CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA ASTRONOMIA!
"VIDA EM VÊNUS"
"Um estudo da Nasa revela que, no passado, o planeta que hoje é o mais quente do Sistema Solar pode ter tido um clima agradável e oceanos com até 2 mil metros de profundidade"
Por: Júlio César Borges
"Vênus tem quase o tamanho da Terra e os ingredientes presentes nos dois corpos são similares, mas as semelhanças param por aí. O segundo planeta mais próximo do Sol é coberto por pesadas nuvens de ácido sulfúrico e sua temperatura de superfície, acima de 460º C, pode derreter chumbo. Um estudo recente, porém, mostra que as coisas não foram sempre assim lá. Na época em que as bactérias primitivas começavam a povoar a Terra, Vênus possivelmente era um planeta bem mais amigável à vida, dotado de um clima ameno e de oceanos com profundidade de até 2 mil metros. Seria, assim, o primeiro reduto do Sistema Solar a se mostrar habitável.
'Se você estivesse lá 3 bilhões de anos atrás em uma latitude baixa e uma altitude reduzida, notaria que as temperaturas de superfície não teriam sido muito diferentes do as de um lugar nos trópicos da Terra', diz Michael Way, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, em Nova York, que liderou o estudo. Mas ele alerta que o céu limpo seria raridade por lá: um colchão de nuvens e a chuva constante comporia o cenário mais comum.
Apresentada em outubro na reunião da Sociedade Astronômica Americana, em Pesadena (Califórnia), e publicada na revista Geophysical Research Letters, a pesquisa indica que podem ter existido oceanos em Vênus entre 2,9 bilhões e 715 milhões de anos atrás, o que proporcionaria um período de estabilidade climática suficientemente longo para permitir o surgimento da vida microbiana. A ideia de oceanos em Vênus já havia sido aventada nos anos 1980, por imagens da missão americana Pioneer. 'Os oceanos da Vênus primitiva teriam tido mais temperaturas constantes, e se a vida começa nos oceanos - algo de que não temos certeza na Terra -, isso seria um bom ponto de partida', disse Way.
Vênus é de longe o planeta mais quente do Sistema Solar. Sua proximidade com o Sol e uma atmosfera de dióxido de carbono 90 vezes mais densa que a da Terra ajudam a explicar a temperatura média de 462º C na superfície. Não à toa, as sondas americanas e soviéticas enviadas à superfície do planeta resistiram apenas algumas horas no solo antes de serem destruídas."
"TEMPERATURAS AMENAS"
"Way e seus colegas simularam o clima venusiano em vários momentos entre 2,9 bilhões e 715 milhões de anos atrás, a partir de modelos semelhantes aos usados para prever mudanças climáticas futuras na Terra. Os cientistas alimentaram o modelo com alguns pressupostos básicos, como presença de água, intensidade da luz solar e velocidade de rotação de Vênus. A versão virtual surpreendeu: há 2,9 bilhões de anos Vênus tinha uma temperatura de superfície média de 11º C. Ela somente aumentou há 715 milhões de anos - quando o Sol ficou mais poderoso -, para aproximadamente 15º C.
Descobrir o volume de água de Vênus no passado e a época que ela começou a desaparecer é um enigma que pode ser solucionado a partir de medições mais acuradas da composição química da superfície e da atmosfera do planeta. Uma ferramenta importante nesse sentido é a sonda japonesa Akatsuki (veja quadro), que desde 2015 orbita Vênus. Mas é difícil a existência de vida microbiana no planeta sem investigar seu solo, algo por ora impossível para os conhecimentos e a tecnologia humana disponíveis. 'Seria preciso uma grande quantidade de desenvolvimento de tecnologia e dinheiro para construir uma nave de desembarque capaz de sobreviver às condições atuais da superfície de Vênus e de escavar seu solo', avalia Way. 'Mas se os investimentos forem feitos, seria possível procurar esses sinais de vida, incluindo vestígios químicos'. De qualquer modo, as descobertas da equipe de Way deverão estimular novas investigações de Vênus por missões futuras da Nasa, como o Transiting Exoplanet Survey Satelite e o telescópio espacial James Webb."
A matéria acima foi retirada da revista PLANETA - Ano 44- Edição 527, págs. 44 e 45. Dezembro de 2017. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista PLANETA e a Editora Três.
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