas o avanço do EI começou a ser contido a partir da ofensiva dos EUA, da Rússia, do Irã e dos curdos, que reduziram a área ocupada pelos extremistas a territórios esparsos no interior da Síria. No Iraque o governo decretou o fim da guerra ao EI em dezembro de 2017.

Mas essa perda territorial do EI no Oriente Médio não pode ser subestimada, principalmente porque o grupo intensificou os atentados no resto do mundo. Nos últimos dois anos, importantes cidades europeias, como Paris, Londres, Berlim e Barcelona, foram alvos de ataques terroristas atribuídos ao EI, assim como países de maioria muçulmana, como Turquia, Afeganistão e Indonésia. Apesar de menos letais, esses atentados costumam ser difíceis de ser prevenidos pelas forças de segurança. Isso porque são perpetrados pelos chamados "lobos solitários", jihadistas que agem de forma autônoma, muitas vezes utilizando armas simples ou mesmo automóveis para promover atropelamentos.

SAIU NA IMPRENSA


TRUMP ENALTECE VENDAS MILITARES DOS EUA PARA ÁRABIA SAUDITA E ELOGIA O PRÍNCIPE  
HERDEIRO

O presidente dos EUA, Donald Trump, elogiou nesta terça-feira o poderoso príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e enalteceu vendas de defesa dos Estados Unidos como um impulso para empregos norte-americanos, mesmo com o envolvimento de Riad na guerra civil do Iêmen enfrentando críticas. (...)
Trump e o príncipe Mohammed discutiram um acordo no ano passado para 200 bilhões de dólares em investimentos sauditas com os EUA, incluindo grandes compras de equipamentos militares norte-americanos. Trump disse que as vendas militares contribuíram para a criação de 40 mil empregos. (...)
"A Arábia Saudita é uma nação muito rica, e eles vão dar aos Estados Unidos parte desta riqueza, na forma de compra dos melhores equipamentos militares de qualquer lugar do mundo", disse à repórteres. (...)

REUTERS, 20/3/2018

RESUMO

Oriente Médio 

ACORDO NUCLEAR: O presidente dos EUA, Donald Trump, retirou o país do pacto nuclear com o Irã, em maio de 2018. O acordo, assinado em 2015, conjuntamente com outras cinco potências estabelecia a redução do alcance do programa nuclear iraniano como forma de evitar que o país obtivesse a bomba. Em troca, foram retiradas sanções econômicas contra o Irã. Com o fim do acordo, os EUA retomam as sanções e ameaçam empresas de outros países que fizerem negócios com o Irã. 

IRÃ República islâmica de maioria xiita, o Irã se posiciona frontalmente contra Israel e lidera um dos polos de disputa por poder no Oriente Médio, que inclui a Síria, o Iraque, o grupo libanês Hezbollah e o palestino Hamas.  Ampliou sua influência na região ao atuar para defender Bashar al-Assad na Guerra da Síria e o movimento houthi na Guerra do Iêmen.

ARÁBIA SAUDITA: Monarquia absolutista que lidera o ramo sunita do islamismo. Tradicional aliado dos EUA, o país rivaliza com o Irã na disputa pela hegemonia no Oriente Médio. Os sauditas contam com a ajuda de outras monarquias do Golfo Pérsico e mantém alianças com o Egito e a Jordânia. Possui relações neutras com Israel.

ISRAEL: Mantém um longo conflito com os palestinos, que almejam a criação de seu próprio Estado, formado pela Faixa de Gaza e pelos territórios ocupados pelos Israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Diante do impasse nas negociações entre palestinos e israelenses, os confrontos são frequentes. Israel também se preocupa com o avanço militar do Irã. Em maio, bombardeou bases iranianas na Síria, enquanto o Irã retaliou lançando foguetes contra alvos israelenses nas Colinas de Golã.

ESTADO ISLÂMICO: O grupo terrorista, que chegou a ocupar vastos territórios na Síria e no Iraque e a formar um governo próprio, perdeu força a partir das ofensivas militares dos EUA, da Rússia, do Irã e dos curdos. Hoje, o EI ocupa pequenas áreas na Síria é sua estratégia principal e promover atentados terroristas em outras partes do mundo. 


ATUALIDADES: VESTIBULAR E ENEM foi retirado do livro GE - GUIA DO ESTUDANTE - ATUALIDADES: VESTIBULAR+ENEM - 2° semestre de 2018, págs. 44, 45, 46 e 47.

SUGESTÃO

Após a leitura, separamos um vídeo do jornalismo do SBT, que anuncia a saída dos EUA do pacto com o Irã. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.


Abaixo, vídeo-aula do canal História Online, do YouTube, que fala sobre os conflitos e rivalidades entre Irã, Arábia Saudita e Iêmen. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.


Neste outro vídeo, do canal Nexo Jornal, do YouTube, explica a origem do Estado de Israel e como se sucederam os conflitos entre israelenses e palestinos. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.


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