UM PROBLEMA DE PREÇO


Na  edição desta semana, 15 de agosto de 2015, a colunista Giuliana Napolitano da revista Exame, entrevista o presidente do banco Santander Brasil, Jesús Zabalza diz que após tentou negociar a compra do HSBC, porém o Bradesco conseguiu adquirir o mesmo por uma quantia acima do esperado. Zabalza ainda confirma que o banco não ficou conservador, pois continua buscando novas aquisições no país - desde que o preço faça sentido. A entrevista completa você confere a seguir. Os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista Exame, e a divulgação prioriza apenas, compartilhar as informações, garantindo acesso ao conhecimento para o público de forma geral. O Conhecimento Cerebral respeita qualquer tipo de opinião e por isso, não é favor de qualquer tipo de plágio. Ainda incentivamos o apoio a qualquer veículo de comunicação, que trabalhe e priorize a elaboração de informações úteis e verdadeiras.



Por Giuliana Napolitano

"O BANCO SANTANDER FICOU CONHECIDO pela ousadia ao fazer aquisições. Depois de uma série delas, a instituição, que era a sexta maior da Espanha na década de 80, tornou-se uma das maiores do mundo, um valor de mercado de cerca de 100 bilhões de dólares. No Brasil, deixou o mercado atônico ao pagar 7 bilhões pelo Banespa, quase quatro vezes acima do preço mínimo estabelecido no leilão de privatização do banco em 2000. Quem esperava ver algo parecido no processo de venda da filial brasileira do HSBC, porém, se decepcionou. O Santander ofereceu menos do que o Bradesco e perdeu a disputa. Os espanhóis ficaram conservadores? 'Não, não', diz Jesús Zabalza, presidente do Santander Brasil. A EXAME Zabalza afirmou que o banco não vai 'deixar boas oportunidades que acelerem a expansão no país' - desde que o preço da aquisição faça sentido.

Giuliana Napolitano (EXAME): "Ficou mais difícil competir num mercado que é dominado por quatro bancos bem maiores do que o Santander?"
Jesús Zabalza: "Temos um tamanho que nos permite competir. Nos últimos três anos, depois da integração do banco Real (comprado em 2007), fizemos uma transformação interna: reduzimos despesas, aumentamos a eficiência, melhoramos o custo do crédito, baixamos a inadimplência e nos tornamos mais competitivos comercialmente."

Giuliana Napolitano (EXAME): "A estratégia é explorar essa presença internacional para tentar atrair os clientes do HSBC, já que o Bradesco é um banco local?"
Jesús Zabalza: "Sim. Somos procurados por empresas que querem exportar ou ampliar seus negócios no exterior e por companhias que querem vender para o Brasil ou se instalar aqui. Também oferecemos serviços para correntistas de alta renda, que podem, por exemplo, sacar dinheiro em caixas eletrônicos  de diversos países sem custo adicional. Vamos usar esse tipo de diferencial para acelerar o processo de crescimento orgânico. A política do Santander no Brasil não é ser o maior banco. Queremos ter uma participação relevante no mercado - o que já temos - e ser o melhor banco."



Giuliana Napolitano (EXAME): "Quando isso mudou? No passado o Santander queria, sim, ser o maior."
Jesús Zabalza: "Hoje, é difícil ser o maior. Mas queremos aumentar nossa base de clientes e fazer com que eles concentrem suas movimentações financeira conosco. Para isso, precisamos atender melhor. Estamos trabalhando para ter uma oferta de produtos e serviços de boa qualidade, a preços razoáveis. Também estamos investindo em treinamento."




Giuliana Napolitano (EXAME): "O Santander está mais conservador ao fazer aquisições?"
Jesús Zabalza: "Não, não. A prioridade é o crescimento orgânico acelerado, mas não vamos deixar passar boas oportunidades que complementem nossos negócios e levem nossa expansão no país. Mas o valor da aquisição precisa cumprir nossas exigências de retorno. Não ficamos conservadores. Podemos comprar quando fizer sentido."



Giuliana Napolitano (EXAME): "O Bradesco pagou caro para comprar o HSBC?"
Jesús Zabalza: "Obviamente, pagou mais do que consideramos bom para nossos parâmetros financeiros; Por isso, levou.

Giuliana Napolitano (EXAME): "Comenta-se que o Santander não foi tão agressivo na oferta pelo HSBC porque temia ter dificuldades na integração, como aconteceu com o Real. Essa era uma preocupação?
Jesús Zabalza: "No caso do Real, compramos um banco que era quase do tamanho do Santander. O objetivo era aproveitar o melhor de cada instituição e criar um grupo que fosse a soma dos dois. Era uma meta agressiva, e acho que conseguimos cumpri-la, mas a consequência foi que demoramos entre um e dois anos anos além do previsto para completar a integração. O HSBC é um banco menor. Além disso, o Santander já tem uma cultura absolutamente definida no Brasil, então não teríamos a discussão de qual cultura iria prevalecer. Seria, portanto uma integração bem simples."

Giuliana Napolitano (EXAME): "A rentabilidade do Santander é bastante inferior à de Bradesco e Itaú. Dá para melhorá-la?
Jesús Zabalza: "Uma explicação para isso é o fato de sermos altamente capitalizados (como o patrimônio é elevado, a rentabilidade em relação ao patrimônio é menor). Mas vamos melhorar esse indicador. Além da transformação que fizemos nos últimos anos, montamos uma instituição em conjunto como o banco Bonsucesso para ganhar terreno em empréstimos consignados; investimos 1,1 bilhão de reais num novo centro de operações em Campinas, que permite ampliar a escala de nossas operações; e assumimos o controle da GetNet, que processa operações com cartões. São investimentos que começam a dar frutos. No segundo trimestre de 2015, tivemos o melhor resultado de nossa história no Brasil. Esse resultado inclui ganho extraordinário com um processo tributário. Mas, mesmo sem isso, o desempenho tem melhorado."

Giuliana Napolitano (EXAME): "Por que é tão difícil para um banco estrangeiro crescer no Brasil?"
Jesús Zabalza: "Para competir aqui, é preciso ter escala, processos bem estruturados, tecnologia e os melhores profissionais. Combinar tudo isso não é fácil. Além disso, os bancos locais têm um longo histórico de atuação conhecem a fundo a dinâmica. Mas a premissa de sua pergunta não se aplica ao Santander. Chegamos comercialmente no Brasil somente no final da década de 90 e conseguimos nos tornar o terceiro maior banco privado do país. Em relação aos restante do mercado, não são apenas os estrangeiros que penam para competir no Brasil. Os bancos médios também enfrentam dificuldades."


A entrevista acima foi retirada da revista EXAME, edição: 1095, ano 49 nº 15. 19 de agosto de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista EXAME e a Editora Abril.



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