AVIÕES: O QUE AS CATÁSTROFES AÉREAS ENSINAM?


Aviões, o meio de transporte considerado o mais seguro do mundo. Com alta tecnologia e profissionais de ponta, muito investimento em dinheiro e mão de obra, fazem esses gigantes dos céus serem difíceis na queda. Isso, claro, literalmente. Mas, nem tudo são flores na aviação. Não adianta ter aviões cada vez mais tecnológicos, se não há capacitação adequada e claro, treinamento que ajudem os pilotos a resolver problemas e obstáculos que possam aparecer. 
Em 2018, registrou-se 556 mortes devido a acidentes aéreos,  sendo 15 deles envolvendo aviões de passageiros, segundo um relatório da organização holandesa Aviation Safety Network (ASN). Apesar disso, o ano passado foi o terceiro ano mais seguro no ranking da mesma organização. Segundo a empresa de consultoria em aviação To70, a proporção de acidentes fatais envolvendo voos comerciais de passageiros é de 0,36 para cada 1 milhão de voos, o equivalente a um acidente fatal para cada 3 milhões de voos. Um número positivo para a indústria da aviação, já que, se o índice tivesse permanecido o mesmo de 10 anos atrás, teríamos tido 39 acidentes fatais no ano de 2018, o que mostra um enorme progresso quanto a redução de acidentes do gênero.
Uma das principais preocupações de segurança de voo, é a perda de controle do voo (LOC, na sigla em inglês).


Acidentes deste tipo são geralmente provocados pelo desvio irreversível da trajetória de voo prevista, causado por falha mecânica, ações humanas (erro de pilotos, mecânicos, engenheiros, dentre outros) ou interferências ambientais (tempestades, turbulências fortes provocadas por condições climáticas extremas, etc.).
O fator que mais contribui para a queda de aeronaves é o erro humano, que em números, é de 80% as causas envolvendo acidentes aéreos. Os outros 20%, são decorrentes a outros tipos de falhas, como já citados, que podem ser por falha mecânica ou interferências ambientais.
Mas a melhor forma de evitar tais situações é claro, muita tecnologia, capacitação de todos os profissionais para se adequar à ela, e também, correção de eventuais falhas. Por isso, a investigação dos acidentes é de total importância. A partir delas, pode-se descobrir possíveis falhas e como elas devem ser corridas, para evitar novas tragédias.

AIR FRANCE 447: FALHAS HUMANAS FATAIS


Acidente: Queda de aeronave no oceano
Local: Oceano Atlântico, perto do arquipélago de São Pedro e São Paulo
Data do acidente: 1 de junho de 2009 (31 de maio de 2009)
Causa: Obstrução dos tubos pitots. Confusão entre os pilotos e comandos inapropriados que levaram ao estol
Companhia: Air France
Aeronave: Airbus A330-203
Número de mortos: 228

Era noite do dia 31 de maio de 2009, aproximadamente 19h29 minutos, quando o Voo Air France 447 decolou do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino ao Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, Paris. No Airbus A330, haviam 228 pessoas a bordo, sendo 216 passageiros e 12 tripulantes. No comando do avião, haviam três pilotos: Marc Dubois, de 58 anos (o mais experiente e capitão); David Robert, 37 anos (1º oficial/co-piloto) e Pierre Cedric Bonin (oficial/co-piloto). Os três pilotos iriam se revezar no comando da aeronave durante as horas que se seguiriam até o destino final do voo, na França. 
Tudo transcorria normal no avião, que durante à noite, atravessaria o Oceano Atlântico. O último contato com a tripulação foram mensagens rotineiras dos pilotos aos controladores de terra no Brasil, após 3 horas e 06 minutos do início do voo. Nessa altura,  a aeronave se aproximava do limite de vigilância dos radares brasileiros, cruzando o Oceano Atlântico seguindo para a costa senegalesa, na África Ocidental, onde deveria voltar aos controles do Senegal. Contudo, quarenta minutos após o último contato, uma série de mensagens automáticas emitidas pelo ACARS (Aircraft Communications Addressing and Reporting System ou Sistema Dirigido de Comunicação e Informação da Aeronave) enviadas diretamente pelo avião aos controladores, indicando problemas elétricos e de perda de pressurização da cabine (bombeamento de ar da cabine/oxigenação), entretanto, sem que nenhum dos pilotos tivessem comunicado aos controladores problemas na aeronave.
Por não se saber exatamente o que estava acontecendo ou tivesse acontecido com avião, onde não constaram-se aparição do mesmo nos radares senegaleses e não ter sido possível contato com a tripulação em nenhum dos dois lados do Oceano Atlântico, de controle aéreo, iniciou-se a busca pela aeronave. Aquela altura, o Arbus A330 do Voo 447 da Air France estava oficialmente desaparecido.
O avião não chegou ao Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, às 10h34 do dia 1º de junho de 2009, como estava previsto, e as autoridades já presumiam que ele havia caído, sem nenhuma causa confirmada. Inicialmente, as suspeitas é que ele havia sido abatido por um míssil ou explodido por uma bomba. Entretanto, nenhuma das duas suspeitas foram confirmadas.
Com equipes de buscas da França, EUA e de outros países, como o Brasil, em terra e no ar. Os primeiros destroços do Airbus só foram localizados dois dias depois do acidente, por equipes de busca brasileiras. Contudo, pouco se obteve do avião. As buscas seguiram-se durante os dias posteriores, por mais destroços e vítimas (possíveis sobreviventes).
Seis dias após o desaparecimento do avião, encontrou-se dois corpos de homens, além de pertences dos passageiros e assentos da aeronave da Air France. Dois dias depois, já haviam sido recuperados 24 corpos, e outros pequenos destroços do avião.
No 26º dia de buscas, foram anunciados o encerramento das operações de resgate, já que nos últimos nove dias anteriores, não haviam sido encontrados nenhum corpo ou mais destroços da aeronave. Naquele momento, 51 corpos já haviam sido encontrados e cerca de 600 peças do avião haviam sido recuperadas, mas não se tinha ideia do que poderia ter provocado o acidente. As equipes se concentravam principalmente, nas buscas pelas caixas pretas, principal objeto de investigação.
Em 4 de abril de 2011, cerca de dois anos após o acidente, equipes de busca e resgate francesas anunciaram a descoberta de mais destroços do avião em meio ao Oceano Atlântico, e de corpos ainda presos a uma grande parte da fuselagem encontrada praticamente intacta. A descoberta deu esperanças de encontrar as caixas pretas da aeronave.
As caixas pretas foram encontradas dias depois próximas aos destroços encontrados inicialmente.
Após a análise do material coletado das caixas pretas, a investigação concluiu que, após passar por uma tempestade naquela noite, os tubos de pitots congelaram-se por alguns segundos, que registram a velocidade do avião. Após o ocorrido, rapidamente os pitots descongelam-se, e com isso, bastaria que os pilotos deixassem o avião como estava. Entretanto, o co-piloto Bonin colocou o nariz do avião para cima, o que causaria uma perda de sustentação e posteriormente, um estol. O piloto automático desligou-se após o evento. Confusos, David Robert, que também estava no comando da aeronave, tentou puxar o nariz do avião para baixo, tentando estabilizá-lo. Mas Bonin, continuava a puxar o manche do avião para cima, e com isso, o comando de Robert foi nulo, deixando o avião ainda com o nariz para cima, e em estol, já em queda em alta velocidade. Quase no fim, o capitão Marc Dubois, que havia ido descansar, ainda confuso com o que estava acontecendo, tentou estabilizar o avião, mas àquela altura não tinha mais jeito e o Airbus A330 mergulhou em queda livre ao oceano.
Nenhum dos 216 passageiros e 12 tripulantes sobreviveram ao acidente.
A investigação final concluiu que, houve cinco fatos que contribuíram para a queda da aeronave:
  • inconsistência temporária das velocidades medidas pelos tripulantes (pelo congelamento temporário dos tubos de pitots).
  • comandos inapropriados aplicados, desestabilizando o avião (o co-piloto Pierre Cedric Bonin, erroneamente, colocou o nariz do avião para cima, quando na verdade, deveria apenas deixá-lo como estava).
  • falta de informação entre os tripulantes entre a perda de velocidade e procedimento adequado (não havia comunicação adequada entre David Robert e Pierre Cedric Bonin, e posteriormente, o capitão Marc Dubois).
  • Demora da identificação pelo co-piloto da alteração na trajetória da aeronave (falta de comunicação e procedimento adequado).
  • Falha da tripulação em identificar a aproximação do estol (perda da sustentação da aeronave no ar, ocasionando a queda).
Por fim, concluiu-se que vinte e cinco novas recomendações de segurança em voo deveriam ser apresentadas e acrescentadas pelo departamento de investigação francês (BEA). Dentre eles, treinamento dos pilotos para situações como essas.
Em abril de 2014, um complemento à investigação inicial informou que a queda do Airbus A330 da Air France deveu-se pela "reação inadequada da tripulação após a perda momentânea das indicações de velocidade".
Ou seja, o acidente do Voo Air France ocorreu principalmente, pela falha humana, onde os pilotos não tiveram boa comunicação e não souberam lidar adequadamente com aquela situação. Um acidente que poderia ter sido evitado, já que os tubos pitots congelaram-se por poucos segundos. Houve a recomendação pela substituição dos mesmos, pois isso já tinha acontecido com outras aeronaves, mas sem risco de representar riscos aos voos.



SUGESTÃO

Sugerimos que você assista ao documentário da National Geographic, que traz informações sobre o Voo 447 da Air France, e as causas que levaram ao desastre. As imagens são do YouTube e o idioma é o português.


SUGESTÃO PARA LEITURA

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