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"EPILEPSIA: TRATAMENTO CERTO E EFICAZ"
"Apesar de pelo menos uma em cada 100 pessoas em todo o mundo ter essa condição, o estigma em torno da doença faz com que poucos admitam publicamente ser pacientes. A aceitação é o primeiro passo para melhorar os serviços de prevenção contra a epilepsia em todo o mundo"


"Primeiro, a pessoa perde a consciência e cai. Depois, fica com o corpo totalmente rígido. Por fim, começa a se debater sem nenhum motivo aparente. Uma crise epiléptica não dura mais que alguns minutos, mas as suas consequências podem repercutir para sempre. Ainda hoje há quem acredite que a epilepsia seja sinônimo de insanidade mental. Ou, pior, de possessão demoníaca. O próprio termo epilepsia, que vem do grego e significa "estar tomado", reforça essa tese.
"Quem já viu uma crise epiléptica fica assustado. E se pergunta: 'Como pode uma pessoa de uma hora para outra perder o controle e se debater daquele jeito?' É por isso que o preconceito ainda é grande. Muitos pacientes assumem que têm diabetes e hipertensão. Mas poucos possuem a coragem de dizer publicamente de epilepsia. E, por isso, ainda vivem nas sombras", afirma o neurologista Li Li Min, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Min também foi responsável por ajudar a divulgar, no Brasil, uma campanha denominada Epilepsia Fora das Sombras, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com a Liga Internacional contra a Epilepsia e o Escritório Internacional para Epilepsia, com o objetivo de melhorar a aceitação, o diagnóstico, o tratamento e os serviços de prevenção contra a epilepsia em todo o mundo. A campanha inclusive conseguiu fixar o dia 9 de setembro como Dia Nacional da Conscientização da Epilepsia, um ganho para a redução do estigma. O dia mundial permanece sendo comemorado em 26 de março."




"PACIENTES NO BRASIL"

"A prevalência da epilepsia no mundo é de 1%. Mas, em países em desenvolvimento, como o Brasil, esse número pode chegar a 2%. Por isso mesmo estimamos que, só por aqui, 3 milhões de pessoas tenham alguma forma de epilepsia. Mas, infelizmente, apenas uma pequena parcela da população recebe o tratamento adequado", alerta Li Li Min."


"Embora seja uma das mais frequentes, a crise epilética descrita no início desta matéria não é a única que existe. Além do tipo que provoca convulsões (50% dos casos), existem outros mais sutis. É o caso das crises de ausência, comuns na infância, quando a criança fica "fora do ar" por alguns segundos. Em outras manifestações, os pacientes podem apresentar espasmos rápidos em um dos braços ou movimentos circulares dos olhos."

"COMO DIAGNOSTICAR"

"O neurologista membro da Academia Brasileira de Neurologia e da Sociedade Americana de Epilepsia, Wagner Teixeira explica que o diagnóstico, por exemplo, por meio de exames laboratoriais. O que piora a situação é que, na maioria das vezes, o médico precisa se basear no relato de terceiros para formular o diagnóstico. "O que define essa condição neurológica é a coerência de crises epilépticas. Mas é importante ressaltar que essas crises não podem ser desencadeadas por fatores externos óbvios, como febre alta ou consumo de drogas. No caso de crianças pequenas, por exemplo, os pais precisam estar atentos a episódios de perda de interação dos filhos com o ambiente externo, mesmo que seja por um curto período de tempo", avisa Teixeira.
Cerca de 50% dos casos têm início na infância ou na adolescência. Mas o que causa a epilepsia? As respostas são muitas e incluem tumores cerebrais, complicações na hora do parto e até sequelas de meningite. Há casos em que a epilepsia pode ser prevenida. Como na neurocisticercose, uma infecção do sistema nervoso central causada pelas larvas da Taenia solium (a solitária). Medidas simples de higiene, como lavar bem os alimentos, reduzem os riscos da infecção parasitária."


"HÁ RISCO DE SEQUELAS?"

"As crises não duram mais do que alguns minutos. De dois a três, no máximo. "O que as pessoas não sabem é que há pouco ou quase nada a ser feito durante o evento. Recomenda-se apenas proteger a cabeça do indivíduo e esperar a crise passar. Não se deve, por exemplo, tentar puxar a língua do paciente", enfatiza o neurofisiologista Marcelo Heitor, do Hospital Municipal Menino Jesus (RJ).
A verdade é que, se persistir por mais tempo do que o habitual, a crise pode causar sequelas irreversíveis. "Se ultrapassar cinco minutos, é preciso chamar uma ambulância. Nesses casos, aumentam as chances de a crise envolver risco de vida", alerta Eduardo Faveret, do Instituto Estadual do Cérebro (RJ). Com exceção dessas ocorrências longas, as crises não deixam sequelas. A pessoa "sai do ar" por alguns segundos, mas logo volta ao normal. "E continua fazendo o que estava fazendo antes", tranquiliza Li Li Min. Nas convulsivas, os pacientes relatam um esgotamento físico e mental. "Alguns ficam confusos. Outros, sonolentos. O ideal é deixá-los descansar"."


LÍNGUA QUE ENROLA E OUTROS MITOS

Na hora da crise epiléptica, muitos ainda se perguntam o que pode ser feito para tentar ajudar a pessoa que tem o distúrbio: puxar a língua para que ela não morra asfixiada? Tomar cuidado com a "baba" para não "pegar" epilepsia? Jogar álcool no rosto da pessoa para que ela desperte daquele "transe"? Ou segurar os braços e pernas para que não se machuque? Em pleno século XXI, ainda há muita desinformação a respeito da epilepsia. O maior mito talvez seja o de que a pessoa pode morrer asfixiada se engolir a própria língua. Isso leva os desavisados a tentarem abrir a boca do paciente durante a crise. Resultado: na ânsia de ajudar, já houve casos de pessoas que tiveram a parte da mão decepada por mordeduras involuntárias. Outra lenda é a de que a "baba" pode transmitir epilepsia. "A epilepsia não é uma doença contagiosa. Ou seja, não há risco algum de contágio pela saliva", esclarece a neurofisiologista Kette Valente, do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). "Deve-se interferir o menos possível na crise epilética. O ideal é proteger o paciente, evitando que ele se machuque. E tentar colocá-lo de lado para que não haja aspiração da saliva", resume Kette. Os médicos pedem também para que ninguém restrinja os movimentos da pessoa com epilepsia, tampouco jogue água para reanimá-la.


A matéria acima foi retirada da revista VIVA SAÚDE, págs. 84, 85, 86 e 87. Março de 2019. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VIVA SAÚDE e à Editora Escala.


SUGESTÃO

Abaixo, vídeo do Dr. Dráuzio Varella, que explica o que é a epilepsia. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.


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