CONHECIMENTO CEREBRAL DESTACA SOCIEDADE!
ESPECIAL TRAGÉDIA EM BRUMADINHO
"A VERGONHA DE MARIANA"
"Apesar do rompimento de barragem da Samarco há três anos, o poder público não melhorou a fiscalização e as mineradoras não mudaram os métodos de represar rejeitos. Há outras barreiras perigosas
Por: André Vargas
"O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 5 de novembro de 2015, provocou 19 mortes, prejuízos imensos, o maior desastre ambiental do Brasil e nenhuma solução. O episódio não serviu de lição para as autoridades e para a mineradora Vale, uma das sócias da Samarco e corresponsável por aquela tragédia. Nada foi feito nos últimos três anos e quase trêsmeses para atenuar o risco de novos rompimentos. Em Mariana, a inoperância do poder público e a força da Vale protelam o pagamento das multas aplicadas e das indenizações. Ninguém foi preso.
Abalada economicamente, a cidade perdeu 30% da arrecadação e conta com uma taxa de desemprego de 18%. Afora o bairro Novo Bento, que deve começar a ser entregue aos residentes de Bento Rodrigues que perderam suas casas, os gastos de de R$ 4,4 bilhões da Fundação Renova, criada para atender às vítimas, poucas chegaram à cidade. A reclamação é do prefeito Duarte Júnior (PPS). "O alerta para o pessoal de Brumadinho é que não se fiem em promessas. Com a Vale tem que ser tudo no papel, documentado", diz Duarte. Se nada de eficaz for feito, o Rio Doce, poluído até a foz, deve começar a se recuperar só daqui a 100 anos, estimam biólogos.
"Como se não bastasse, ficou comprovado que os métodos de monitoramento de barragens usados por mineradoras e órgãos ambientais são, definitivamente, ineficientes. "Um acidente pode ser possível. Três em menos de 5 anos, não", diz Bruno Milanez, especialista em política ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele se refere ao colapso de uma barragem da mineração Herculano, em Itabirinto (MG), em setembro de 2014. Com três mortos, o acidente foi quase esquecido, mas guarda as mesmas características de Mariana e Brumadinho, só que em proporções menores.
Estudos apontam que 37 estruturas estão comprometidas em Minas Gerais, mas esse número deve ser maior, já que a barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, não estava na lista. Especialistas alertam há anos, em vão, que o método para erguer essas estruturas deve ser revisto. Em Mariana, Brumadinho e Itabirito, as paredes de terra compactadas eram erguidas e ampliadas por alteamento à montante, ou seja, em que a terra é jogada, à partir do topo da barreira, sobre a lama e a areia retidas em seu interior. O método é mais barato e veloz, porém pode gerar instabilidade.
Um documento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad), de 2016, indicou que essa tecnologia foi empregada em 53 barragens em Minas Gerais, 27 delas da Vale. O que torna isso mais vergonhoso é que essa empresa declarou, na segunda-feira, 28, não saber quantos de seus diques foram erguidos dessa forma. O documento da Semad afirma que estruturas à montante possuem "maior risco de ruptura". No Chile, essa técnica foi banida, enquanto na Europa e EUA é empregada com restrições há décadas.
A barragem do Córrego do Feijão foi erguida em 1976 e passou por uma dezena de elevações, indo de 18 para 87, até colapsar. Esse temor agora reforçado faz com que a prefeitura de Congonhas (MG) tente impedir na Justiça a elevação da Barragem Casa de Pedra, da CSN, que fica a 300 metros da cidade e é quatro vezes maior que a do Córrego do Feijão. Em maio, Carlos Barreira Martinez, o professor de Engenharia Hidráulica da Unifei, alertou: "Não se pode altear mais do que três metros por ano, mas no Brasil tudo pode".
Para piorar, a geografia contribuiu para os desastres. O mar de morros nos planaltos do Sudeste facilita o armazenamento de rejeitos em barragens erguidas entre encostas. A solução é mais barata que os reservatórios erguidos em locais mais planos. O problema é que, após o rompimento, a inclinação dá velocidade à lama, criando uma inundação que arrasta tudo pela frente. Foi o que ocorreu em Mariana, Brumadinho e perturba o sono de quem vive em Congonhas. "Perdi casa, carros e meu comércio, mas eu e minha mulher escapamos. Não dormi mais direito e tive que votar marca-passo", diz José do Nascimento de Jesus, 73 anos, sobrevivente de Bento Rodrigues. Zezinho do Bento, como é conhecido, lamenta por Brumadinho. Ele acredita que os sobreviventes vão passar pelo mesmo que ele tem passado. Sua nova casa foi prometida para este ano - ou para o ano que vem. Nunca se sabe"
Abalada economicamente, a cidade perdeu 30% da arrecadação e conta com uma taxa de desemprego de 18%. Afora o bairro Novo Bento, que deve começar a ser entregue aos residentes de Bento Rodrigues que perderam suas casas, os gastos de de R$ 4,4 bilhões da Fundação Renova, criada para atender às vítimas, poucas chegaram à cidade. A reclamação é do prefeito Duarte Júnior (PPS). "O alerta para o pessoal de Brumadinho é que não se fiem em promessas. Com a Vale tem que ser tudo no papel, documentado", diz Duarte. Se nada de eficaz for feito, o Rio Doce, poluído até a foz, deve começar a se recuperar só daqui a 100 anos, estimam biólogos.
"Como se não bastasse, ficou comprovado que os métodos de monitoramento de barragens usados por mineradoras e órgãos ambientais são, definitivamente, ineficientes. "Um acidente pode ser possível. Três em menos de 5 anos, não", diz Bruno Milanez, especialista em política ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele se refere ao colapso de uma barragem da mineração Herculano, em Itabirinto (MG), em setembro de 2014. Com três mortos, o acidente foi quase esquecido, mas guarda as mesmas características de Mariana e Brumadinho, só que em proporções menores.
Estudos apontam que 37 estruturas estão comprometidas em Minas Gerais, mas esse número deve ser maior, já que a barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, não estava na lista. Especialistas alertam há anos, em vão, que o método para erguer essas estruturas deve ser revisto. Em Mariana, Brumadinho e Itabirito, as paredes de terra compactadas eram erguidas e ampliadas por alteamento à montante, ou seja, em que a terra é jogada, à partir do topo da barreira, sobre a lama e a areia retidas em seu interior. O método é mais barato e veloz, porém pode gerar instabilidade.
Um documento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad), de 2016, indicou que essa tecnologia foi empregada em 53 barragens em Minas Gerais, 27 delas da Vale. O que torna isso mais vergonhoso é que essa empresa declarou, na segunda-feira, 28, não saber quantos de seus diques foram erguidos dessa forma. O documento da Semad afirma que estruturas à montante possuem "maior risco de ruptura". No Chile, essa técnica foi banida, enquanto na Europa e EUA é empregada com restrições há décadas.
A barragem do Córrego do Feijão foi erguida em 1976 e passou por uma dezena de elevações, indo de 18 para 87, até colapsar. Esse temor agora reforçado faz com que a prefeitura de Congonhas (MG) tente impedir na Justiça a elevação da Barragem Casa de Pedra, da CSN, que fica a 300 metros da cidade e é quatro vezes maior que a do Córrego do Feijão. Em maio, Carlos Barreira Martinez, o professor de Engenharia Hidráulica da Unifei, alertou: "Não se pode altear mais do que três metros por ano, mas no Brasil tudo pode".
Para piorar, a geografia contribuiu para os desastres. O mar de morros nos planaltos do Sudeste facilita o armazenamento de rejeitos em barragens erguidas entre encostas. A solução é mais barata que os reservatórios erguidos em locais mais planos. O problema é que, após o rompimento, a inclinação dá velocidade à lama, criando uma inundação que arrasta tudo pela frente. Foi o que ocorreu em Mariana, Brumadinho e perturba o sono de quem vive em Congonhas. "Perdi casa, carros e meu comércio, mas eu e minha mulher escapamos. Não dormi mais direito e tive que votar marca-passo", diz José do Nascimento de Jesus, 73 anos, sobrevivente de Bento Rodrigues. Zezinho do Bento, como é conhecido, lamenta por Brumadinho. Ele acredita que os sobreviventes vão passar pelo mesmo que ele tem passado. Sua nova casa foi prometida para este ano - ou para o ano que vem. Nunca se sabe"
A matéria acima foi retirada da revista ISTOÉ - n° 2562, págs. 52 e 53. Todos os direitos autorais são reservados exclusivamente à revista ISTOÉ e à Editora Três.
SUGESTÃO
Abaixo, vídeo do noticiário que mostra a ruptura da barragem de Itabirito, em Minas Gerais, que matou 3 dos 4 trabalhadores soterrados pela lama de rejeitos em 2014. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.
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