CONHECIMENTO CEREBRAL:
EDITORIAIS & ARTIGOS

É A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL?


Por: Wilma Gryzinski

Começo de ano e as previsões fáceis de ridicularizar se repetem. Políticos e aviões cairão; terremotos, furacões e falsos profetas assolarão o planeta; a morte de alguém muito importante trará grande instabilidade. E tudo, naturalmente, nos levará mais para perto do abismo final, o fim dos tempos que ronda a humanidade desde que seus filhos primevos começaram a produzir narrativas sobre a criação do mundo. Como tudo que começa acaba, ou talvez porque a consciência de nossa finitude seja tão angustiante que fantasiemos secretamente levar todo o resto conosco, espetacular sobre o Grande Dilúvio, o Apocalipse ou o Big Crunch é quase obrigatório da condição humana. Os meios para chegar ao fim em geral obedecem a três categorias: ira divina, catástrofe cósmica ou, muito mais interessante para os livros e filmes de ficção científica, desastres causados por nossa própria e descontrolada busca do conhecimento. O espectro da autodestruição avançou em nossa consciência desde 22 de dezembro de 1938, quando os químicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann cindiram um núcleo de urânio pela primeira vez. Todo mundo sabe o que aconteceu sete anos depois, em Hiroshima. (Hahn pensou em suicídio).

Guerra nuclear, fim do mundo, a humanidade por um fio, soam como terrores de cientistas arrependidos ou maluquices de seitas milenares. Acontece que falaram recentemente sobre a possibilidade de uma terceira guerra mundial duas autoridades com boas credenciais: o papa Francisco (mais adiante voltaremos a ele) e Elon Musk, um dos gênios visionários da era digital. Atualmente, Musk aposta uma parte de seus 13 bilhões de dólares em carros elétricos e viagens espaciais. O que pensa: é bastante possível que haja uma guerra mundial, com um grau de destruição jamais visto (fora daqueles livros e filmes) e a consequente revolta contra todas as tecnologias. Por isso, é preciso tentar já a colonização de Marte, a única esperança de sobrevivência humana. Mais um enlouquecido pelos deuses por ter conseguido tanto e tão rapidamente? Pois Musk é um dos colaboradores do esplendidamente chamado Centro de Estudos de Risco Existencial, de Cambridge, que tem a missão de investigar e mitigar os perigos potenciais de que novas tecnologias escapem ao controle e ameacem a continuidade da espécie humana.

Voltando ao papa, como prometido. Depois dos atentados de novembro passado, em Paris, ele disse: 'Já entramos na terceira guerra mundial, só que se combate com prestações, em capítulos'. Havia recorrido a palavras similares ao falar nos horrores do Iraque sob domínio do Estado Islâmico. O uso da expressão terceira guerra mundial é extraordinário porque os papas em geral, e este em particular, estão no centro das profecias, sejam biblicamente canônicas, apócrifas ou folclóricas, sobre o fim dos tempos. Judaísmo e cristianismo (e também o islamismo, a seu modo) são religiões literalmente messiânicas, que esperam a instauração de um reino divino. Isaías, Ezequiel, Daniel e, no Novo Testamento, São João de Patmos formam o núcleo dos profetas que construíram os nossos conceitos sobre o apocalipse. Ideias retomadas pelos propagandistas do Estado Islâmico num vídeo recente, simulando o ataque final das forças muçulmanas contra "Roma" - entre aspas porque representa a Igreja da época das Cruzadas, não a atual, dos papas que visitam mesquitas e imploram pela concórdia entre as religiões. Para não fugir ao espírito de começo de ano, segundo as profecias não oficialmente reconhecidas de São Malaquias, um bispo irlandês do século XII, que em 112 curtas e crípticas frases em latim prognosticam todos os papas a partir de Celestino II (1143-1144), o argentino Jorge Bergoglio, filho de imigrantes italianos, chamado de Petras Romanus, será o último da linhagem. 'Governará durante perseguição extrema contra a Santa Igreja Romana. Pedro Romano apascentará suas ovelhas em meio a muitas tribulações, e quando estas coisas terminarem, a cidade das sete colinas estará destruída e o suspeito juiz julgará seu povo.Fim'.

Pelo menos até 2017.


ARTIGO retirado da revista VEJA - edição 2 459 - ano 49 - nº 1, pág. 23. 6 de janeiro de 2016. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog