CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SAÚDE!
"NÃO É FRESCURA, É UMA DOENÇA CHAMADA ANSIEDADE"
"Descubra como a medicina tem achado formas eficientes de tratar essa patologia emocional que afeta cada vez mais os brasileiros"
Por: Diego Rocha
"Nas dinâmicas de grupo das empresas, um dos maiores clichês é, na hora de anunciar um defeito, citar que é ansioso. Como todas as pessoas têm uma pitada de ansiedade, o impacto do 'defeito' se dilui. Porém, há alguns níveis de ansiedade que são graves e não podem ser encarados como mero traço de humanidade ou frescura. São patologias que carecem de tratamento com especialistas e até uso regular de medicação."
"Distúrbios de ansiedade geram nas pessoas uma preocupação fora do comum e medo extremo de situações simples da rotina. Além disso, há os sintomas físicos, causados por um desequilíbrio químico do organismo, que pioram ainda mais o estado mental frágil. Segundo o psiquiatra Leonardo Maranhão, o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é diferente do medo, que surge diante de uma ameaça presente. O TAG aparece quando se pensa ou projeta uma ameaça futura, um cenário incerto que se busca acelerar. Contudo, essa sensação não acontece da mesma forma em todas as pessoas. Se para algumas ela é um mecanismo de propulsão para agir, em outras pode representar um empecilho para as mais simples atividades cotidianas. É precisamente nesse ponto que começa a causar impacto na vida social e até no trabalho."
"NEM TÃO ATUAL ASSIM"
"Apesar de aparentar ser uma doença moderna, causada pelo aumento da correria cotidiana, a primeira citação de ansiedade crônica como uma disfunção da atividade mental ocorreu lá no início do século XIX. Foi em 1813 que o médico francês Augustin Jacob Landré-Beauvais descreveu a ansiedade como uma síndrome composta por aspectos emocionais e reações fisiológicas. Atualmente, segundo a descrição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, já é possível classificar sete quadros diferentes de ansiedade."
"COMO A ANSIEDADE FUNCIONA"
"Para entender os efeitos desse transtorno é preciso analisar o mecanismo da ansiedade funciona. Ela nada mais é que uma resposta vinda do sistema nervoso autônomo, que age independentemente do nosso pensamento racional, em função de determinadas situações. É a porção simpática do sistema que gera essas reações de resposta ao estresse, preparando o corpo para fugir ou lutar em uma situação de perigo, mesmo que seja algo apenas imaginário. Com isso, uma alta dose de adrenalina é liberada, causando os sinais mais característicos: aceleração dos batimentos cardíacos, contração dos vasos sanguíneos, dilatação dos brônquios dos pulmões, o que aumenta a respiração, e das pupilas, diminuição da funcionalidade do intestino e liberação de glicose no sangue."
"Como consequência destes dois últimos pontos, a ansiedade, aliada a maus hábitos alimentares, pode causar problemas secundários como a diminuição da absorção de nutrientes pelo intestino e vontade quase infinita de comer doces. Juntos, esses dois fatores podem levar a obesidade, perda da capacidade cardiorrespiratória e outros agravantes, que potencializam os sintomas das crises, levando a uma bola de neve difícil de superar."
"CAMINHOS PARA TRATAR"
"Com o tratamento adequado prescrito por especialistas e algumas mudanças comportamentais, é possível até ter uma alta definitiva e deixar o problema para trás. Terapia é quase sempre o primeiro passo, por meio dela o paciente começa a perceber o que motiva a crise de ansiedade e toma consciência do 'gatilho' do problema. Não é um caminho de curto prazo, depende muito de pessoa para pessoa, mas é o mais importante.
Porém, não existe apenas um tipo de terapia. Além dos grupos de ajuda e de consultas individuais, outros recursos estão entrando em cena para recuperar pacientes. Dois exemplos são a terapia cognitivo-comportamental e o mindfulness. A primeira, conhecida como TCC, é uma abordagem mais específica, breve e focada no problema atual do paciente. Na teoria, existe o pensamento automático negativo. Esse tipo de terapia ajuda o paciente a distinguir e intervir nesses pensamentos negativos com a intenção de mudá-los. Por meio de testes comportamentais os pacientes da terapia cognitivo-comportamental treinam, identificam, escrevem e aprendem a diferença entre pensamentos e sentimentos e começam a controlar melhor seus pensamentos."
"FOCAR NO AGORA"
"Já no mindfulness, o nome é mais complicado que a prática. Ele consiste em focar completamente o pensamento na atividade que estiver sendo feita na hora, mesmo que seja totalmente cotidiana, como almoçar ou tomar banho. Com isso, o paciente presta atenção apenas nas sensações geradas pelo ato específico, impedindo que o pensamento desvirtue com qualquer outra coisa que possa gerar ansiedade. Exercícios também são muito importantes para ajudar nesse processo mais amplo do mindfulness. Para Felipe Fonseca, educador físico, a prática esportiva exige atenção, coordenação e esforço, o que acaba obrigando o paciente a focar apenas no momento presente e dar vazão à adrenalina extra que poderia ser gerada por um episódio de ansiedade crônica."
"Em muitos casos somente a terapia não resolve e é preciso apelar para a farmacologia. Ansiolíticos ou calmantes são prescritos para regular a parte química do organismo e amenizar a pior parte dos sintomas, que muitas vezes são físicos. Os principais ansiolíticos utilizados são os benzodiazepínicos, que agem diretamente nos neurotransmissores responsáveis por proporcionar o efeito sedativo e tranquilizante de atividades do sistema nervoso central."
"SÃO VÁRIOS OS GATILHOS"
"No entanto, antes de qualquer tratamento, para se buscar a cura é necessário que a pessoa peça ajuda e saiba identificar os gatilhos de seu quadro crônico de ansiedade. Depois de sofrer muito tempo no campo pessoal e profissional, Simone Freitas resolveu, há seis anos, procurar tratamento para seu TAG. Ela conta que percebia os sintomas diariamente, mas não sabia como lidar: 'Não conseguia planejar nada nem delegar nada para ninguém. Cheguei uma vez a brigar no trânsito e bater no carro de outra pessoa de propósito por causa da frustração da ansiedade. Eu mesma não me suportava mais. Sentia comichão no peito e uma necessidade de brigar'.
Depois de engordar 23 quilos regados a latas diárias de leite condensado, Simone procurou um médico, virou inclusive vegetariana, parou de beber e começou a fazer exercícios regularmente. Com isso, encara melhor a luta contra a ansiedade, que ainda é diária. 'Só de esperar o contato para contar minha história já fiquei toda me balançando, mas hoje percebo como estou e consigo me controlar'."
"Para Nayara Costa o surto foi mais pontual. Em 2014 ela foi passar o ano-novo em Paraty com o namorado (hoje marido) e, assim que chegou, começou a sentir uma sensação estranha, de que iria morrer e precisava ir para o hospital. Ela acabara de perder sua madrinha e o impacto desencadeou uma forte síndrome do pânico. Nos quatro dias de viagem ela foi mais de dez vezes ao hospital e não conseguia comer. 'Eu tive de ser carregada na volta, não tinha forças nem para andar'.
Assim que se recuperou minimamente, procurou um cardiologista, pois achava que estava com algo no coração. Ele a encaminhou para um psiquiatra, que logo iniciou uma terapia e a medicação, que demoraram cerca de dois meses para dar resultado. 'Eu ainda ia a médicos escondida para fazer exames de sangue, pois tinha certeza que ia morrer'. Perto de ter alta, prevista para outubro deste ano, Nayara ainda se policia e diz que não vê filmes agitados nem bebe café à noite. 'O mais importante de tudo é não parar o tratamento na metade achando que está bem, quem sabe o tempo é o médico. Eu fiz isso e atrasou muito a minha recuperação'."
A matéria acima foi retirada da revista VIVA SAÚDE - Edição 182, págs. 24, 25. 26, 27, 28, 29, 30 e 31. Agosto de 2018. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista VIVA SAÚDE e à Editora Escala.
SUGESTÃO
Após a leitura, separamos um vídeo sobre ansiedade para você compreender melhor esse distúrbio mental. As imagens são do canal Minutos Psíquicos, do YouTube. O idioma é o português.
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