CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA ECONOMIA!
"PETRÓLEO: O ESTOURO DA BOLHA"
"Não faz tempo, o barril era cotado acima de 100 dólares. Agora vale menos de um terço disso. A queda reflete o aumento da oferta mundial e dará impulso à economia internacional, mas representa um obstáculo à recuperação da Petrobras"
"PETRÓLEO: O ESTOURO DA BOLHA"
"Não faz tempo, o barril era cotado acima de 100 dólares. Agora vale menos de um terço disso. A queda reflete o aumento da oferta mundial e dará impulso à economia internacional, mas representa um obstáculo à recuperação da Petrobras"
"Para o Islã, a Arábia Saudita é o reinado das mesquitas sagradas, nas cidades de Meca, onde Maomé nasceu, e Medina, onde o profeta foi enterrado. Para a economia mundial, essa faixa de terreno desértico situada numa península entre o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico é a localização de reservas petrolíferas gigantescas - e facilmente exploráveis, a custo extremamente baixo. O campo de Ghawar, maior do mundo, responde sozinho por metade da população saudita. Estima-se que saiam dele 5 milhões de barris de petróleo por dia, mais que o dobro dos 2 milhões de barris produzidos pela Petrobras. Suas dimensões avassaladoras fazem dele um dos principais reguladores do mercado internacional do petróleo. Quando os sauditas fecham a sua torneira, as cotações tendem a subir. No momento, entretanto, apesar de haver um excesso de oferta mundial, a Arábia Saudita mantém a produção a todo vapor.
Seria possível imaginar que os sauditas endoideceram e decidiram queimar as suas reservas, em vez de reduzir a produção e forçar uma alta de preços. A estratégia, porém, é motivada por um cálculo frio. Houve, nos últimos anos, uma multiplicação dos fornecedores de petróleo no mercado internacional. Novas reservas foram descobertas, como as brasileiras do pré-sal, e avanços tecnológicos possibilitaram a exploração de áreas como as rochas de xisto, nos Estados Unidos, ou nas areias do Canadá. O Iraque voltou a ser um grande exportador. Para completar, o fim do embargo comercial contra o Irã deverá ampliar ainda mais a oferta. As autoridades da Arábia Saudita, oficialmente, dizem que vão manter o atual ritmo de produção para não perder a fatia do mercado para esses novos concorrentes. Analistas acreditam que elas querem na verdade é minar os produtores americanos do xisto e outras fontes alternativas de petróleo. Nos Estados Unidos, pelo menos trinta deles já quebraram."
"Essa é uma das razões do mergulho abrupto nas cotações do petróleo nas últimas semanas. Em meados de 2014, o barril (medida equivalente a 159 litros) era vendida acima de 110 dólares. Hoje é negociado a 30 dólares, e há quem estime que os preços possam cair ainda mais, até que as forças de oferta e demanda se estabilizem. Os preços não eram tão baixos desde 2004. Pesa também o fato de a demanda ter arrefecido. A China não importa como no passado, e as reservas globais de óleo e derivados chegaram aos níveis mais elevados já registrados. Outro fator que colabora para a queda nos preços é o fortalecimento do dólar. A Arábia Saudita não consegue manipular sozinha as cotações mundiais, mas tira proveito da conjuntura para empurrar ainda mais as cotações para baixo.
Não deixa de ser uma boa notícia para a economia mundial. De acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional, o crescimento global pode ser até 1 ponto percentual maior. 'A queda é excelente para os importadores. Reduz a pressão sobre a balança comercial e diminui o preço de combustíveis, dando mais competitividade ao setor industrial', afirma o economista Helder Queiroz Pinto Jr., da UFRJ. 'Os consumidores também ganham, porque despenderão menos com combustíveis e energia'. Perdem, do outro lado, os grandes exportadores. A desvalorização significa que, em poucos meses, eles viram o preço de sua principal mercadoria desabar mais de 70%. Péssima notícia para a Venezuela e também para o Irã, o grande adversário histórico da Arábia Saudita."
"Para a Petrobras, que vem procurando reequilibrar as suas finanças, a queda nas cotações chega em má hora. Reduz a rentabilidade de sua preços e torna inviável comercialmente a exploração de alguns deles, caso as cotações não se recuperem. Cálculos da consultoria norueguesa Rystad indicam que praticamente nenhuma reserva brasileira é rentável com o preço do barril abaixo de 40 dólares. A própria Petrobras informou que os campos do pré-sal, os mais produtivos atualmente, são viáveis com cotações a partir de 45 dólares. A Arábia Saudita, em comparação, precisa de apenas 5 dólares por barril para manter os lucros de boa parte de seus poços. 'As reservas do pré-sal estão entre as mais lucrativas descobertas recentemente se forem levadas em consideração apenas as suas dimensões e produtividade', afirma Kjetil Solbraekke, diretor da Rystad na América do Sul. 'Se essas jazidas estivessem em outro país, seriam exploradas rapidamente, mesmo com as atuais cotações. No Brasil, o desenvolvimento fica a cargo de uma única empresa, a Petrobras, submetida a regras de conteúdo nacional e custos regulatórios elevados'."
"A estatal, para compensar perdas de pelo menos 80 bilhões de reais com reajustes defasados no primeiro mandato de Dilma Rousseff, mantém os preços elevados e não repassa para o consumidor a queda na cotação internacional. A estratégia faz parte da luta desesperada da Petrobras para recuperar seu caixa. Os brasileiros pagam esse preço adicional. É o custo Dilma, somado ao já pesado custo Brasil."
Seria possível imaginar que os sauditas endoideceram e decidiram queimar as suas reservas, em vez de reduzir a produção e forçar uma alta de preços. A estratégia, porém, é motivada por um cálculo frio. Houve, nos últimos anos, uma multiplicação dos fornecedores de petróleo no mercado internacional. Novas reservas foram descobertas, como as brasileiras do pré-sal, e avanços tecnológicos possibilitaram a exploração de áreas como as rochas de xisto, nos Estados Unidos, ou nas areias do Canadá. O Iraque voltou a ser um grande exportador. Para completar, o fim do embargo comercial contra o Irã deverá ampliar ainda mais a oferta. As autoridades da Arábia Saudita, oficialmente, dizem que vão manter o atual ritmo de produção para não perder a fatia do mercado para esses novos concorrentes. Analistas acreditam que elas querem na verdade é minar os produtores americanos do xisto e outras fontes alternativas de petróleo. Nos Estados Unidos, pelo menos trinta deles já quebraram."
"Essa é uma das razões do mergulho abrupto nas cotações do petróleo nas últimas semanas. Em meados de 2014, o barril (medida equivalente a 159 litros) era vendida acima de 110 dólares. Hoje é negociado a 30 dólares, e há quem estime que os preços possam cair ainda mais, até que as forças de oferta e demanda se estabilizem. Os preços não eram tão baixos desde 2004. Pesa também o fato de a demanda ter arrefecido. A China não importa como no passado, e as reservas globais de óleo e derivados chegaram aos níveis mais elevados já registrados. Outro fator que colabora para a queda nos preços é o fortalecimento do dólar. A Arábia Saudita não consegue manipular sozinha as cotações mundiais, mas tira proveito da conjuntura para empurrar ainda mais as cotações para baixo.
Não deixa de ser uma boa notícia para a economia mundial. De acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional, o crescimento global pode ser até 1 ponto percentual maior. 'A queda é excelente para os importadores. Reduz a pressão sobre a balança comercial e diminui o preço de combustíveis, dando mais competitividade ao setor industrial', afirma o economista Helder Queiroz Pinto Jr., da UFRJ. 'Os consumidores também ganham, porque despenderão menos com combustíveis e energia'. Perdem, do outro lado, os grandes exportadores. A desvalorização significa que, em poucos meses, eles viram o preço de sua principal mercadoria desabar mais de 70%. Péssima notícia para a Venezuela e também para o Irã, o grande adversário histórico da Arábia Saudita."
"Para a Petrobras, que vem procurando reequilibrar as suas finanças, a queda nas cotações chega em má hora. Reduz a rentabilidade de sua preços e torna inviável comercialmente a exploração de alguns deles, caso as cotações não se recuperem. Cálculos da consultoria norueguesa Rystad indicam que praticamente nenhuma reserva brasileira é rentável com o preço do barril abaixo de 40 dólares. A própria Petrobras informou que os campos do pré-sal, os mais produtivos atualmente, são viáveis com cotações a partir de 45 dólares. A Arábia Saudita, em comparação, precisa de apenas 5 dólares por barril para manter os lucros de boa parte de seus poços. 'As reservas do pré-sal estão entre as mais lucrativas descobertas recentemente se forem levadas em consideração apenas as suas dimensões e produtividade', afirma Kjetil Solbraekke, diretor da Rystad na América do Sul. 'Se essas jazidas estivessem em outro país, seriam exploradas rapidamente, mesmo com as atuais cotações. No Brasil, o desenvolvimento fica a cargo de uma única empresa, a Petrobras, submetida a regras de conteúdo nacional e custos regulatórios elevados'."
"A estatal, para compensar perdas de pelo menos 80 bilhões de reais com reajustes defasados no primeiro mandato de Dilma Rousseff, mantém os preços elevados e não repassa para o consumidor a queda na cotação internacional. A estratégia faz parte da luta desesperada da Petrobras para recuperar seu caixa. Os brasileiros pagam esse preço adicional. É o custo Dilma, somado ao já pesado custo Brasil."
COM REPORTAGEM DE LARISSA BALTASAR
A matéria acima foi retirada da revista VEJA - edição 2 461 - Ano 49 - nº 3, págs. 59, 60 e 61. 20 de janeiro de 2016. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VEJA e a Editora Abril.
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