ATUALIDADES:
VESTIBULAR E ENEM
CONTAMINAÇÃO DE MANANCIAIS REDUZ A OFERTA DE ÁGUA
Além dos períodos de seca, a degradação dos mananciais reduz a oferta de água de qualidade para a população das grandes cidades
O verão 2014-2015 foi marcado pelo maior período de seca no Sudeste do Brasil em oito décadas, afetando três regiões metropolitanas - as de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, e mais drasticamente, São Paulo. Dia a dia, a população paulista viu o nível dos reservatórios cair. No início de março, o nível dos reservatórios do Sistema Cantareira, que bastecem 9 milhões de habitantes da Grande São Paulo, continuava baixo. As chuvas mal repunham o pouco que restara de reserva, os chamados volumes mortos, a água que fica abaixo dos dutos de captação e que passou a ser coletada com bombas de emergência.
O governo paulista estudava socorrer o fornecimento ampliando a retirada da represa Billings, que abastece dois outros sistemas da região metropolitana, o Guarapiranga e o Alto do Tietê. A Billings tem sozinha, capacidade maior do que de todo o complexo da Cantareira, e potencial para abastecer 4,5 milhões de pessoas. No entanto, por causa da poluição por esgoto e lixo, suas águas chegam a apenas cerca de 2 milhões de paulistas. A Billings tem uma intensa ocupação ilegal em suas margens, e sua deterioração é um exemplo do descaso com que os mananciais são tratados, o que resulta em prejuízos ambientais, sociais e econômicos.
FALTA DE PLANEJAMENTO
As alterações de humor de São Pedro não são as únicas responsáveis para a crise hídrica na Região Sudeste - tampouco em nenhuma outra região do país. Conta, também, a falta de planejamento e de investimentos públicos - sobretudo dos governos estaduais, os principais responsáveis pelo setor - no sistema de captação e armazenamento de água. Tanto é que, prenúncio da catástrofe, a capital paulista já havia passado por uma certa crise no verão anterior. O último grande sistema a entrar em operação em São Paulo foi o Alto Tietê, em 1992. Nas demais capitais em crise hídrica, a situação não é diferente. Em Belo Horizonte, nenhuma grande obra é realizada desde 1991. E, no Rio de Janeiro, desde 1963!
Mesmo quando não possuem sua própria companhia de água, as prefeituras têm sua parcela de responsabilidade. Cabe a elas monitorar e impedir as ocupações irregulares em áreas de mananciais, que comprometem a qualidade das águas. Como resultado, capitais e grandes cidades do interior estão cada vez mais vulneráveis à escassez de água.
SECAS
Secas são fenômenos naturais, provocadas quando uma massa de ar seca se mantém estacionada sobre uma região, impedindo a entrada de ventos úmidos. É o que ocorre regularmente em regiões áridas ou semiáridas do mundo todo e, no Brasil, no Nordeste. As massas de ar que trazem a umidade sobre o litoral, mas têm pouca força para chegar ao interior da região.
Como resultado, a costa nordestina tem clima tropical, quente e úmido, e é recoberta pela vegetação de Mata Atlântica, mas o sertão é arrasado por um sol impiedoso, sem que cada uma gota de chuva sequer, às vezes, por muito tempo. Daí o solo raso e pedregoso e a vegetação enfezada da caatinga, característicos do semiárido brasileiro. Dez milhões de habitantes da região viveram, em 2013, a pior seca registrada nos últimos 50 anos. No Sudeste, as secas são mais esporádicas, mas têm ocorrido com frequência crescente. As razões envolvem fatores relacionados à ação do homem.
ABUNDÂNCIA
O Brasil abriga mais de 12% do volume total de água doce do mundo. Apesar da abundância, há uma grande desigualdade natural de distribuição dos recursos hídricos pelo país. Mais de 70% da água doce está nos rios da Região Norte, Amazônia, que abriga apenas 5% da população brasileira. Enquanto isso, o Sudeste, com mais de 40% da população, conta com apenas 6% do volume total.
O país também possui grande capacidade de armazenamento. Nossas represas podem dispor a cada brasileiro, em média, de 3,6 mil m³ (ou 3,6 milhões de litros) de água - volume médio por habitante maior do que o disponível para as populações da África, Europa e Ásia. Enquanto cada um dos 8,5 milhões de habitantes da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia dispõe de 13,5 mil m³, os moradores da região do Rio Paraná, a mais populosa, contam com apenas 4 mil m³ (veja na tabela abaixo).
QUEM CONSOME
Nem toda a água estocada é destinada ao consumo doméstico, da indústria ou da agricultura. Muitos reservatórios fazem parte de complexos hidrelétricos voltados para a geração de energia. Na região Tocantins-Araguaia, por exemplo, estão as represas de Tucuruí e de Serra da Mesa, e na região hidrográfica do Panamá, o grande lago da Usina de Itaipu. A água das usinas hidrelétricas passa pelas turbinas que geram energia e retornam aos cursos hídricos rapidamente e com qualidade pouco alterada. Por isso, não é considerada água consumida - ao contrário do que ocorre com a água destinada à indústria, à agropecuária e ao consumo humano. Segundo estudos da Agência Nacional de Águas (ANA), órgão brasileiro responsável pela gestão dos recursos hídricos do país, do total de quase 2,4 mil m³ retirados dos rios a cada segundo, metade é efetivamente consumida - neste caso, demora mais a retornar aos rios, e, quando retorna, chega sem a mesma qualidade.
A atividade que mais consome água no mundo é a agropecuária, em irrigação e para matar a sede de rebanhos. O mesmo ocorre no Brasil: a agropecuária consome mais de 83% das águas doces. A segunda maior demanda vem das cidades, seguidas de perto pelas indústrias.
CIDADES
Ainda que o consumo doméstico e industrial represente pouco sobre o total, é nas grandes cidades brasileiras que a água faz mais falta. A alta densidade demográfica e a grande concentração de indústrias reduzem a disponibilidade por habitante. Juntas, essas duas demandas respondem por cerca de 16% da água consumida no país. Porém, as metrópoles demandam mais água do que as bacias ao seu redor são capazes de oferecer. A região metropolitana de São Paulo, por exemplo, depende da captação da água de rios cada vez mais distantes como o Piracicaba, que passa a cerca de 100 quilômetros da capital e integra o Sistema Cantareira.
Outro fator que leva à escassez de água é a falta de qualidade. Relatório de 2013 da ANA mostra que de 2001 fontes monitoradas em todo o país, 93% da água apresentava qualidade ótima, boa ou regular, e apenas 8%, ruim ou péssima. Mas, nas cidades, a situação é outra. De 148 pontos monitorados em zonas metropolitanas, quase metade apresenta água que não tem condições de ser consumida sem passar por tratamento especial.
Essa situação calamitosa é resultante de uma cadeia de eventos que se entrelaçam, provocando a degradação dos mananciais. A acelerada urbanização leva à ocupação irregular de nascentes, cabeceiras de rios e margens de represas. Os programas governamentais de habitação não dão conta de prover moradia em locais apropriados com saneamento básico. Essas famílias acabam, então, se instalando em loteamentos ilegais, em áreas de mananciais, em moradias improvisadas, sem saneamento. E, muitas vezes, depois de regida, o governo acaba regularizando a ocupação, ainda sem as condições sanitárias adequadas. É dessa ocupação informal que vem boa parte do esgoto doméstico que contamina a água que deveria abastecer a população.
O descaso com os rios que cortam as grandes cidades também reduz o volume de água de qualidade. Em São Paulo, por exemplo, é emblemática a poluição dos dois principais rios da zona urbana, o Tietê e o Pinheiros. Poluentes químicos, industriais e dejetos domésticos reduzem o nível de oxigênio e aumentam a concentração de substâncias orgânicas na água, aumentando sua toxidade. Como consequência, esses são rios mortos nos piores trechos. E essa morte avança pelo seu curso. Em São Paulo, o Rio Pinheiros deságua na represa Billings 800 toneladas de esgoto a cada dia. Essa água, para ser consumida, exige tratamento especial, o que retarda, dificulta e encarece a distribuição. Especialistas afirmam que, mesmo com tratamentos convencionais, limpar água contaminada custa dez vezes mais do que tratar o mesmo volume de água obtida em zonas não poluídas.
ÁGUA INCONVENIENTE
A desordem urbana tem outro efeito perverso: submerge regularmente zonas urbanas em inundações. As ruas pavimentadas e a grande concentração de edifícios de concreto, associadas à falta de áreas verdes, transformam as cidades em ilhas de calor. O concreto e o asfalto absorvem e retém o calor do sol. Assim, os centros urbanos têm temperaturas muito mais elevadas do que as zonas rurais ao seu redor. Como consequência, o regime de ventos se altera e as cidades recebem regularmente violentas tempestades. A cobertura de concreto e asfalto impede que a água seja absorvida pelo solo, resultando em grandes enchentes.
SAIU NA IMPRENSA
EM MEIO A CRISE DA ÁGUA, BILLINGS SOFRE COM DESCASO E POLUIÇÃO
Márcio Neves
Em meio à crise hídrica que afeta a região metropolitana de São Paulo, a represa Billings, com capacidade para armazenar 1,3 bilhão de metros cúbicos de água, cerca de 25% a mais que o Sistema Cantareira, sofre com a poluição.
Segundo relatório do programa Billings, Te Quero Mais Viva, produzido pelo Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, a represa chega a receber 800 toneladas de esgoto todos os dias. Outras 500 toneladas de lixo são jogadas em suas margens. O relatório aponta ainda que a represa sofre com assoreamento, desmatamento das margens, aterramento das nascentes, impermeabilização do solo por loteamentos irregulares, adensamento populacional, poluição por lixo doméstico, químico e industrial. (...)
Especialistas e ambientalistas afirmam que pouco foi feito pelos governos municipais e estaduais para zelar pela represa (...).
PORTAL UOL (www.uol.com.br), 10/11/2014
RESUMO
ÁGUA
SECAS: São fenômenos naturais, mas podem ser agravados pela ação do homem. No semiárido nordestino, a seca é causada pelo bloqueio dos ventos úmidos da costa, que mantém o interior quente e seco. São Paulo viveu longos períodos de estiagem por dois anos consecutivos. Mas a escassez de água no Sudeste passa pela falta de planejamento e investimentos em obras desde a captação ao tratamento e distribuição.
CONSUMO: Considera-se água consumida aquela que não retorna aos rios rapidamente, nem na qualidade compatível com a da retirada. É a água usada no abastecimento de casas, indústria e agricultura. O perfil do uso da água no Brasil segue tendência mundial: a maior parte se destina à agropecuária (83%), seguida das cidades, e da indústria. Mas, nos centros urbanos, a densidade populacional e a concentração de indústrias reduzem a disponibilidade per capita.
ABUNDÂNCIA NATURAL: O Brasil abriga 12% de toda água doce de fácil acesso existente no planeta. Mas essa água se distribui de maneira desigual. A maior parte está na Amazônia, que abriga 5% da população brasileira. Já o superpopuloso Sudeste conta com apenas 6% das reservas hídricas.
CAPACIDADE: O Brasil tem, também, grande capacidade de armazenar água: mais de 3 mil m³ por habitante - mais do que a capacidade per capita dos europeus, africanos e asiáticos, juntos. No entanto, nem toda essa água é destinada a consumo. Metade dela é usada também para a produção de eletricidade. O total de consumo efetivo equivale à metade da vazão total de 2,4 mil m³ por segundo.
MANANCIAIS: O crescimento desordenado das cidades brasileiras afeita diretamente o volume e a qualidade da água disponível para a população. A ocupação de encostas, margens, várzeas e nascentes de rios por loteamentos clandestinos e vias públicas polui os recursos hídricos.
Informações retiradas do livro ATUALIDADES: VESTIBULAR E ENEM - 1º Semestre de 2015, págs. 152, 153, 154 e 155.
SUGESTÃO
Após a leitura, sugerimos que você assista aos dois episódios do site Volume Vivo, que busca divulgar várias informações sobre a crise hídrica paulista. No entanto, você perceberá que apesar do foco ser São Paulo, o vídeo demonstra a situação de outras cidades que sofrem com o mesmo problema: Rio de Janeiro, Minas Gerais, e outras cidades brasileiras que sofrem com a falta d'água.
Aqui, separamos um vídeo que conta o quanto a água é importante para a vida do planeta. Apesar de não ser real, emociona.
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