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GUERRA NA SÍRIA
UM POVO SUFOCADO PELA TRAGÉDIA
"Estados Unidos bombardeiam a Síria em retaliação a suposto uso de armas químicas, mas o regime de Bashar al-Assad ainda mantém-se sob poder com a ajuda da Rússia
Foi um ataque rápido, mas intenso. Nas primeiras horas do dia 14 de abril do ano passado, os Estados Unidos (EUA) com a colaboração do Reino Unido e DA França referiram uma ofensiva aérea sobre alvos estratégicos na Síria. Segundo o governo norte-americano, os bombardeios atingiram três importantes centros de pesquisa, produção e armazenamento de armas químicas na capital, Damasco, e na cidade de Homs. "Missão cumprida!", anunciou o presidente dos EUA, Donald Trump, horas depois dos ataques na Síria.
O bombardeio foi uma retaliação a um ataque químico que matou mais de 40 pessoas na semana anterior, em Douma, subúrbio de Damasco. Os EUA atribuem o uso de armas químicas ao regime sírio, comandado pelo ditador Bashar al-Assad.
Iniciada em 2011, a Guerra da Síria é o principal fator desestabilizador na já conturbada região do Oriente Médio. A intervenção militar dos EUA despertou receio de uma possível escalada no conflito. Principalmente porque a ofensiva norte-americana contrariou os interesses da Rússia, maior aliada da Síria e rival dos EUA na disputa por áreas de influência no Oriente Médio. Enquanto as forças de Trump apoiam os grupos que querem derrubar Assad, a Rússia do presidente Vladimir Putin mantém-se leal ao ditador sírio e tem agido militarmente para sustentá-lo no poder.
Apesar de negar o uso de armas químicas pela Síria e ter condenado a ação norte-americana, a Rússia não adotou nenhuma ação retaliatória direta. Com a ofensiva da coalizão não matou civis, nem atingiu alvos russos na Síria, o episódio não teve desdobramentos que pudesse levar a um confronto direto entre russos e norte-americanos. Mas colocou o planeta em alerta durante alguns dias e provocou mais fissuras no já abalado relacionamento entre Trump e Putin.
A PROLIFERAÇÃO DE ARMAS QUÍMICAS
Embora balas envenenadas tenham sido usadas largamente em combate durante séculos, foi na I Guerra Mundial que as armas químicas foram utilizadas mais sistematicamente, causando diretamente a morte de 100 mil pessoas. Em um confronto emblemático em Ypres, na Bélgica, as tropas alemãs mataram 15 mil soldados franceses com gás cloro, que leva à morte por sufocamento.
Após a guerra, os países envolvidos no conflito reconheceram a necessidade de impor limites em algumas práticas de guerra, reconhecendo que o uso de armas químicas, ao provocar mortes cruéis e degradantes, fere uma certa "ética" de combate. Com o objetivo de regulamentar o uso desses armamentos foi assinado o Protocolo de Genebra, em 1925, que proibiu o uso de gases asfixiantes e venenosos, assim como o de agentes bacteriológicos, e se tornou uma norma internacional.
Apesar de ter sido assinado por 140 países, apenas 36 ratificaram o acordo, o que não impediu a disseminação desse armamento e o seu uso. Durante a II Guerra Mundial, o Japão utilizou bombas bacteriológicas contra os chineses, enquanto os nazistas alemães confinaram judeus em câmaras de gás. Na Guerra do Vietnã (1959-1975), os EUA lançaram o agente laranja, um herbicida tóxico contra os guerrilheiros comunistas. Em 1988, na guerra contra o Irã, o Iraque de Saddam Hussein realizou um ataque com gases tóxicos que matou mais de 5 mil civis curdos na cidade de Halabja, no próprio território iraquiano. O episódio provocou indignação mundial e levou à criação da Convenção de Armas Químicas em 1993, que proíbe o uso, posse e o desenvolvimento de armas químicas.
LINHA VERMELHA
Depois de sete anos de conflito, a Guerra da Síria já deixou mais de 400 mil mortos e outros 5 milhões de refugiados. Cidades inteiras ficaram em ruínas e patrimônios da humanidade foram destruídos. Apesar da tragédia, os sete anos de conflito estão sendo marcados pela incapacidade da comunidade internacional em agir para evitar o Massacre no país. A inércia das grandes potências só tem sido rompida quando entram em cena as armas químicas.
Desde o início do conflito, os EUA, sob a liderança do então presidente Barack Obama, procuraram manter uma distância estratégia. Ainda que fornecessem armas para grupos anti-Assad na Síria, os norte-americanos não queriam envolver-se diretamente na guerra. No entanto, Obama deixou claro que o regime sírio poderia sofrer consequências se ultrapasse o chamou de "linha vermelha", referindo-se ao uso de armas químicas e biológicas (veja box acima).
Pois essa linha foi rompida em 2013 quando um ataque de gás sarin em redutos rebeldes ao redor de Damasco matou 1.400 pessoas. Os EUA estavam prontos para uma ofensiva militar punitiva quando uma ação da diplomacia russa evitou o ataque ao propor um acordo no qual a Síria destruiria seu estoque de armas químicas. O país chegou, inclusive, a aderir ao tratado global contra armas químicas e à Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), que supervisiona o uso desses armamentos no mundo é recebeu o prêmio Nobel da Paz naquele ano.
No entanto, suspeita-se que nem todo o arsenal químico sírio tenha sido destruído. Após a adesão do país ao tratado, a Opaq chegou à conclusão de que o regime de Assad foi responsável por pelo menos quatro ataques envolvendo armas químicas. Um deles ocorreu em abril de 2017, o que levou os EUA a realizarem sua primeira ofensiva militar direta contra a Síria. Naquela oportunidade, o uso de armas químicas havia matado pelo menos 80 civis na cidade síria de Khan Sheikhun.
O estabelecimento de um limite, uma "linha vermelha", como vem fazendo o governo norte-americano, tem o objetivo de alertar países que pretendem fazer uso de armas químicas e dissuadi-los com a ameaça de retaliação caso ousem avançar essa baliza. Ainda que sejam a maior potência militar do planeta, os EUA, como qualquer outra nação, são vulneráveis ao uso de armas químicas e biológicas, pois elas podem ser utilizadas por terroristas em ações de difícil controle pelos serviços de segurança - daí o interesse do país em evitar essa proliferação. Mas, como demonstra a reincidência dos casos envolvendo armas químicas na Síria, as medidas punitivas não têm sido suficientes para evitar o cruzamentodessa "linha vermelha".
Pois essa linha foi rompida em 2013 quando um ataque de gás sarin em redutos rebeldes ao redor de Damasco matou 1.400 pessoas. Os EUA estavam prontos para uma ofensiva militar punitiva quando uma ação da diplomacia russa evitou o ataque ao propor um acordo no qual a Síria destruiria seu estoque de armas químicas. O país chegou, inclusive, a aderir ao tratado global contra armas químicas e à Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), que supervisiona o uso desses armamentos no mundo é recebeu o prêmio Nobel da Paz naquele ano.
No entanto, suspeita-se que nem todo o arsenal químico sírio tenha sido destruído. Após a adesão do país ao tratado, a Opaq chegou à conclusão de que o regime de Assad foi responsável por pelo menos quatro ataques envolvendo armas químicas. Um deles ocorreu em abril de 2017, o que levou os EUA a realizarem sua primeira ofensiva militar direta contra a Síria. Naquela oportunidade, o uso de armas químicas havia matado pelo menos 80 civis na cidade síria de Khan Sheikhun.
O estabelecimento de um limite, uma "linha vermelha", como vem fazendo o governo norte-americano, tem o objetivo de alertar países que pretendem fazer uso de armas químicas e dissuadi-los com a ameaça de retaliação caso ousem avançar essa baliza. Ainda que sejam a maior potência militar do planeta, os EUA, como qualquer outra nação, são vulneráveis ao uso de armas químicas e biológicas, pois elas podem ser utilizadas por terroristas em ações de difícil controle pelos serviços de segurança - daí o interesse do país em evitar essa proliferação. Mas, como demonstra a reincidência dos casos envolvendo armas químicas na Síria, as medidas punitivas não têm sido suficientes para evitar o cruzamentodessa "linha vermelha".
AS REVIRAVOLTAS DO CONFLITO
"O conflito que hoje envolve o uso de armas químicas e mobiliza as principais potências mundiais começou com pequenos protestos contra o regime de Assad, em março de 2011. O Oriente Médio vivia a Primavera Árabe, uma série de revoltas por democracia e direitos civis que atingiram diversos países da região. A violenta repressão de Assad a esses protestos pacíficos mobilizou a formação de diversos grupos rebeldes, cuja maior expressão é o Exército Livre da Síria (ELS). Além disso, grupos radicais como o Estado Islâmico (EI) e organizações ligadas à Al Qaeda tiraram proveito no caos do país para conquistar importantes cidades no território sírio. Também desempenham papel de destaque no conflito as milícias curdas, que ocupam parte do norte da Síria e se tornaram uma importante força de resistência contra o EI.
No plano externo, ainda que receosos em mergulhar num conflito de desfecho imprevisível, posicionaram-se contra o regime de Assad, os EUA e as potências europeias, além da Turquia e Árabe Saudita. Basicamente, esses países fornecem suporte militar e financeiro aos grupos rebeldes. Nos últimos meses, a ação de Israel na Síria tem sido mais intensa, visando principalmente alvos do Irã, país que defende as posições pró-regime.
Além do Irã, a frente de apoio a Assad conta com a milícia libanesa Hezbollah e da já mencionada Rússia, que desempenhou papel decisivo na guerra. Não é exagero afirmar que o ditador sírio só se mantém no poder graças ao esforço de Vladimir Putin. A Rússia é uma aliada histórica da Síria, a quem sempre prestou apoio diplomático e militar. Moscou mantém uma base naval em Tartus, litoral sírio, a única instalação militar russa no Mediterrâneo. E Putin não quer correr o risco de perdê-la caso Assad seja alijado do poder.
Em setembro de 2015, quando a oposição e jihadistas islâmicos colocavam em risco a sobrevivência do regime de Damasco, o governo russo iniciou uma campanha de ataques aéreos contra as posições do EI. No entanto, as bombas russas também tinham como alvo os rebeldes anti-Assad apoiados pelos EUA. Dessa forma, a guerra se tornou mais do que uma luta entre aliados e rivais de Assad - o que está em jogo é a conquista ou a perda de influência na região.
A SOBREVIVÊNCIA DE ASSAD
Após sete anos de conflito, apesar de a posição de Assad não ser confortável, pode-se dizer que a sua situação já esteve mais complicada. A ameaça do EI foi significativamente reduzida - O grupo terrorista perdeu territórios e hoje ocupa apenas pequenas porções, principalmente no leste do país (veja o mapa acima). Já o regime sírio, além de controlar Damasco, assumiu o comando de cidades importantes como Aleppo, Hama e Homs e vem conquistando áreas do subúrbio da capital, como Ghouta e Douma.
Diante desse cenário, uma questão colocada por muitos analistas é até que ponto um ataque químico contra áreas controladas por rebeldes atenderia aos interesses do regime sírio. Como Assad está vencendo a guerra e tem sido capaz de derrotar seus inimigos utilizando armamentos convencionais, não faria sentido lançar gases tóxicos contra civis, o que só serviria para provocar os EUA e incitar uma retaliação, como acabou acontecendo. Por isso, há quem acredite que o ataque químico pode ter sido realizado por membros do governo, sem anuência de Assad, ou mesmo por alas dissidentes dentro do próprio regime. Ainda há a hipótese de haver o envolvimento de algum grupo rebelde.
De todo modo, apesar de a Síria ter sofrido o segundo bombardeio norte-americano no periódo de um ano, o ataque não foi capaz de alterar os rumos da guerra. Ou seja, Assad mantém-se firme no poder graças a fiadores de peso, como a Rússia e o Irã. Mas, além disso, ele conta com a aceitação de uma parcela expressiva da população, que, se não o apoia abertamente, acaba tolerando a permanência do ditador. A justificativa é que o alauíta Assad seria uma alternativa menos nociva do que a ascensão ao poder de grupos jihadistas sunitas, que lutam contra ele. Assad também tem como aliados minorias étnico-religiosas, como cristãos e drusos, além dos curdos, etnia sem pátria que habita territórios da Síria e em países vizinhos, que protegem o Norte do país em troca de autonomia.
Essas particularidades conferem ao conflito sírio uma complexidade que extrapola qualquer maniqueísmo - não se trata de uma luta do bem contra o mal. De um lado está um regime cruel que se furta a massacrar civis para se manter no poder. Do outro, grupos terroristas igualmente sanguinários disputam áreas de controle. Já as potências internacionais e regionais têm como interesse exclusivo defender suas ambições geopolíticas na região. E é em meio a essa disputa de poder que o mundo assiste à pior tragédia humanitária do século XXI.
PARA IR ALÉM: O documentário Salam Neighbour (de Zack Igrasci e Chris Tempo e, 2015) acompanha o cotidiano do maior campo de refugiados sírios no mundo, localizado em Za'atari, na Jordânia, onde vivem 80 mil pessoas. Mesmo de forma precária, os imigrantes criam pequenos negócios e tentam reconstruir suas vidas (disponível no Netflix).
SAIU NA IMPRENSA
REFUGIADOS PODEM PERDER IMÓVEIS NA SÍRIA
Os refugiados sírios correm o risco de perder suas residências na Síria em consequência de um decreto de reconstrução urbana emitido pelo presidente Bashar al-Assad.
Segundo a nova lei, os fugitivos do país devastado pela guerra civil têm apenas 30 dias para provar, por meio de documentação, a propriedade de imóveis depois que um novo plano de urbanização de uma área for aprovado, informaram jornais europeus nesta sexta-feira (27/04). (...)
O decreto de Assad é visto por grupos de oposição da Síria essencialmente como um pontapé inicial para a execução de uma espécie de limpeza étnica do país. (...) Aqueles na vanguarda do levante da Síria em 2011, notadamente sunitas, enfrentam o despejo de centros econômicos, como Damasco, Homs, Aleppo e a costa do Mediterrâneo. Os remanescentes nas regiões centrais de Assad seriam minorias - para os quais o líder sírio se apresentou como protetor - como alevitas, cristãos, drusos, xiitas e ismaelitas.
Deutsche Welle Brasil, 27/4/2018
RESUMO
Guerra na Síria
ATAQUE DOS EUA: Os Estados Unidos (EUA), em coalizão com a França e o Reino Unido, bombardearam centros de produção e armazenamento de armas químicas na Síria, em abril. O ataque foi uma retaliação contra o regime liderado por Bashar al-Assad, que teria lançado um ataque com gás cloro em Douma, matando mais de 40 pessoas. A ofensiva elevou a tensão entre os norte-americanos e a Rússia, principal defensora do regime sírio.
ATAQUES QUÍMICOS: A Síria tem sido reincidente em casos de ataques químicos. Em 2013, após ser acusado de usar gás sarin, o regime concordou em destruir seu estoque de armas químicas e a aderir a um tratado internacional de controle desses armamentos. No entanto, episódios de ataques químicos em 2017 e 2018 levaram os norte-americanos a intervir militarmente. Nos EUA, essa reação tem como objetivo tentar coibir o uso de armas químicas.
HISTÓRICO DO CONFLITO: Iniciada em março de 2011, a guerra já fez mais de 400 mil mortos e obrigou cerca de 5 milhões de sírios a se refugiarem em outros países. O conflito começou a partir de protestos populares por mais liberdade, inspirados na Primavera Árabe. A reação violenta de Assad levou a oposição a formar grupos rebeldes contra o regime.
ATORES ENVOLVIDOS: O governo sírio tem o apoio da Rússia, do Irã e do Hezbollah libanês. Os EUA e as potências ocidentais apoiam os rebeldes, assim como a Arábia Saudita, a Turquia e Israel. Há também os curdos, que protegem o norte do país em troca de autonomia. Outra força envolvida são os grupos extremistas como o Estado Islâmico e organizações ligadas à Al Qaeda, que tentam derrubar o regime de Assad.
FORÇA DO REGIME: Inicialmente, o regime sírio perdeu territórios para os rebeldes e o EI. Mas o ingresso da Rússia no conflito, a partir de 2015, foi decisivo para Assad virar o jogo. O governo reconquistou cidades estratégicas e viu a ameaça dos grupos rebeldes e o do EI ser reduzida.
ATUALIDADES: VESTIBULAR E ENEM foi retirado do livro GE - GUIA DO ESTUDANTE - ATUALIDADES: VESTIBULAR+ENEM - 2° semestre de 2018, págs. 40, 41, 42 e 43.
SUGESTÃO
No vídeo abaixo, você pode assistir ao destruição do arsenal químico sírio pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), após a utilização de armas químicas na Síria. As imagens são do YouTube e o idioma é o português de Portugal.
Neste outro vídeo do canal Nostalgia, do YouTube, você pode entender um pouco melhor a Guerra da Síria. O idioma é o português.
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