CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA ECONOMIA!

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A seguinte matéria foi escrita por Fabiane Stefano, publicada em 2 de setembro de 2015 pela revista EXAME. Portanto, todos os direitos autorais pertencem exclusivamente à revista e a seus autores, e não devem ser copiados sem a divulgação de seus nomes.
 
"A CHINA VIROU PROBLEMA"
"A desvalorização da moeda chinesa surpreendeu os investidores, derrubou bolsas, corroeu o valor das moedas emergentes. O país pode ser o detonador de uma nova crise global?"


"Os céticos gostam de comparar a economia chinesa a um elefante que anda de bicicleta. Seu equilíbrio depende, essencialmente, da velocidade. Se o elefante cansa e começa a pedalar com menos vigor, segue a metáfora, acaba se esborrachando no chão - e, com o peso que tem, sacudindo tudo que está em sua volta. Os últimos 20 anos estão aí para provar que o tal elefante chinês se mostrou um especialista em calar os que previam sua queda. A suspeita, no entanto, continua lá - e se a China, atualmente dona de 15% do PIB mundial, entrar em crise? Esse temor nunca foi tão vivo quanto no final de agosto, quando a bolsa de Xangai entrou num aparente colapso. No dia 24, uma segunda-feira que logo foi apelidada de Black Monday, a bolsa caiu 8,5%. Na terça, outro tombo, desta vez de 7,6%. Foi bastante para mandar o restante do mundo um recado - o elefante está cansando.
Tudo começou com o que era para ter sido apenas uma mudança técnica no sistema cambial chinês. No dia 11 de agosto, o banco central adotou uma nova fórmula para fixar o valor de sua moeda, o iuane. O efeito prático da mudança foi uma desvalorização de 5% na moeda. É uma flutuação tímida para padrões brasileiros - nosso real, afinal de contas, já perdeu mais de 60% de seu valor em 12 meses -, mas, como a China é o maior exportador do planeta, a mudança deixou investidores com uma senhora pulga atrás da orelha. Parecia, afinal, um golpe para conferir mais competitividade às exportações chinesas e dar uma animada numa economia que, longe dos 9% ou 10% de outrora, deverá crescer 'apenas' 7% em 2015. O medo, claro, é que a desaceleração não pare por aí. Somente no dia 25 de agosto as bolsas do mundo perderam 3 trilhões de dólares em valor de mercado."


"O governo chinês, tão cioso de sua capacidade de planejar cada detalhe da vida econômica do país, parece não ter a menor ideia de como interromper o show de horror da bolsa de Xangai. Faz dois meses que anuncia medidas para elevar o preço das ações - que, em resposta, caem mais. Desde o meio de junho, a perda acumulada da bolsa de Xangai é de 42% - antes, havia valorizado 150% em 12 meses. A queda é causada por uma série de más notícias econômicas. O indicador que mede a produção industrial do país chegou ao patamar mais baixo desde março de 2009, um dos piores momentos da crise financeira. A venda de smartphones na China caiu pela primeira vez. E a associação de montadoras calculou que a venda de carros de passeio tenha caído 6,6% em julho."



"É uma reversão para a qual o mundo não parece preparado. Até outro dia, a China era a salvação de uma economia global estagnada. As economias ricas podiam encolher ou remar sem sair do lugar, mas a China entregava taxas anuais de expansão que compensavam a pasmaceira geral. Centenas de milhões de chineses ascenderam à classe média. Ano após ano, o número de companhias do país entre as maiores do mundo aumentava. No ranking de 2015 das 2 000 maiores empresas globais da revista americana Forbes, 232 chinesas - cinco vezes mais do que em 2003. Ainda que uma desaceleração na economia chinesa fosse esperada, a solução desejada era uma transição para um modelo de crescimento capitaneado pelo consumo interno em vez da dependência do mercado externo e de altas taxas de investimento. As últimas semanas mostraram que essa transição não está funcionando como esperado."



"Como reação à turbulência global, o governo chinês diminuiu a taxa de juro em 0,25 ponto percentual - ela atualmente está em 4,6% ao ano. É o quinto corte desde novembro do ano passado. Espera-se também uma injeção de liquidez no sistema bancário para estimular o crédito. Pequim deve ainda intensificar o uso de reservas para manter a estabilidade do iuane. A estimativa é que 40 bilhões de dólares sejam gastos por mês para manter a depreciação gradual do iuane, o objetivo do novo sistema cambial. 'O que tem acontecido nos últimos dias mostra que o governo chinês perdeu o controle', afirma Marteen-Jan Bakkum, estrategista do banco de investimento holandês NN Investiment Partners (o antigo ING). 'Os chineses continuam tentando manipular seus mercados acionário e cambial, mas isso não está funcionando mais'."






"O Bank of América Merrill Lynch projeta uma queda de aproximadamente 10% no iuane até o fim do ano. O investidor de Hong Kong e ex-economista do FMI Stephen Jen calcula que uma depreciação de 10% da moeda chinesa acarreta movimentos de queda que podem chegar a 20% nas moedas do restante da Ásia. Países como Vietnã, Tailândia, Coreia do Sul e Malásia devem ser os mais afetados, porque suas cadeias de produção fornecem itens para o parque industrial da China ou competem diretamente com os chineses em outros mercados, A desvalorização do iuane deve de fato dar algum impulso ao setor industrial chinês, sobretudo aquele que depende do mercado externo. Em julho, as exportações caíram 8,3% em comparação com o mesmo período do ano passado. 'Houve uma desvalorização modesta do iuane, o que não ajuda tanto assim o setor exportador chinês', afirma Victor Shih, pesquisador da Universidade Harvard e professor da Universidade da Califórnia em San Diego.
Os últimos lances na economia chinesa têm colocado ainda mais pressão sobre as moedas dos mercados emergentes, mas a turbulência atual não é  culpa exclusiva do país. No último ano, quase 1 trilhão de dólares em capital deixou as 19 maiores economias emergentes, segundo cálculos do NN Investiment Partners, em direção aos Estados Unidos e a Europa. A saída desse capital - dinheiro em sua maior parte de investidores, empresas e instituições financeiras - é resultado de uma somatória de problemas comuns e dramas individuais dos países emergentes. A forte queda das commodities, de quase 50%, é o fator que une essas economias, dependentes das exportações de materiais básicos. A Rússia, por exemplo, amarga a mais severa recessão em duas décadas em razão da queda do preço do petróleo, agora cotado a menos de 40 dólares o barril. Na Turquia, o alto endividamento do setor privado em dólar pode gerar uma crise no balanço de pagamentos. Até o Cazaquistão é motivo de preocupação."
 


"SUCESSÃO DE PROBLEMAS"
 
"Já não são poucos os problemas dos emergentes, e tudo ainda pode piorar. Janet Yellen, presidente do banco central americano, o Fed, anunciou recentemente a necessidade de aumentar a taxa de juro, próxima a zero desde o fim de 2008. Isso deve intensificar a fuga de capitais dos emergentes em direção aos Estados Unidos. O início da temporada de juros mais altos era esperado para a reunião do Fed marcada para 17 de setembro. Mas, com a crise que vem da China, é possível que a decisão seja protelada. 'Os últimos movimentos da China colocam o governo americano em uma posição desconfortável', diz o economista Eswar Prasad, da Universidade Cornell. O iuane em queda deve elevar o déficit comercial dos Estados Unidos com a China. 'Não é apenas a China. Os mercados emergentes vão mal. O crescimento na Europa ainda é fraco e o problema grego não desapareceu. A desvalorização da China foi apenas um alerta de que nem tudo vai bem no mundo', afirma o economista americano Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Mas, se fosse possível escolher, ninguém gostaria que a China entrasse no grupo das economias com problemas. Muito menos o Brasil, que já enfrenta uma recessão e tem na China seu maior parceiro comercial. Acelera, elefante."
 
 

A matéria acima foi retirada da revista EXAME, edição 1096, ano 49, nº 16, págs: 102, 103, 104 e 105. 02 de setembro de 2015. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista EXAME e a Editora Abril.
 

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