SAÚDE


"MÉDICOS AMERICANOS INDICAM MAMOGRAFIA BIENAL APÓS OS 50"
"Grupo influente de especialistas reforçou que benefícios do exame de rotina são maiores entre mulheres de 50 a 74 anos"


Por: Mariana Versolato
        EDITORA-ASSISTENTE DE "COTIDIANO"

"Recomendação gera debate e diverge da de sociedade médicas que indicam o exame anual a partir dos 40 anos.
Um grupo de cientistas e pesquisadores ligados ao governo americano trouxe novamente à baila o debate sobre a partir de quando e com que frequência as mulheres devem fazer mamografias.
E reforçaram que a mamografia de rotina seja feita a cada dois anos por mulheres entre 50 e 74 anos.
A indicação é baseada em extensa revisão de estudos e também em consulta pública. Alguns fatores para explicar a faixa etária escolhida são o fato de o risco de câncer ser maior nessa faixa etária e de o exame ser capaz de visualizar melhor alterações em mamas de mulheres mais velhas, que têm mais gordura e menos tecido glandular.
Para as mulheres entre 40 e 49 anos, a decisão de fazer o exame de rotina deve ser individual e tomada com o médico, diz o painel de especialistas. Nessa faixa, a mamografia a cada dois anos também pode reduzir mortes por câncer, mas a chance de obter benefícios é menor e os possíveis danos, como falsos-positivos, são maiores.
Para mulheres acima de 75 anos, o painel diz que os benefícios do exame não estão claros. O grupo também conseguiu chegar a conclusão alguma quanto à mamografia 3D, analisada pela primeira vez por eles. Sem evidências científicas, não é possível indicar o exame na prática clínica, dizem.
'O papel do U.S. Preventive Servises Task Force nessas discussões é empoderar mulheres com os melhores danos científicos sobre os benefícios e danos da mamografia de rotina, para que elas possam tomar uma decisão informada com seus médicos', diz o editorial do grupo.
As recomendações são diferentes das lançadas em outubro do ano passado pela Sociedade Americana do Câncer. A entidade passou a indicar o exame anualmente dos 45 aos 54 anos. A partir da mamografia a cada dois anos enquanto forem saudáveis e tiverem expectativa de vida de mais dez anos.
O próprio Task Force comentou a diferença e disse que especialistas podem interpretar os estudos de forma diferente, mas que espera que ambas as diretrizes possam facilitar o diálogo entre mulheres e médicos."


"REALIDADE"

"Na prática clínica por aqui, especialmente na medicina privada, a realidade difere do que preconiza o U.S. Task Force. O exame costuma ser feito mais frequente e precocemente.
Sociedades médicas brasileiras, como a de mastologia e radiologia, recomendam o exame anual, a partir dos 40.
Segundo Gil Facina, professor da disciplina de mastologia da Unifesp, o rastreamento precoce aumenta as chances de cura e, portanto, reduz a mortalidade.
'O que muitos estudos discutem é o custo do diagnóstico. O exame em mulheres mais velhas leva a menos biópsias desnecessárias. O exame bienal a partir dos 50 cobre a maioria dos casos, porque depois da menopausa o risco é maior. Você investe menos dinheiro e acha mais câncer', diz.
Para Arn Migowski, médico sanitarista e epidemiologista do Inca (Instituto Nacional do Câncer), o exame de rotina anual é uma questão cultural que precisa ser desconstruída.
'Existe uma tradição de fazer exames de rotina anuais mesmo com estudos mostrando que nem sempre há benefícios. A ideia está presente tanto entre os profissionais médicos quanto na população; um alimenta o outro', afirma. Segundo ele, mesmo no SUS até metade das mamografias de rotina é feita fora da população alvo.
A tendência mundial, diz Migowski, é reduzir o excesso de exames desnecessários.
'Nos EUA isso tem diminuído. A Sociedade Americana de Câncer já previu menos exames. No Brasil, porém, persiste esse mito de que não tem riscos e só salva vidas'."


CÂNCER DE MAMA E EXAMES PREVENTIVOS
TIRE SUAS DÚVIDAS

As recomendações do grupo americano valem para todas as mulheres?
Não. Elas valem para mulheres acima de 40 anos que não têm sinais ou sintomas de câncer de mama, que nunca tiveram a doença ou de lesões precursoras do câncer ou para as mulheres com risco elevado de desenvolver o câncer.

Como sei se tenho risco elevado de desenvolver câncer de mama?
Os fatores incluem diagnóstico anterior de câncer de mama e lesões de alto risco, histórico familiar, mutações genéticas nos genes BRCA1 e BRCA2 e histórico de radiação no peito quando mais jovem. Eles devem ser discutidos com o médico para que se determine quando começar a fazer a mamografia.

O que os médicos americanos propõem que as mulheres na faixa dos 40 anos façam?
O painel recomenda que a decisão nesse caso seja individual e discutida com os médicos, já que o risco nessa fase é menor e os riscos de malefícios por causa dos exames são maiores.

Por que o U.S. Task Force recomenda o exame a cada dois anos, e não anualmente?
Os estudos avaliados pelo grupo não mostram benefícios em encurtar o intervalo entre os exames. No Reino Unido, a mamografia chega a ser recomendada a cada três anos.

Mas qual é o problema de fazer mamografia? Não é sempre melhor encontrar um câncer mais cedo?
Apesar dos possíveis benefícios, também há danos em potencial. O mais sério é o chamado 'excesso de diagnóstico', quando a mulher recebe o diagnóstico e tratamento para um câncer que nunca ameaçaria sua vida. O dano mais comum é um resultado falso-positivo, mais comum em mulheres com menos de 50 anos - o exame sugere que a mulher tem câncer quando na verdade ela não tem.


Informações retiradas do jornal FOLHA DE S. PAULO - Edição digital - Ano 95 - nº 31.696, pág. B6. 13 de janeiro de 2016 quarta-feira (Acesso: 13/01/2016)

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