SOCIEDADE


"SURTOS DE GRIPE CRESCEM ENTRE ALUNOS E LEVAM ESCOLAS DE SP A ADOTAR VACINAÇÃO"
"Prefeitura já registrou 11 surtos em colégios neste ano, contra 2 em 2017; laboratórios fazem parcerias"


Por: Fillipe Mauro
        Fernando Tadeu Moraes

"SÃO PAULO O avanço dos casos de gripe neste ano atingiu em cheio colégios da cidade de São Paulo, que passaram a se mobilizar para fazer parcerias com laboratórios e a adotar a vacinação dentro do próprio ambiente escolar.
A prefeitura paulistana já registrou 13 surtos de síndrome gripal até esta semana, 11 dos quais em escolas. Em 2017, no mesmo período, foram notificados só 3 - sendo 2 deles especificamente em colégios.
Um episódio recente ocorreu no colégio Equipe, em Higienópolis (centro de São Paulo), onde 18 alunos foram infectados nos últimos dias, levando a instituição a fazer uma campanha urgente nesta quarta-feira (14), visando tanto estudantes quanto os pais.
Os registros de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em 2018 na capital paulista já chegam a mais que o dobro dos casos no mesmo período do ano passado.
Segundo a Secretaria da Saúde da gestão Bruno Covas (PSDB), desde o início do ano, já são 347 os casos de SRAG - 173 deles devido ao vírus H1N1. Em 2017, foram 171, sendo 13 atribuídos a H1N1.
Em todo o país, até o dia 9 de junho, já haviam sido registrados 2.715 casos de gripe, mais do que o dobro em relação ao mesmo período de 2017, quando houve 1.227 casos. O número de mortes também já é maior: passou de 204 para 446. Cerca de 60% desses casos fatais provocados pela cepa H1N1.
Pelos protocolos médicos, a ocorrência do vírus influenza, causador da gripe, passou a ser considerada um surto a partir do momento em que há dois ou mais casos relacionados e dentro de um intervalo de sete dias. 
Além do colégio Equipe, outras escolas particulares enviaram comunicados aos pais manifestando a preocupação com a evolução da doença. No colégio Santo Agostinho, no bairro da Aclimação (região central), um caso positivo foi registrado nos últimos dias. 
O temor devido ao avanço do vírus nos últimos meses também resultou em campanhas próprias de vacinação em colégios como Dante Alighieri, BIS (Brazilian International Schoool) e Marista Arquidiocesano, onde tanto os estudantes quanto os funcionários foram imunizados."


"O receio em relação ao vírus H1N1 se transformou ainda em um novo negócio.
O laboratório de imunização Provita começou há três anos atender algumas escolas com a vacina quadrivalente, que abrange um número maior de cepas que a trivalente, oferecida gratuitamente em postos de saúde ligados ao SUS. Agora, só cresce.
'Hoje, atendemos cidades de todo o país e o segmento escolar é com certeza nosso carro chefe', diz Marcela Serpa, proprietária do laboratório.
O presidente do Sieesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), Benjamin Ribeiro da Silva, afirma que a entidade passou a recomendar e incentivar esse tipo de parceria entre colégios e laboratórios para vacinação.
'Sobretudo para funcionários e o público do ensino infantil, na faixa de zero a cinco anos, que vêm em situação de maior vulnerabilidade', afirma Ribeiro da Silva."


"Segundo o infectologista Renato Kfouri, ainda não é possível ter uma avaliação precisa sobre a intensidade da atual temporada de gripe, dado que ainda estamos no início dela.
A impressão de Kfouri, de todo modo, é que a atual temporada deverá ser pior que a de 2017 - quando houve um número pequeno de casos, óbitos e internações -, mas menos agressiva que a de 2009-2010, quando houve uma disparada de registros.
A concentração dos surtos da síndrome gripal em colégios não é motivo de surpresa ao infectologista. 'Ambientes como os escolares, onde ocorre um convívio mais íntimo, favorecem a propagação do vírus', afirma Renato Kfouri.
Ele também diz que como os casos simples da síndrome gripal não são de notificação obrigatória (somente os de síndrome respiratório aguda grave precisam ser informados), a comparação desses dados é complicada.
Kfouri aprova campanhas de vacinação como as que estão sendo promovidas por colégios privados paulistanos.
'Qualquer ação que atinja pessoas fora do grupo de risco - idosos, gestantes, crianças e imunodepressivos - são bem-vindas, tanto pela proteção individual que essas pessoas vão ter como pela possibilidade de redução de circulação do vírus', afirma.
O infectologista Arthur Timerman teme que essa seja uma das piores temporadas de gripe dos últimos anos, já que o vírus foi particularmente agressivo no inverno no hemisfério norte.
'Uma das principais razões para isso é que a vacina possui eficácia baixa, de cerca de 30%, contra a cepa que mais circulou no norte, a H3N2'. Segundo ele, essa também é a variante que mais tem sido observada em São Paulo.
De acordo com Timerman, a cidade de São Paulo como um todo vive um surto de gripe, não apenas nas escolas. 'No hospital em que trabalho, o Edmundo Vasconcelos, temos recebido de 30 a 40 casos de gripe por dia', diz.
Quanto à concentração de casos de H1N1 em crianças do colégio Equipe, o infectologista aventa uma explicação: 'O último grande surto de H1N1 foi em 2011-2012, crianças que nasceram a partir de 2010 mais ou menos nunca tiveram contato com esse vírus nem foram vacinados contra ele, estando assim desprotegidas', afirma.
Ele defende que as escolas promovam campanhas de vacinação, entre outras razões pelo fato de adesão à vacina no estado ter sido baixa. 'Menos de 50% do público-alvo foi imunizado', afirma.
Devido justamente à baixa adesão e aos efeitos da greve dos caminhoneiros sobre a distribuição de medicamentos, o Ministério da Saúde anunciou nesta quarta (13) uma segunda prorrogação da campanha nacional de vacinação contra a gripe - dessa vez até o dia 22 de junho. O público-alvo da campanha são membros de grupos de risco, além de profissionais da saúde e professores das redes pública e privada de ensino.
A vacina hoje distribuída em postos de saúde do país é de tipo trivalente, o que significa que provê imunidade contra os três subtipos do vírus influenza, dentre eles o H1N1 e uma cepa mais recente, o H3N2."

+ TIRE SUAS DÚVIDAS SOBRE A VACINA DA GRIPE


Quem deve tomar a vacina? O ideal é que todos acima de seis meses de idade tomem a vacina, mas alguns grupos correm mais risco de desenvolver complicações da doença.

Quais são os grupos de risco da gripe? Crianças de 6 meses a 5 anos, idosos, professores, profissionais da saúde, grávidas, mulheres que deram à luz há menos de 45 dias, presidiários, funcionários do sistema prisional, indígenas e pessoas com doenças crônicas ou condições clínicas especiais (respiratórias, cardíacas, renais, hepáticas, neurológicas, diabéticos, obesos, imunossuprimidos, transplantados).

Como posso me vacinar contra a gripe? Na rede privada, o preço da dose varia entre R$ 80 e R$ 160. Na rede pública, a campanha foi prorrogada e vai até 22 de junho.

Quem tem direito à vacina na rede pública? O grupo de risco. A partir de 25 de junho, caso haja disponibilidade de doses, podem ser distribuídas vacinas para crianças de 5 a 9 anos e para adultos de 50 a 59 anos.

Quem não pode tomar a vacina? Bebês menores de 6 meses e quem já teve reações anafiláticas em aplicações anteriores. Quem teve a síndrome de Guillain-Barré ou tem reações alérgicas graves a ovo também deve ter cautela.

Quanto tempo leva para a vacina fazer efeito? De 2 a 4 semanas. Ela protege por 6 a 12 meses.

A vacina protege contra quais vírus? A dada na rede pública é a trivalente, contra as gripes A (H1N1), A (H3N2) e um tipo da B. Na rede privada também é oferecida a quadrivalente, que protege contra mais um tipo da B.

Quantas doses preciso tomar? Uma dose por ano, porque as cepas do vírus mudam. Crianças de 6 meses a 9 anos que estão recebendo a vacina pela 1ª vez devem tomar uma 2ª dose, com intervalo de 30 dias entre elas.

Quem toma a vacina tem chances de ficar gripado como reação? Não. O máximo que pode acontecer são dores locais (10% a 20% dos casos), febre baixa, dor no corpo e mal-estar (menos de 1%).

Qual o período de maior incidência da gripe? Durante a temporada de frio, entre abril e outubro - principalmente no mês de junho, segundo o Ministério da Saúde.

Há um surto generalizado de gripe na cidade? É difícil dizer, uma vez que apenas os casos graves que resultam em complicações, são de notificação obrigatória. É difícil contar, portanto, os casos mais brandos, que não necessariamente são informados ao Ministério da Saúde.

Quais são os sintomas da doença? Febre alta, tosse, dor muscular, dor de cabeça e de garganta, coriza e irritação nos olhos e nos ouvidos.

Como posso me prevenir? Tome a vacina; o método mais eficaz de evitar a gripe. Lave sempre as mãos com água e sabão ou com álcool. Evite levar as mãos aos olhos, ao nariz e à boca. Cubra a boca quando for tossir ou espirrar. 

Fontes: Ministério da Saúde. Secretaria da Saúde de São Paulo e infectologistas Renato Kfouri, Rosana Richtmiann, Isabella Ballalai e Carlos Kiffer.


A notícia acima foi retirada do jornal FOLHA DE S. PAULO - EDIÇÃO DIGITAL - Ano 98 - nº 32.580, pág. B1. Cotidiano. Sexta-feira, 15 de junho de 2018 (Acesso: 15/06/2018)

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