DOSSIÊ CÂNCER:
A PREVENÇÃO, A LUTA, A VITÓRIA
Houve um dia em que ter diabetes era uma sentença de morte - ou pelo menos de alguns membros amputados. A pressão alta, a garantia de um ataque cardíaco iminente. Ser portador de HIV, uma verdadeira arma apontada para a cabeça. Hoje, são doenças ainda graves, mas crônicas e controláveis - qualquer um pode conviver com elas e ter qualidade de vida, desde que tomados alguns cuidados.
A epidemia assustadora dos nossos tempos de vida longa e farta (inclusive de maus hábitos como fumar, beber, comer demais e não se exercitar) é o câncer e suas mais de 100 variações já identificadas. Um assunto que interessa a todos nas próximas postagens, que compreenderão um DOSSIÊ CÂNCER: A PREVENÇÃO, A LUTA, A VITÓRIA. Você lerá e verá que ter câncer não é uma loteria, mas sim uma probabilidade estatística. Esse diagnóstico vai aparecer para metade de nós nos próximos anos.
A cura definitiva da doença em qualquer estágio já foi cravada algumas vezes, e tema de notícias ou assuntos publicados neste blog. Hoje, cientistas de todo o mundo parecem convergir para uma solução menos milagrosa que um elixir mágico, e, por isso, mais plausível: manter o câncer sob controle. As últimas descobertas aplacam a fúria da multiplicação das células cancerosas e garantem uns bons anos a mais de vida, e o principal: com qualidade. Para que o câncer, muito em breve, seja a nova diabetes, metaforicamente, só nos impeça de comer alguns doces, mas não de viver.
UMA PARTE DE NÓS:
ELE ESTÁ ADORMECIDO EM NOSSOS GENES, MAS PODE ACORDAR A QUALQUER MOMENTO. O CÂNCER NÃO É UM INIMIGO ESTRANHO
Por: Clarissa Barreto
Otávio Silveira [imagem]
"Era uma vez um óvulo e um espermatozoide. Numa quente tarde de verão ou numa noite fria de inverno, não importa. Eles se encontraram, se fundiram e se dividiram rapidamente até virarem um bebê rechonchudo e a cara da mamãe: você. São trilhões de células vivas, que crescem e se dividem para criar novas células e morrer de forma ordenada. Essa divisão celular completinha acontece de forma acelerada até virarmos adultos. Depois, a maioria delas só se divide para substituir desgastes ou reparar lesões. É aqui que mora o perigo.
O caso é que essas microlesões ou inflamações acontecem o tempo todo. No intestino, por exemplo. E a cada divisão, crescem as chances de algo dar errado - uma mutação no DNA, por exemplo. Essas mutações não são sempre vilãs. Elas foram responsáveis por transformar as amebas que povoavam o planeta em imensos dinossauros - e em nós. O tempo todo elas acontecem e, o tempo todo, são descartadas pelo nosso organismo. Até que algo dá errado.
O normal seria acontecer a apoptase - o suicídio da célula doente. Se isso não funciona, ela deveria ser abatida por uma natural killer, nossas células de defesa. Mas a célula modificada geneticamente engana nossas defesas e se multiplica, em novas células que têm todas o mesmo DNA danificado como a primeira célula anormal. É o despertar dos proto-oncogenes, genes que todos temos dormindo em nosso código genético. Mas que, se ativados, podem disparar o processo do câncer. Que é exatamente isso: um processo. Nosso sistema imunológico bem que tenta e desencadeia um processo inflamatório para conter o corpo estranho. Mas às vezes leva a pior. Essa célula se multiplica e, se ninguém a destruir, vira um tumor maligno. Aí, é o câncer."
O caso é que essas microlesões ou inflamações acontecem o tempo todo. No intestino, por exemplo. E a cada divisão, crescem as chances de algo dar errado - uma mutação no DNA, por exemplo. Essas mutações não são sempre vilãs. Elas foram responsáveis por transformar as amebas que povoavam o planeta em imensos dinossauros - e em nós. O tempo todo elas acontecem e, o tempo todo, são descartadas pelo nosso organismo. Até que algo dá errado.
O normal seria acontecer a apoptase - o suicídio da célula doente. Se isso não funciona, ela deveria ser abatida por uma natural killer, nossas células de defesa. Mas a célula modificada geneticamente engana nossas defesas e se multiplica, em novas células que têm todas o mesmo DNA danificado como a primeira célula anormal. É o despertar dos proto-oncogenes, genes que todos temos dormindo em nosso código genético. Mas que, se ativados, podem disparar o processo do câncer. Que é exatamente isso: um processo. Nosso sistema imunológico bem que tenta e desencadeia um processo inflamatório para conter o corpo estranho. Mas às vezes leva a pior. Essa célula se multiplica e, se ninguém a destruir, vira um tumor maligno. Aí, é o câncer."
AZARÃO
"Um estudo publicado na revista Science no começo deste ano por cientistas da norte-americana Johns Hopkins University indica que dois terços dos casos de câncer acontecer por puro azar: a mutação se dá porque sim, sem relação com fatores externos, como cigarro e radiação solar, por exemplo. E, com mais frequência, nos tecidos que sofrem mais divisões celulares ao longo do tempo.
Ora, se vivermos mais, essas divisões vão acontecer mais e mais vezes, certo? E aqui explicamos porque os cientistas dizem que vivemos uma epidemia global de câncer: nunca vivemos tanto - e estamos aos poucos vencendo doenças que nos matavam antes de um tumor maligno se instalar, como as cardíacas, que, essas sim, dependem quase que integralmente do estilo de vida saudável. Há casos de cânceres, como o de próstata, que atingem perto de 100% dos homens com mais de 90 anos - e demora tanto a crescer que às vezes nem é tratado.
O Brasil deve registrar, em 2015, meio milhão de casos de câncer. No mundo, serão 22 milhões até 2030, uma Austrália inteira de novos pacientes. O último relatório da Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer indica que o câncer de pulmão foi o campeão no número de casos, com 1,8 milhão de registros (13% do total) no mundo - fortemente evitável se não houver o consumo de cigarro. Logo depois, veio o câncer de mama, com 1,7 milhão de casos (11,9%) - com grandes chances de cura se o diagnóstico for precoce - e o tumor de intestino grosso, que atingiu 1,4 milhão de pessoas (9,7%).
O câncer de pulmão também é o responsável pelo maior número de mortes. Em 2012, a doença matou 1,6 milhão de pacientes ao redor do mundo. Em seguida, aparecem os tumores de fígado e de estômago, com 800 mil e 700 mil mortes.
Os cientistas são unânimes (ou quase) em afirmar que dificilmente teremos uma fórmula mágica para destruí-lo - afinal, são 100 tipos de cânceres conhecidos. A boa notícia é que aprendemos a olhar para dentro para tentar descobrir a melhor maneira de lidar com ele. E sobre isso vamos ver mais nas próximas páginas."
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